Dourados – MS sexta, 26 de abril de 2024
34º
UEMS - Pantanal
IMPRESSO

Mau humor dos pais pode afetar o desenvolvimento dos filhos

Psicólogo alerta que nem sempre os pais conseguem gerir as próprias emoções

19 Jul 2021 - 11h00Por Gracindo Ramos
“Quando a criança tem uma base segura com responsividade, ela tende a ser mais curiosa, empática e autoconfiante”, diz Bruno Pael - Crédito: Arquivo Pessoal“Quando a criança tem uma base segura com responsividade, ela tende a ser mais curiosa, empática e autoconfiante”, diz Bruno Pael - Crédito: Arquivo Pessoal

“Crianças aprendem sobre o mundo, sobre si mesmas e sobre as relações se espelhando nos comportamentos dos adultos”. É o que diz o psicólogo douradense Bruno Pael, que falou ao O PROGRESSO sobre os efeitos do comportamento e da situação emocional dos pais no desenvolvimento dos filhos. 

O profissional explicou que uma das principais funções dos pais – e talvez a maior delas - em relação ao desenvolvimento dos filhos é ajudá-los a dar sentido para as suas experiências. Mas nem sempre os pais conseguem gerir as próprias emoções e, segundo Bruno, “emitem comportamentos que não são funcionais às crianças, que estão observando e aprendendo. Os comportamentos que emitimos e as coisas que dizemos sobre a vida como um todo, estão sendo absorvidas pela criança. Somos o primeiro modelo que elas têm sobre como agir no mundo”.

Sobre comportamentos mais incisivos dos pais, ele analisa que, “quando nos comunicamos e agimos de forma raivosa, por exemplo - gritando, brigando, xingando, a criança entende que esta é a forma de lidar com uma emoção como a raiva. É claro que não vamos deixar de sentir raiva ou tristeza ou qualquer outra emoção. A questão é saber como administrar essas emoções e como comunicar o que estamos sentindo para a criança. Ela precisa aprender a reconhecer também como lidar com as emoções que, eventualmente, elas também vão experimentar. Se os pais têm dificuldades de lidar com isso, muito provavelmente elas também terão”.

Para identificar e diferenciar uma simples irritação de um comportamento mais intenso, o psicólogo diz que o primeiro passo é respirar fundo. “Pode parecer clichê, mas parar por um segundo e respirar fundo antes de dizer ou fazer algo de forma impulsiva é fundamental. Sempre que possível, devemos ser sinceros com a criança. Explicar, de forma calma e com linguagem simples, o que estamos sentindo”, esclarece. Como dizer ao filho ou filha que está se sentindo irritado por causa de um problema trabalho. Dizer que o problema não é com a criança e que, quando se está irritado, é preciso um tempo para acalmar. “Certifique-se de realmente tirar um tempo depois para passar com a criança. Ela vai esperar. Quando a criança é muito pequena, talvez ela não consiga compreender. Mas vale lembrar que educar é repetir. Ela não vai aprender isso na primeira conversa que tiverem, devemos fazer isso repetidamente, sempre que precisar”, orienta o psicólogo.

Bruno Pael falou sobre a diferença de comportamento entre pais e mães que, de acordo com ele, é uma construção social, multifatorial e complexa. No decorrer da história, às mães foi entregue o papel de cuidar dos filhos e aos pais o papel de provê-los. Ele observa que, “nos últimos tempos, isso vem mudando, o homem passou a se aproximar mais do processo de educação dos filhos e a estar mais presente no lar e as mulheres, depois de muita luta, passaram a trabalhar fora de casa e compartilharem os cuidados das crianças com os homens”. Mas, para ele, a masculinidade ainda está atrelada à posição de poder. “Por exemplo, é frequente que os pais pensem que os filhos estão mandando na casa, que eles fazem o que querem e que por isso os adultos devem ser mais rígidos para assumir o controle. As mães - de forma geral, mas não é regra - por terem mais experiência com o comportamento de crianças - experiências estas acumulada no decorrer dos tempos - tendem a compreender melhor estes comportamentos e desenvolvem estratégias mais eficazes de lidar com eles. Daí a sensação de que as mulheres são mais pacientes”, elucida.

O especialista alerta que, em um ambiente onde as pessoas se comunicam aos gritos, de forma agressiva, dificilmente a criança vai aprender a se comunicar de forma assertiva, ou seja, com capacidade de se comunicar e agir de forma ética e com bom senso. Essa criança pode se tornar agressiva, mas também se tornar passiva (fraca capacidade de reação). “A criança se torna temerosa, com pouca iniciativa e tende a fazer de tudo para agradar aos outros, com o objetivo de não ser agredida, mesmo que verbalmente. A tendência é de que se tornem pessoas ansiosas e com baixa autoestima”, analisa.

Pael também sugere que casais tenham conversas mais sensíveis longe dos filhos, partindo do diálogo para se chegar a uma solução para o problema do casal, evitando as brigas. “Crianças podem começar a construir uma imagem sobre o pai ou a mãe que é contaminada pelas coisas negativas que um deles diz sobre o outro. Mistura-se a desavença entre o casal com a capacidade de paterna ou materna”, pontua o psicólogo.

Sobre stress e mau humor dos pais resultantes do trabalho e da vida fora de casa, Bruno lembra que, “quando a situação é mais complexa do que a simples rotina, convém buscar um profissional e frequentar psicoterapia. Nem todo stress e mau humor vem de questões pontuais, às vezes estão ligadas a coisas mais profundas que precisam receber atenção”. Ele também aconselha reservar tempo para participar da vida dos filhos. “Brinque com eles, entre no universo deles, conte sua história e ouça as histórias deles. Você vai perceber o quanto isso é fonte de alívio, de calor e de conexão”, argumenta.

Outra constatação do profissional é que “uma atmosfera de medo, sobressaltos e agressividade, dificilmente será positiva ao desenvolvimento da criança. Por isso devemos nos esforçar para que o ambiente seja de acolhimento, amor, compreensão, respeito, firmeza sem deixar de ser gentil e de cooperação. Quando a criança tem um apego seguro com os pais, uma base segura onde ele pode contar com a responsividade dos mesmos, ela tende a se sentir mais confiante para explorar seu mundo, a ter um vocabulário maior e mais variado. Elas também tendem a ter interações mais positivas com outras crianças e demonstram emoções mais positivas, estando frequentemente mais alegres. Tendem ainda a ser mais curiosas, empáticas, autoconfiantes, mais aptas a resolver conflitos e a ter autoimagem mais positiva”, finaliza.

Deixe seu Comentário

Leia Também

MS receberá R$ 17,3 milhões para construir postos de saúde em Dourados e mais seis cidades
Saúde

MS receberá R$ 17,3 milhões para construir postos de saúde em Dourados e mais seis cidades

26/04/2024 10:45
MS receberá R$ 17,3 milhões para construir postos de saúde em Dourados e mais seis cidades
HU-UFGD promove o simpósio: "Saúde e nutrição dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul"
Saúde

HU-UFGD promove o simpósio: "Saúde e nutrição dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul"

26/04/2024 09:45
HU-UFGD promove o simpósio: "Saúde e nutrição dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul"
CAE do Senado vota criação do Programa Nacional de Atenção ao Paciente Cardiológico
Saúde

CAE do Senado vota criação do Programa Nacional de Atenção ao Paciente Cardiológico

26/04/2024 06:45
CAE do Senado vota criação do Programa Nacional de Atenção ao Paciente Cardiológico
Comissão aprova distribuição de fraldas descartáveis pelo SUS a idosos e pessoas com deficiência
Saúde

Comissão aprova distribuição de fraldas descartáveis pelo SUS a idosos e pessoas com deficiência

26/04/2024 06:30
Comissão aprova distribuição de fraldas descartáveis pelo SUS a idosos e pessoas com deficiência
SUS terá sala de acolhimento para mulheres vítimas de violência
Saúde

SUS terá sala de acolhimento para mulheres vítimas de violência

25/04/2024 17:30
SUS terá sala de acolhimento para mulheres vítimas de violência
Últimas Notícias