
“Crianças aprendem sobre o mundo, sobre si mesmas e sobre as relações se espelhando nos comportamentos dos adultos”. É o que diz o psicólogo douradense Bruno Pael, que falou ao O PROGRESSO sobre os efeitos do comportamento e da situação emocional dos pais no desenvolvimento dos filhos.
O profissional explicou que uma das principais funções dos pais – e talvez a maior delas - em relação ao desenvolvimento dos filhos é ajudá-los a dar sentido para as suas experiências. Mas nem sempre os pais conseguem gerir as próprias emoções e, segundo Bruno, “emitem comportamentos que não são funcionais às crianças, que estão observando e aprendendo. Os comportamentos que emitimos e as coisas que dizemos sobre a vida como um todo, estão sendo absorvidas pela criança. Somos o primeiro modelo que elas têm sobre como agir no mundo”.
Sobre comportamentos mais incisivos dos pais, ele analisa que, “quando nos comunicamos e agimos de forma raivosa, por exemplo - gritando, brigando, xingando, a criança entende que esta é a forma de lidar com uma emoção como a raiva. É claro que não vamos deixar de sentir raiva ou tristeza ou qualquer outra emoção. A questão é saber como administrar essas emoções e como comunicar o que estamos sentindo para a criança. Ela precisa aprender a reconhecer também como lidar com as emoções que, eventualmente, elas também vão experimentar. Se os pais têm dificuldades de lidar com isso, muito provavelmente elas também terão”.
Para identificar e diferenciar uma simples irritação de um comportamento mais intenso, o psicólogo diz que o primeiro passo é respirar fundo. “Pode parecer clichê, mas parar por um segundo e respirar fundo antes de dizer ou fazer algo de forma impulsiva é fundamental. Sempre que possível, devemos ser sinceros com a criança. Explicar, de forma calma e com linguagem simples, o que estamos sentindo”, esclarece. Como dizer ao filho ou filha que está se sentindo irritado por causa de um problema trabalho. Dizer que o problema não é com a criança e que, quando se está irritado, é preciso um tempo para acalmar. “Certifique-se de realmente tirar um tempo depois para passar com a criança. Ela vai esperar. Quando a criança é muito pequena, talvez ela não consiga compreender. Mas vale lembrar que educar é repetir. Ela não vai aprender isso na primeira conversa que tiverem, devemos fazer isso repetidamente, sempre que precisar”, orienta o psicólogo.
Bruno Pael falou sobre a diferença de comportamento entre pais e mães que, de acordo com ele, é uma construção social, multifatorial e complexa. No decorrer da história, às mães foi entregue o papel de cuidar dos filhos e aos pais o papel de provê-los. Ele observa que, “nos últimos tempos, isso vem mudando, o homem passou a se aproximar mais do processo de educação dos filhos e a estar mais presente no lar e as mulheres, depois de muita luta, passaram a trabalhar fora de casa e compartilharem os cuidados das crianças com os homens”. Mas, para ele, a masculinidade ainda está atrelada à posição de poder. “Por exemplo, é frequente que os pais pensem que os filhos estão mandando na casa, que eles fazem o que querem e que por isso os adultos devem ser mais rígidos para assumir o controle. As mães - de forma geral, mas não é regra - por terem mais experiência com o comportamento de crianças - experiências estas acumulada no decorrer dos tempos - tendem a compreender melhor estes comportamentos e desenvolvem estratégias mais eficazes de lidar com eles. Daí a sensação de que as mulheres são mais pacientes”, elucida.
O especialista alerta que, em um ambiente onde as pessoas se comunicam aos gritos, de forma agressiva, dificilmente a criança vai aprender a se comunicar de forma assertiva, ou seja, com capacidade de se comunicar e agir de forma ética e com bom senso. Essa criança pode se tornar agressiva, mas também se tornar passiva (fraca capacidade de reação). “A criança se torna temerosa, com pouca iniciativa e tende a fazer de tudo para agradar aos outros, com o objetivo de não ser agredida, mesmo que verbalmente. A tendência é de que se tornem pessoas ansiosas e com baixa autoestima”, analisa.
Pael também sugere que casais tenham conversas mais sensíveis longe dos filhos, partindo do diálogo para se chegar a uma solução para o problema do casal, evitando as brigas. “Crianças podem começar a construir uma imagem sobre o pai ou a mãe que é contaminada pelas coisas negativas que um deles diz sobre o outro. Mistura-se a desavença entre o casal com a capacidade de paterna ou materna”, pontua o psicólogo.
Sobre stress e mau humor dos pais resultantes do trabalho e da vida fora de casa, Bruno lembra que, “quando a situação é mais complexa do que a simples rotina, convém buscar um profissional e frequentar psicoterapia. Nem todo stress e mau humor vem de questões pontuais, às vezes estão ligadas a coisas mais profundas que precisam receber atenção”. Ele também aconselha reservar tempo para participar da vida dos filhos. “Brinque com eles, entre no universo deles, conte sua história e ouça as histórias deles. Você vai perceber o quanto isso é fonte de alívio, de calor e de conexão”, argumenta.
Outra constatação do profissional é que “uma atmosfera de medo, sobressaltos e agressividade, dificilmente será positiva ao desenvolvimento da criança. Por isso devemos nos esforçar para que o ambiente seja de acolhimento, amor, compreensão, respeito, firmeza sem deixar de ser gentil e de cooperação. Quando a criança tem um apego seguro com os pais, uma base segura onde ele pode contar com a responsividade dos mesmos, ela tende a se sentir mais confiante para explorar seu mundo, a ter um vocabulário maior e mais variado. Elas também tendem a ter interações mais positivas com outras crianças e demonstram emoções mais positivas, estando frequentemente mais alegres. Tendem ainda a ser mais curiosas, empáticas, autoconfiantes, mais aptas a resolver conflitos e a ter autoimagem mais positiva”, finaliza.
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