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Educação

Vários fatores contribuem para a queda de matrículas na Educação de Jovens e Adultos

"Há equívocos das políticas e uma oferta inapropriada, que dificultam o acesso à educação", diz Maria Clara Di Pierro

04 Abr 2024 - 07h30Por Simone Lemos/Jornal da USP no Ar
Há equívocos das políticas, há uma oferta inapropriada e há condições objetivas e subjetivas dos educandos que dificultam o acesso à educação - Crédito:  jcomp/FreepikHá equívocos das políticas, há uma oferta inapropriada e há condições objetivas e subjetivas dos educandos que dificultam o acesso à educação - Crédito: jcomp/Freepik

A pandemia causou muitos danos. Um deles se reflete na educação. O EJA (Educação de Jovens e Adultos), desde 2007, já vinha em um processo de queda, mas, com o isolamento social isso se acentuou e chegou ao menor patamar do século, com 2 milhões e 800 mil matrículas, segundo o Censo Escolar de 2022, destaca Maria Clara Di Pierro, professora aposentada sênior da Faculdade de Educação da USP. Segundo ela, vários fatores contribuíram para esse resultado.

“Há equívocos das políticas e uma oferta inapropriada, que dificultam o acesso à educação. Por exemplo, no campo das políticas, há desarticulação entre as esferas de governo federal, estadual e municipal. Uma abordagem meramente setorial, um financiamento insuficiente, há uma lógica de nucleação e de formação de turmas muito numerosas. Nada disso colabora para a mobilização da demanda. A oferta é inadequada, porque os tempos de espaços são muito rígidos, os currículos não são pensados para as especificidades da educação de adultos, tampouco há formação docente para atuar com essa modalidade. A assistência estudantil é insuficiente e isso faz com que as EJAS sejam pouco atrativas”, diz ela. 

Dados do INEP (Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa) estimam em mais de 73 milhões o número de pessoas jovens e adultas com escolaridade inferior à educação básica no País. A ausência de horizonte social, de mudança e a sobrecarga de tarefas de trabalho, estudo e família, jornadas de trabalho muito intensas, tempo despendido nos deslocamentos nos grandes centros urbanos. Todos esses fatores colaboram para que haja pouca mobilização das pessoas com baixa escolaridade para participar do EJA, apesar desse grupo ser muito numeroso, diz a professora Maria Clara.

Pandemia e queda do ensino

Maria Clara Di Pierro – Foto: IEA-USP

 

Ela explica por que a pandemia contribuiu para a queda do ensino. “Uma parte importante dos educandos da EJA não teve acesso às tecnologias da comunicação e informação, que foi um meio que as escolas encontraram para se comunicar com os educandos durante o período da pandemia em que as escolas permaneceram fechadas. Embora a maior parte dos jovens e adultos tenha acesso a celulares, eles não têm acesso à banda larga, pacotes de dados que permitam acessar plataformas, de maneira que os recursos tecnológicos eram insuficientes. Além disso, as pessoas vivem em moradias precárias, famílias numerosas, todo mundo dentro de casa, os ambientes não eram adequados para o estudo e os equipamentos de comunicação eram compartilhados entre as crianças e os adultos das famílias. Além disso, a crise econômica desencadeada pela pandemia obrigou todos os membros da família a buscarem meios de sobrevivência.” 

O perfil do estudante do EJA é predominantemente de jovens e negros e, embora a maior parte das pessoas com baixa escolaridade seja constituída por idosos, não são estes os que mais frequentam os seus cursos, mas sim as pessoas de baixa renda, destaca a professora. “Então, eu tenho uma inserção precária no mercado de trabalho, moram nas periferias urbanas, as mulheres assumem muitas responsabilidades também de cuidados com crianças e idosos, tudo isso configura um perfil em que a frequência regular à escola compete com outras responsabilidades frente à família e à sobrevivência”.

Mobilização

A educadora destaca que seria necessário uma mobilização dos poderes públicos e da sociedade civil organizada para reverter essa realidade. “Deveriam ampliar as perspectivas de mudança social, emprego, renda, justiça e cuidado e qualificar a oferta fazendo chamada pública, assegurando assistência estudantil. Mas também requer ações da sociedade civil organizada, empregadores, movimentos sociais, meios de comunicação, na construção de uma cultura do direito à educação ao longo da vida e de elevação do nível de consciência dos titulares de direitos”.

O ensino médio noturno contou com uma ampliação da jornada escolar, mas o trabalhador que estuda nesse horário foi prejudicado. Para a professora, a solução seria ampliar, alongar a duração dos anos de estudos do ensino noturno, o que poderia se converter numa melhoria da qualidade das aprendizagens, mas isso depende fundamentalmente da adequação de currículos, metodologias, organização escolar e assistência estudantil para que jovens e adultos trabalhadores possam permanecer por um período ainda mais longo nas escolas.

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