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Apenas 19% das empresas no mundo atuam com gestão de conflitos por meio de profissionais externos

Confira as principais estratégias de gestão de conflitos apontadas por especialista

18 Abr 2024 - 16h00Por Daiana Barasa
Apenas 19% das empresas no mundo atuam com gestão de conflitos por meio de profissionais externos -

Conflitos podem ser vivenciados em todas as empresas, porém, nas empresas familiares o problema tende a se tornar mais intenso e complexo em comparação a outros tipos de negócio.

A 11ª edição da pesquisa Global Family Business Survey de 2023, realizada pela consultoria PwC, teve a participação de 2.043 gestores e proprietários de empresas familiares ao redor do mundo em 82 países e trouxe um dado importante:

– Globalmente, apenas 19% das empresas aplicam um mecanismo de resolução de seus conflitos por meio de terceiros.

Com ampla experiência no cenário corporativo, desempenhando papéis de conselheiro consultivo e consultor à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, Carlos Moreira tem dedicado sua trajetória a auxiliar empresas, com ênfase às familiares e hoje gostaria de tratar sobre as principais estratégias de gestão de conflitos na empresa familiar.

Principais conflitos na empresa familiar – Entenda

Dentre os principais motivos de conflitos nas empresas familiares, alguns se destacam, como:

  • Pais desejam que seus filhos assumam responsabilidade no negócio, mas um ou mais deles não demonstram interesse ou não possuem habilidades para o negócio;
  • Um dos irmãos se sente deixado de lado nas decisões empresariais ou tem a sensação de que trabalha mais do que seus irmãos e que, por isso, deveria ser mais reconhecido;
  • Conforme os filhos formam suas famílias, novos membros são trazidos para a dinâmica familiar, o que torna a gestão ainda mais complexa;
  • Filhos que não atuam no negócio desejam influenciar em decisões comerciais;
  • Divergências ocorrem no momento da escolha do sucessor da empresa;

Entre muitos outros.

Já para a especialista em inovação, Linda Hill, professora da Harvard Business School, os conflitos na empresa familiar podem ser classificados em quatro tipos:

Pequenas divergências – provenientes de visões distintas, que geralmente conseguem ser solucionadas com respeito e compromisso e, além disso, pode ser classificada como um debate saudável capaz de gerar novas ideias e oportunidades;

Litígios graves – quando pequenas divergências não são tratadas, pode escalar para esta categoria, resultado de diferenças ideológicas, de objetivos divergentes, neste quadro, o desrespeito e a culpabilização do outro são evidentes;

Desestabilizadores – neste estágio ocorrem divisões no negócio, o conflito de interesses se torna intenso e os membros sentem-se mergulhados em seus posicionamentos, o que os afasta da busca pela solução;

Guerra aberta – estágio mais grave de conflito que ameaça a existência da empresa e, geralmente neste nível, os relacionamentos estão arriscados a serem comprometidos de forma permanente.

A gestão de conflitos na empresa familiar é essencial e, por meio de estratégias bem aplicadas, é possível que os conflitos não passem das pequenas divergências como listado por Linda Hill.

Estratégias de gestão de conflitos na empresa familiar

Recentemente, discuti a relevância da governança familiar como instrumento de geração de valor aos negócios e para a implementação de estratégias mais eficazes.

Muitas empresas familiares têm adotado medidas como acordo familiar, conselho familiar e ainda regras de governança que fazem o intermédio entre a família e a empresa, prevenindo disputas e conflitos que coloquem em risco os relacionamentos e o próprio negócio.

Vamos às principais estratégias para a gestão de conflitos na empresa familiar?

Comunicação transparente

A base de qualquer relacionamento é a boa comunicação e isso não é diferente no caso dos relacionamentos na empresa familiar.

Canais de comunicação claros e acessíveis precisam estar presentes na dinâmica da empresa e podem ser representados de diversas maneiras como através de reuniões regulares, tanto formais quanto informais em que as questões ligadas à empresa e família podem ser discutidas livremente.

A transparência também envolve o compartilhamento de informações relevantes de maneira clara e acessível a todos os membros, o que evita especulações, promovendo um ambiente de maior confiabilidade. Além disso, a transparência na comunicação também viabiliza melhorias nas tomadas de decisões.

Profissionalização da gestão

Foi mencionado acima o acordo familiar como um método para prevenir conflitos entre membros da família. Esse recurso trata de divergências inevitáveis que, se não puderem ser resolvidas internamente, podem ser conduzidas por terceiros “neutros”, nomeados em consenso pelos membros da família para resolver os conflitos.

A profissionalização da gestão é fundamental para garantir a sustentabilidade e o crescimento da empresa, o que envolve a contratação de profissionais externos, com ampla experiência e qualificações adequadas às necessidades do negócio.

A adoção de um conselho consultivo é um passo inicial importante para a implementação de práticas de governança corporativa e ESG e, especialmente para a separação clara dos interesses familiares dos interesses empresariais com base em critérios objetivos.

É relevante destacar que essa abordagem profissional não apenas impulsiona a eficiência operacional, mas também estimula a inovação e assegura a perenidade dos negócios ao longo das gerações.

Mediação e resolução de conflitos com apoio externo

Como já mencionado em tópicos anteriores, recorrer a profissionais externos que sejam imparciais é uma das principais medidas para a gestão de conflitos na empresa familiar em que todos os membros são convidados a participar do processo.

Dependendo do nível de conflito, as dificuldades para que se consiga integrar todos os membros são maiores, mas vale o alerta de que no processo de mediação não se pode excluir nenhum membro ou não estará sendo executado da maneira como deveria.

Desenvolvimento de uma cultura organizacional fortalecida

Uma estratégia adicional para lidar com conflitos em empresas familiares é reforçar a cultura organizacional, promovendo tanto os valores familiares quanto os valores da empresa. Isso cria um senso de identidade fortalecido que serve como referência em momentos de adversidade.

Quando todos compartilham o propósito, os valores familiares e os objetivos futuros da empresa torna-se mais simples lidar com situações de tensão que podem surgir entre os membros ao longo da jornada da empresa.

Vivenciar conflitos é inevitável, mas é possível contornar a situação com ações imediatas

Em meus atendimentos a inúmeras empresas familiares, já presenciei diferentes contextos, sendo um dos mais recorrentes, a demora por parte do negócio a procurar apoio especializado.

É comum que os gestores procurem apoio diante de um problema de gestão financeira, pessoalmente já precisei lidar com casos em que ao me aprofundar na história e realidade da empresa, percebi que a principal necessidade era tratar os conflitos de interesse familiar, as questões de desavenças, falta de comunicação entre os membros da família, entre outros fatores.

Muitas empresas acreditam que podem postergar a resolução de seus conflitos e, com essa mentalidade, podem chegar a um estágio avançado de desentendimentos complexo de ser tratado e com riscos de afetar a longevidade da empresa.

É crucial que fundadores e herdeiros atuem em conjunto e não ignorem seus problemas relacionais colocando-os em escala de menor importância em comparação aos problemas da empresa, afinal, embora sejam criados mecanismos de profissionalização que separem as fronteiras entre empresa e família, é impossível ignorar o valor do relacionamento interpessoal e alinhamento de interesses.

Ao primeiro sinal de desentendimentos, de falta de clareza diante de importantes decisões devido a opiniões divergentes, procure apoio especializado imediatamente e não ignore que: relacionamentos saudáveis são a base de empresas saudáveis e bem-sucedidas.


Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.

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