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Falta de acesso a diagnóstico e tratamento causa aumento nos casos de hepatites virais no mundo

Cássia Mendes Correa comenta dados da OMS, segundo os quais as taxas globais estão em cerca de 3,5 mil vítimas fatais por dia e 1,3 milhão por ano

22 Mai 2024 - 07h30Por Julio Silva*/Jornal da USP no Ar
O Brasil é privilegiado porque tem uma política de saúde pública que pretende oferecer terapêutica para todos que tiverem possibilidade de procurar uma instituição da rede pública - Crédito: FreepikO Brasil é privilegiado porque tem uma política de saúde pública que pretende oferecer terapêutica para todos que tiverem possibilidade de procurar uma instituição da rede pública - Crédito: Freepik

As mortes por hepatites virais estão aumentando em todo o mundo e esse conjunto de doenças já é a segunda principal causa infecciosa de óbitos no planeta, atrás apenas da tuberculose. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as taxas globais estão em cerca de 3,5 mil vítimas fatais por dia e 1,3 milhão por ano. A professora Cássia Mendes Correa, da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo analisa o crescimento no número de casos dessas enfermidades e discorre sobre os possíveis motivos para esse cenário.

Cássia Mendes Correa – Foto: Arquivo Pessoal

 

Segundo a especialista, a hepatite é um termo muito amplo, que significa adoecimento por processo inflamatório das células hepáticas, ou seja, do fígado. Ela conta que existem muitos agentes infecciosos diferentes que causam hepatites, mas, quando são discutidas as hepatites virais, geralmente o foco são os chamados vírus hepatotrópicos, os quais têm uma afinidade mais específica pelo fígado quando causam doenças. São considerados nessa categoria, os vírus das hepatites A, B, C, D e E.

De acordo com a docente, além desses vírus, outros agentes infecciosos virais e não virais também podem causar inflamação hepática. O consumo de álcool e de alguns medicamentos também pode acarretar o surgimento de hepatite aguda e crônica. “Os vírus das hepatites A, B, C, D e E são cinco agentes completamente distintos e cada um deles tem um comportamento epidemiológico diferente, não existe uma única causa para explicar o aumento de casos ou o tamanho da importância desses vírus”, explica.

Problemas causados

Conforme Cássia, alguns desses vírus, como o da hepatite A, causam apenas uma doença aguda, na qual a infecção se desenvolve em poucas semanas e depois desaparece, sem deixar sequelas. Ela conta que em outros casos, como os provocados pelas hepatites B, C e D, além do quadro agudo, a inflamação também pode persistir por muito tempo e evoluir para a agressão do fígado, podendo levar ao surgimento de algumas complicações. 

“Essas doenças podem persistir por muitos anos, às vezes a vida inteira, evoluindo a agressão no fígado e provocando complicações crônicas extremamente graves, como o surgimento de cirrose hepática e carcinoma hepático, ou seja, do câncer de fígado. As hepatites virais, portanto, figuram entre as causas mais frequentes de transplantes hepáticos e representam importantes agravos em termos de saúde pública”, analisa. 

Transmissão e vacina

Por serem agentes infecciosos distintos, sua transmissão é variada e depende de cada tipo viral. Dentre esses fatores, destacam-se o consumo de água e alimentos contaminados (hepatite A), relações sexuais desprotegidas (hepatite B , C, delta), contato com sangue contaminado (hepatite B , C, delta) ou de mãe para filho durante a gestação ou  amamentação (mais frequente na hepatite B). Por essas razões, a disseminação dessas enfermidades é variada em todo o mundo, mas, de forma geral, é mais comum em países subdesenvolvidos e em populações mais vulneráveis, nas quais as condições de higiene e saneamento básico são escassas e o conhecimento dos métodos de prevenção é baixo.

De acordo com a docente, existem vacinas disponíveis para algumas dessas doenças, mas muitas pessoas não têm acesso a elas e aos tratamentos disponíveis. Ela explica que já foram desenvolvidas ótimas vacinas para as hepatites A e B, mas não existe imunização contra as hepatites C, D e a vacina contra a hepatite E ainda não apresenta resultados eficientes.

Conforme a professora, as infecções pelos vírus de hepatite B e C possuem tratamentos altamente eficazes e disponíveis, inclusive no Brasil, disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ela afirma, entretanto, que algumas regiões do País possuem falta de atendimento médico e dificuldade de acesso, por isso, os habitantes desses locais sequer descobrem que estão infectados e morrem antes de procurarem tratamento.

“Mas isso ocorre no mundo inteiro, o nosso país é privilegiado porque tem uma política de saúde pública que pelo menos pretende oferecer terapêutica para todos que tiverem possibilidade de procurar uma instituição da rede pública. Há países no mundo em que não só o medicamento não é disponível, como obviamente não é fornecido. Então, se eu fosse resumir duas grandes questões que impactam de forma negativa o controle dessas doenças seriam a falta de diagnóstico e de acesso ao tratamento”, esclarece.

Redução de casos

Segundo Cássia, se as organizações de saúde conseguissem disponibilizar os tratamentos a todas as populações do mundo, mesmo as mais carentes, seria possível eliminar as hepatites virais, ou seja, reduzir drasticamente o número de casos, de óbitos e de complicações de saúde. Ela destaca que essa eliminação é diferente de erradicação, a qual significa extinção completa de uma doença no mundo.

“Essa eliminação seria possível porque, para a maioria dessas doenças, existe vacina e tratamento. Então, se conseguíssemos oferecer para a população mundial o diagnóstico e tratamento de forma democrática e universal seria possível, através de modelos matemáticos comprova-se isso, eliminar as hepatites no mundo inteiro”, finaliza.

Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

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