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Editorial

Previsão Negativa

19 Jul 2011 - 06h38
Previsão Negativa -
No momento em que o governo brasileiro começa a definir os preparativos paraa Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), onde serão debatidos os projetos que geram riquezas e distribuem renda sem ferir o meio ambiente, o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulga documento onde afir-ma que o desmatamento deverá aumentar na floresta amazônica entre julho deste ano e agosto de 2012.

Números do Ima-zon estimam a derrubada de 7.134 quilômetros quadrados de floresta nesse período com base na atual taxa de desmata-mento, medida entre agosto de 2009 e julho de 2010, que ficou em 6.451 quilômetros quadrados. A previsão do Imazon não é alarmista, mesmo porque somente no mês de maio o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou desmatamento de 268 quilômetros quadrados, ou seja, uma área 144% maior que a apurada no mesmo mês de 2010. Fica claro, portanto, que haverá mais destruição nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Ro-raima e Tocantins e parte do estado do Maranhão.

Como não poderia ser difrente, os Estados do Pará e de Mato Grosso concentram as florestas com maior risco de desmatamento, com as áreas com maior probabilidade de desmatamento estando localizadas ao longo da BR-320, a chamada Transamazônica, na região da Terra do Meio, e ao longo da BR-163, que liga Pará ao Mato Grosso e este último ao Mato Grosso do Sul até chegar no Porto de Paranaguá, no Paraná.

O Imazon revela ainda que os municípios com maior risco de desmatamento estão localizados na região em que será construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará: Pacajá, Altamira e São Félix do Xingu, com a maior parte das áreas vulneráveis localizadas em proprie-dades privadas ou em conflitos por posse. A situação é crítica, tanto que o Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter) revela que em maio a floresta foi destruída em 268 quilômetros quadrados, volume 44% menor que o registrado em abril, mas, por outro lado, 144% maior que o apurado no mesmo mês do ano passado.

Ao mesmo tempo em que não consegue conter o desmatamento da Amazônia Legal, o Ministério do Ambiente patina para tentar impedir a destruição do Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do Brasil e que vem sofrendo com a atuação desenfreada das carvoarias que, de acordo com números do próprio Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), devastam 14 mil quilômetros quadrados por ano para produção de carvão vegetação.

É inverossímil, mas o Cerrado, que ocupa 22% do território brasileiro, já perdeu quase 1 milhão de quilômetros quadrados de mata nativa, ou seja, 48% de sua cobertura total deixaram de existir para abrir novas áreas de pastagem, plantio de cana-de-açúcar para atender as usinas que se instalam, principalmente, no Centro-Oeste, e para atender as siderúrgicas que sustentam seus gigantescos fornos com carvão vegetal. A degradação do Cerrado é tão acentuada que somente entre os anos de 2002 e 2008 foram desmatados 85.075 quilômetros quadrados e, mesmo assim, os tais planos anunciados pelo Ministério do Meio Ambiente não conseguem conter a fúria das carvoarias, das usinas e de parte dos pecuaristas.

O mais grave é que, como já destruíram o que tinha para ser desmatado em regiões do Mato Grosso do Sul, Minas Ge-rais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí e o Distrito Federal, os inimigos do Cerrado agora estão concentrando os esforços destrutivos no oeste da Bahia, principalmente na divisa com Goiás e o Tocantins, bem como no norte de Mato Gros-so, onde estão as novas regiões produtoras de grãos e de carvão.

Ainda que seja obrigação de todos preservarem o Cerra-do, está missão recai com maior peso sobre os ombros do Ministério do Meio Ambiente já que a proteção do bioma é estratégica para que o governo brasileiro consiga cumprir as metas assumidas internacionalmente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Como nos últimos três anos foram destruídos cerca de 270 mil hectares de vegetação nativa de Mato Grosso do Sul, área equivalente a duas vezes o território da cidade de São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo, dificilmente, essas metas serão atingidas.

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