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Literatura

Como explicar os males do ser humano, esse desconhecido

Livro do professor da USP Jean Lauand traz reflexões sobre a realidade humana com base no pensamento clássico

27 Jun 2022 - 18h45Por Leila Kiyomura/Jornal da USP
"O Pensador", de Auguste Rodin, e o livro do professor Jean Lauand  - Crédito: Fotomontagem de Adrielly Kilryann com imagens de Wikipédia, Editora Enguaguaçu e Rawpixel"O Pensador", de Auguste Rodin, e o livro do professor Jean Lauand - Crédito: Fotomontagem de Adrielly Kilryann com imagens de Wikipédia, Editora Enguaguaçu e Rawpixel

“O brincar é necessário para uma vida humana.” A tese do filósofo Tomás de Aquino (1225-1274) é apresentada por Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da USP. Uma reflexão que pode sugerir o ser criança. Porém, conduz o leitor a observar a realidade do desconhecido ser humano.

Com essa frase, o professor inicia o primeiro de uma série de quatro artigos reunidos em Ensaios, primeiro volume que integra a Coleção Jean Lauand da Editora Enguaguaçu. São estudos, pesquisas e o exercício do pensamento que compõem a trajetória de quatro décadas desse pensador da USP.

Neste primeiro livro da coleção, Lauand traz para o contemporâneo desde Confúcio até Aristóteles, de Platão a Sartre, em um conhecimento sem fronteiras. Multidisciplinar, alia escritores e poetas como Shakespeare, Dante Alighieri, Guimarães Rosa e Fernando Pessoa. E atravessa o tempo para citar o líder espírita Chico Xavier como exemplo de humildade e amor.

“O homem deve brincar para levar uma vida humana, como também é no brincar que encontra a razão mais profunda da realidade.”

A leitura de Ensaios desperta o interesse por ideias e conceitos que estão no cotidiano, mas que passam despercebidos. O professor pensa junto com o leitor. Questiona, conversa e alarga o horizonte quando busca referências na teologia, filosofia, literatura, música e artes em geral.

“Deus brinca. Deus cria brincando. E o homem deve brincar para levar uma vida humana, como também é no brincar que encontra a razão mais profunda do mistério da realidade, que é porque é brincada por Deus”, escreve Lauand no ensaio O Deus Que Brinca: Fundamentos Lúdicos da Realidade, destacando a tese de Tomás de Aquino. “Num tempo como o nosso, em que alguns anteveem o fim da sociedade do trabalho, o fim da burocracia, o fim da racionalidade sem imaginação, Domenico de Masi, o profeta da sociedade do lazer – não por acaso napolitano; Tomás também era da região de Nápoles -, nos vem anunciar a importância do espírito lúdico, sem o qual não se constrói a ciência.”

“ O drama fundamental ético-existencial do ser humano transcende o âmbito da filosofia acadêmica e atinge a arte popular.”

O Conceito de Ser Humano em Diferentes Culturas é o tema do segundo ensaio do livro. Jean Lauand observa o homem em seus fundamentos éticos e segundo tradições do Ocidente e do Oriente. “Se perguntássemos à milenar tradição do pensamento pelos fundamentos filosóficos da educação, os antigos nos dariam esta sentença, tão simples, para meditar: ‘O homem é um ser que esquece'”, observa. “Claro que, ao afirmar o caráter esquecediço do homem, não estamos dizendo que ele se esquece de tudo, mas principalmente – e é até uma constatação de ordem empírica – do essencial.”

Lauand considera: “O drama fundamental ético-existencial do ser humano transcende o âmbito da filosofia acadêmica e atinge a arte popular”. Cita a canção de Milton Nascimento e Fernando Brandt Yauaretê. “Nessa canção, o homem dialoga com a onça jaguaretê, pedindo-lhe – a ela, que já atingiu o ultimum potentiae (potência máxima, em latim) de seu ser-onça, yauareté – que lhe ensine o correspondente ser homem em potência máxima.”

“Não há nenhuma virtude moral sem a prudência.”

Implicações Éticas e Existenciais da Virtude da Prudência é o terceiro artigo de Ensaios. Nele, Jean Lauand aborda o tratado de Tomás de Aquino sobre essa virtude. “Se hoje a palavra ‘prudência’ tornou-se aquela egoísta cautela da indecisão ‘em cima do muro’, em Tomás, ao contrário, ela expressa exatamente o oposto da indecisão: é a arte de decidir corretamente, isto é, com base não em interesses piegas, não em impulsos, não em temores, não em preconceitos etc., mas unicamente com base na realidade, em virtude do límpido conhecimento do ser.”

Prudência, segundo Lauand, é ver a realidade e, com base nessa visão, tomar a decisão certa. “Por isso, não há nenhuma virtude moral sem a prudência.” Ou, como bem sentenciou Tomás de Aquino: “A prudência é necessariamente corajosa e justa”.

O ensaio que encerra o livro, A Acídia e o Mal-Estar na Contemporaneidade, esclarece sobre a acídia, uma realidade invisível mas que habita a alma humana, classicamente definida como a tristeza profunda causada pela recusa dos bens espirituais. “A gravidade da acídia já se nota nesta primeira aproximação do conceito: a acídia é uma tristeza. E a tristeza não é só em si mesma um mal, mas fonte de outros males – característica própria dos pecados capitais”, explica o professor.

Ensaios, de Jean Lauand, Editora Enguaguaçu, 102 páginas, R$ 35,00.

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