Dourados – MS sexta, 10 de maio de 2024
23º
campanha RS
Meio Ambiente

Pesquisa realizada em Dourados mostra que vespas estão ameaçadas por uso de agrotóxico

Estudo inédito mostra que colônias de marimbondos também podem ser afetadas por inseticida que foi banido da União Europeia por estar associado a morte de abelhas

10 Jul 2022 - 11h15Por Gracindo Ramos, especial para O Progresso
Os neonicotinoides são pesticidas ainda utilizados no Brasil para insetos considerados pragas agrícolas, mas podem afetar outras espécies - Crédito: UNESPOs neonicotinoides são pesticidas ainda utilizados no Brasil para insetos considerados pragas agrícolas, mas podem afetar outras espécies - Crédito: UNESP

Uma pesquisa realizada em Dourados-MS sobre os impactos do uso de agrotóxicos para colônias de vespas sociais acaba de ser publicada na revista internacional Environmental Pollution e no portal Science Direct. O artigo científico, intitulado “A vespa social Polybia paulista é uma vítima silenciosa da contaminação por neonicotinóides?” (Is the social wasp Polybia paulista a silent victim of neonicotinoid contamination?), tem como autores os pesquisadores Nathan Rodrigues Batista, Vinicius Edson Soares de Oliveira, Paula Danyelle Crispim, Roberta Cornélio Ferreira Nocelli e William Fernando Antonialli-Junior. Os especialistas são integrantes do Laboratório de Ecologia Comportamental (LABECO) da UEMS de Dourados e UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

Os neonicotinoides são inseticidas mais utilizados no combate a insetos considerados pragas agrícolas, mas podem afetar espécies não alvos, como no caso já documentado das abelhas sociais. Não haviam estudos semelhantes com vespas sociais (marimbondos), que são reconhecidas como predadoras eficientes de larvas de outros insetos, inclusive daquelas consideradas pragas. Portanto, segundo a pesquisa inédita, ao menos de forma indireta elas podem ter contato com inseticidas.

“Vespas sociais podem até mesmo superar abelhas em abundancia e riqueza de espécies como visitantes florais, atuando como agentes polinizadores. Elas podem estar susceptíveis ao contato com agrotóxicos utilizados em plantações para o controle de pragas, assim como ocorre com as abelhas, fato já documentado em vários estudos”, pontua. O artigo pode ser lido pelo link www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S026974912200896X.

A análise objetivou obter a dose letal aguda e avaliar os efeitos da contaminação subletal pelo neonicotinoide tiametoxam sobre a vespa social Polybia paulista. “Concluímos que colônias de vespas sociais podem estar sendo afetadas pela exposição a neonicotinoides, tanto quanto abelhas sociais. Mais estudos toxicológicos devem ser conduzidos para entendermos qual a extensão dos problemas decorrentes do uso dos neonicotinoides que estes insetos estão enfrentando”, avaliaram.

De acordo com a investigação, o tiametoxam é um inseticida que é rapidamente absorvido pela planta e transportado para todos os seus tecidos. Em contato com insetos, de acordo com a dosagem e sua ação no sistema nervoso, pode causar efeitos motores agudos como problemas de coordenação, tremores do corpo e pernas, hiperatividade e hiperresponsividade. Já doses subletais apresentam efeitos fisiológicos como alterações no desenvolvimento e na estrutura cerebral o diversas alterações comportamentais, como a mobilidade.

Conforme a pesquisa, “o uso de neonicotinoides tem sido associado como responsável, pelo menos parcialmente, pelo Distúrbio do Colapso das Colônias (DCC) de abelhas Apis mellifera e, em decorrência a estes indícios, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) publicou um relatório no qual concluíram que haviam evidências cientificas para a associação dos neonicotinoides com o DCC, bem como outras ameaças ao meio ambiente, resultando na proibição de seu uso na União Europeia em 2018. Já no Brasil, os neonicotinoides continuam sendo utilizados, apesar de estudos já demonstrarem efeitos adversos de sua utilização em colônias de Apis mellifera e também abelhas nativas sem ferrão”.

Com base em estudos consolidados, os pesquisadores afirmam que a utilização de inseticidas tem importante papel no fenômeno do declínio de populações de insetos de determinadas regiões, associado a outros fatores como, por exemplo, a perda de habitat, agricultura não sustentável, poluição e as mudanças climáticas. E, apesar das vespas sociais não serem o alvo do uso dos inseticidas, elas podem utilizar de recursos provenientes de campos contaminados, e serem vulneráveis a estes compostos tanto quanto as abelhas.

Os resultados mostraram que as vespas sociais operárias de P. paulista “são sensíveis aos efeitos de tiametoxam tanto por conta dos valores de suas doses letais por exposição oral e tópica, quanto pelos efeitos sobre sua mobilidade”. Além disso, com base na comparação dos resultados obtidos pelos pesquisadores com estudos realizados com abelhas, os autores apontam que estas vespas são tão sensíveis quanto as abelhas comumente utilizadas para produção de mel e algumas espécies de abelhas nativas sem ferrão. A pesquisa observou que até mesmo a menor dose testada em vespa afetou significativamente sua mobilidade. E pontua que diversos estudos já encontraram resíduos de tiametoxam em concentrações baixas no néctar de safras tratadas de cultivares como abóbora, girassol e Citrus bem como na água. 

“Estas concentrações, apesar de serem abaixo das doses letais obtidas para P. paulista, também podem causar efeitos fisiológicos e comportamentais adversos uma vez que os insetos podem ter contato com o inseticida em campo de forma crônica, o que pode aumentar a dose total consumida e também gerar efeitos adversos em imaturos que aguardam pelos recursos em sua colônia”, diz a análise.

Os pesquisadores deixam claro que o estudo é o primeiro passo para investigar a toxicidade de tiametoxam sobre vespas sociais e apresenta resultados importantes que servirão como base para a investigação do tema neste grupo de insetos. “Podemos concluir, portanto, que colônias de vespas sociais podem estar sendo afetadas pela contaminação por neonicotinoides, tanto quanto colônias de abelhas e mais estudos devem ser conduzidos avaliando outros parâmetros e também outras espécies para entendermos qual a extensão dos problemas que estes insetos estão enfrentando”, alerta a pesquisa.

Deixe seu Comentário

Leia Também

TJMS marca presença no II Seminário Internacional de Justiça Restaurativa e Meio Ambiente
Campo Grande

TJMS marca presença no II Seminário Internacional de Justiça Restaurativa e Meio Ambiente

08/05/2024 21:15
TJMS marca presença no II Seminário Internacional de Justiça Restaurativa e Meio Ambiente
Bombeiros de MS atuam no combate a dois incêndios florestais, no Pantanal e em Naviraí
Meio ambiente

Bombeiros de MS atuam no combate a dois incêndios florestais, no Pantanal e em Naviraí

08/05/2024 20:30
Bombeiros de MS atuam no combate a dois incêndios florestais, no Pantanal e em Naviraí
Onda de Calor dá trégua: Frente Fria traz alívio temporário em Mato Grosso do Sul
Cotidiano

Onda de Calor dá trégua: Frente Fria traz alívio temporário em Mato Grosso do Sul

08/05/2024 15:45
Onda de Calor dá trégua: Frente Fria traz alívio temporário em Mato Grosso do Sul
 A Crise Ambiental-Humanitária no Rio Grande do Sul
Artigo de Opinião

A Crise Ambiental-Humanitária no Rio Grande do Sul

08/05/2024 13:15
 A Crise Ambiental-Humanitária no Rio Grande do Sul
Com agravamento da seca na bacia do Pantanal, Agência Nacional de Águas alerta para situação
Meio ambiente

Com agravamento da seca na bacia do Pantanal, Agência Nacional de Águas alerta para situação

07/05/2024 21:15
Com agravamento da seca na bacia do Pantanal, Agência Nacional de Águas alerta para situação
Últimas Notícias