As últimas duas casas de rezas da Reserva de Dourados acabam de ser reconstruídas e estão prontas para serem inauguradas. Os trabalhos que duraram cerca de um ano contaram com ajuda de dentro e fora das aldeias. O objetivo é manter as tradições culturais nas terras dos Guaranis Kaiowás, cercada hoje por mais de 80 igrejas de origem não-indígena.
Denominada Gwyra Nhe’engatu Amba, a Casa de Reza centenária, administrada pelo casal de rezadores Getúlio Juca e Alda Silva foi destruída em julho do ano passado em um incêndio criminoso, segundo as lideranças. Cerca de 20 minutos bastaram para que o fogo consumisse o espaço sagrado, além de diversos instrumentos sagrados que eram armazenados na ogapysy, como é chamada a casa de reza.
Na época foram perdidos cocares, vestes tradicionais, takuapu’s e mbaraka’s – estes últimos, instrumentos utilizados por mulheres e homens nas cerimônias de reza. A comunidade também ficou abalada com a destruição de três antigos Xirus, altar com enorme significado espiritual para os Guarani Kaiowá e que, por isso, precisa ser tratado com muito cuidado.
Getulio disse que estava fazendo artesanato quando viu a fumaça e um homem que correu e se escondeu em um milharal. O rezador ainda tentou apagar o fogo, mas sem sucesso. Os Bombeiros estiveram no local, mas não chegaram a tempo de apagar as chamas que destruíram a estrutura tradicional, feita de madeira e coberta com palha de sapé.
Ao O PROGRESSO, a liderança contou que após um ano do incêndio o caso não foi resolvido pelas autoridades de segurança. Ele acredita que o crime seja uma resposta a atuação dele em prol de mais segurança na Reserva. Não soube opinar se a ação teria sido provocada por índios ou não-indios.
Getulio disse que a casa está pronta há cinco meses e que não foi inaugurada com uma grande celebração que a ocasião exige por conta das recomendações contra aglomeração por conta da pandemia da Covid-19. Mesmo assim ele adianta que vai restabelecer o Xiru no local sagrado no próximo dia 15 e que o espaço concentrará rezas dos familiares em prol da proteção da comunidade indígena.
Casa de reza Guarani
Há cerca de dois anos a Casa de Reza dos guaranis ruiu com a ação do tempo e após passar por várias explosões vindas de pedreira que fica na divisa com as terras indígenas. Construída com vigas de bambu e coberta (telhado e parede) com sapê, a casa foi ao chão. “A sustentação de bambu foi ficando frouxo até chegar no ponto de não resistir mais”, contou o cacique rezador Jorge da Silva.
Ele e a esposa Floriza Souza Silva, também rezadora, reuniram voluntários e com o apoio da Universidade Federal da Grande Dourados reconstruíram o espaço sagrado. As doações vieram de dentro e fora do País.
Reconstruída a casa servirá para ponto de encontro de reza dos indígenas da aldeia Jaguapiru. Também voltará a ser um dos pontos de artesanatos da aldeia. Além de receber a comunidade para tratamentos com as plantas medicinais e rezas para “espantar” doenças.