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Queimada do Pantanal é a maior catástrofe ambiental desde a seca de 70

Fogo já consumiu mais de 12 mil quilômetros quadrados. Em termos comparativos é como se três cidades do porte de Dourados tivessem sido “varridas” do mapa

26 Ago 2020 - 14h01Por Rozembergue Marques
Queimada do Pantanal é a maior catástrofe ambiental desde a seca de 70 -

As queimadas que vem acontecendo no Pantanal e que podem ser consideradas uma das maiores catástrofes ambientais do bioma desde a grande seca de 1970 estão sendo acompanhadas de perto por um grupo de acadêmicos da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e especialmente pelo professor Joelson Gonçalves Pereira. 

Nascido em Ladário, cidade à margem do rio Paraguai, Joelson possui vasta formação acadêmica e em 2008 assumiu a vaga de professor de Geoprocessamento no campus Dourados da UFGD,  onde teve a oportunidade de atuar junto aos cursos de Gestão Ambiental, Ciências Biológicas, Licenciatura Indígena e pós-graduação MBA em Gestão Ambiental. O professor é o responsável pelo Curso de Campo do Pantanal, já realizado há 13 anos e que é uma oportunidade de retorno à suas origens e de proporcionar, juntamente com os demais professores, que os acadêmicos conheçam in loco esse importante bioma que está sendo devorado pelas queimadas.

Em uma longa entrevista a O Progresso, Joelson foi taxativo em afirmar que o fogo que começou nas bordas do pantanal de Cáceres e Barão de Melgaço, no Mato Grosso, e agora chegou à região do Nabileque e da Nhecolândia, já aqui em Mato Grosso do Sul, vem deixando um rastro incalculável de destruição. “A parte vegetal vai se recompor, dentro do natural ciclo das águas. Mas a biodiversidade vai levar um bom tempo para se recuperar. O Pantanal é um sistema complexo e interdependente. Quando vemos queimar os acurizais, vemos queimar o alimento das araras azuis, que é o acuri, muito consumido também pelo gado”, exemplificou o professor. “Acuados pelo fogo, os animais que não são mortos estão buscando alimentos nas cidades à beira do Pantanal e nas sedes das fazendas.Quando tudo isso passar eles terão que esperar a vegetação se recompor para procriar e repovoar a região”, continuou Joelson, mostrando-se preocupado com o avanço do fogo e que tende a cada dia ser mais difícil de aplacar: Segundo os últimos números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE) o fogo já consumiu mais de 12 mil quilômetros quadrados do Pantanal. Em termos comparativos é como se três cidades do porte de Dourados tivessem sido “varridas” do mapa.

Ainda conforme os gráficos do professor, a régua centenária do Serviço de Sinalização Náutica do Oeste, do 6° Distrito Naval da Marinha do Brasil, em Ladário, já em 2017 mostrava que com 1,62 metros de lâmina de água, o rio Paraguai caminhava para uma situação crítica, que se tornou real  neste ano de 2020. Em 13 de agosto de 2018 houve uma recuperação do volume de águas, com a régua marcando 4, 6 metros. No último 13 de agosto (2020) a régua marcou assustadores 1, 14 metros de lâmina de água. É como se o rio tivesse sido drenado.

No que tange às causas dessa proliferação rápida do fogo, Joelson explica que como parte do ciclo natural do chamado ciclo das águas do Pantanal, quando as aguas baixam a vegetação derrissada, sobretudo as mais rasteiras, vão formando camadas de mato seco que os pantaneiros chamam de “macegas”, que quando alcançadas pelo fogo formam enormes labaredas de difícil contenção e que são “vorazes”, espalhando-se por quilômetros. Os prejuízos vem sendo sentidos em diversas áreas: as pontes de madeira queimadas dificultam a principal atividade da região( a pecuária), o sistema de saúde das cidades ribeirinhas como Corumbá e Ladário está saturado por conta das doenças respiratórias causadas pela fumaça e, claro, o incalculável, como dito acima, prejuízo à biodiversidade. 

 O professor Joelson “lembra” um fato elementar: a ignição de nada acontece sozinha e o palito ou algo do gênero que acendeu o fogo tem CPF.  “Conquanto seja uma pratica cultural a queimada como meio de limpar a terra, é preciso que hajam ações em duas frentes: a principal é a conscientização sobre novas técnicas e é para isso que a Universidade estuda e está à disposição. A outra mão tem que ser a da lei, com medidas punitivas. A operacionalização dessas duas ações requer união e amor por esse importante pedaço do Brasil e que é uma referência para o mundo pela sua grandiosidade”, finalizou.

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