O primeiro presidente eleito indiretamente pelo Congresso Nacional, Deodoro da Fonseca, não terminou seu mandato. Inclinou-se para a renúncia. No limiar da República Nova, parecia que o país passaria experimentar um novo momento no seu quadro político e institucional, sepultando para sempre os desmandos que ocorriam em todo o território nacional. Mas não foi o que ocorreu.
O período foi de prosperidade, sem nenhuma dúvida. Mas, as conquistas não vieram acompanhadas das liberdades políticas. A República Nova inaugurada por Vargas ofereceu para a nação brasileira, o mais duro regime de força que havíamos presenciado até então. Ela matou com a sua infantaria e com os bombardeios aéreos milhares de brasileiros na Revolução de 32 que clamavam apenas pelo respeito à lei e à ordem democrática.
E não se contentou com a matança dos nossos irmãos. Ainda tinha mais novidades ruins para nos legar. Ela chegou em 1.937. Uma Constituição desnudou a face tirânica do nosso governante. Os pilares da democracia ruíram. Cederam lugar aos privilégios da barbárie. Essa enxurrada explícita de loucura venceu todo o período do regime militar, que antecedeu com o golpe de estado que retirou Jango da presidência.
Sob a égide do regime militar a nação passou a assistir cenas de horrores explícitos. Assassinatos, sevicias, maus tratos, torturas e perseguições políticas foram os grandes presentes que oferecemos para o mundo civilizado. Mas não pararam com esse festival. Silenciaram a imprensa, deixaram capenga a Justiça, liquidaram com a nossa intelectualidade e mandaram para o exílio as nossas principais lideranças políticas.
Com a Nova República o presidente eleito Tancredo Neves tinha credencial para ditar um novo rumo de esperança para a nação. Mas não avançou. Ela já nasceu doente com a própria doença que o impediu de governar. Sua morte inesperada selou o seu destino. Não iria mudar nada. Tínhamos razões suficientes para acreditar nesse propósito. Sarney que assumiu a presidência não estava preparado para o grande desafio. Ao invés de governar foi governado.
A vida democrática continuava um enigma. A cassação do mandato do primeiro presidente democraticamente eleito após o regime militar a enfraqueceu, sobremaneira. Agora, outra presidente está afastada do cargo por ter cometido supostamente crime de responsabilidade, que ainda precisa ser julgada pelo senado. O nosso Congresso tem seus principais líderes envolvidos em atos danosos de corrupção.
Um quadro triste e vergonhoso. 2018 é a nossa grande esperança. O presidente a ser eleito precisa sepultar a Nova República e dizer para a nação que nasceu uma outra República, a República Cidadã. Aquela em que a população exteriorizou nas ruas o seu protestos, a sua indignação, o seu repúdio a tudo o que conspurca a honra e a dignidade da nação. Estava exteriorizado o clamor pleno da cidadania. E essa a onda que será o grande divisor entre as coisas ruins do passado, e as boas que haverão de surgir.
A nação precisa ser a principal protagonista desse momento histórico. Essa nova fase republicana será o início benfazejo para acabar de vez com a roubalheira. O respeito pela Justiça, pela liberdade de imprensa, o amor pela nossa bandeira, pelo nosso hino, o zelo pelas nossas tradições e pela nossa história e ainda o culto aos nossos antepassados serão outros tantos pilares que o futuro presidente poderá se respaldar para que todos nós possamos sentir que somos cidadãos brasileiros. A nação merece essa oportunidade. Esse é o discurso que queremos ouvir do futuro presidente da República.
Promotor de Justiça aposentado. e-mail: [email protected]