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Opinião

Chamaram pelo diabo, ele veio

09 Dez 2015 - 11h48
Chamaram pelo diabo, ele veio -
Jorge Luiz Baldasso


“Quem vai amar o diabo?... Quem vai cantar sua canção?... Quem vai adorar o diabo?... Quem vai beijar a sua língua?... Eu vou amar o diabo e cantar sua canção!”. Estas eram as estrofes da música “Kiss the devil”, cantadas e repetidas entusiasticamente pelos frequentadores da boate Bataclan, em Paris, acompanhadas da coreografia característica que evocava a imagem do capeta e do som pesado da “Eagles of Death Metal”, uma banda conhecida por sua apologia à libertinagem, ao sexo e às drogas. Em seus acordes finais, começaram os tiros e as bombas que transformaram aquela casa noturna, literalmente, num inferno. O saldo final: mais de cem mortos e um continente inteiro em estado de choque.


Coincidência? Pode ser! Mas, para todos os efeitos, talvez devêssemos ser mais cuidadosos com a apologia que fazemos daquilo que o bom senso e a nossa consciência sabem que é errado. Tecer loas ao diabo e prestigiar uma banda que prega tudo aquilo que tentamos evitar para os nossos filhos não é certamente um comportamento recomendável para um cidadão em seu pleno juízo. Mas por que será que ela atrai tanto nossa juventude?


Hoje uma legião cada vez maior de jovens perde-se num mundo que não lhes oferece perspectivas senão a diversão a todo custo. Muitos cresceram em ambientes hostis e tiveram seu futuro roubado sem cerimônias na forma de uma educação que não lhes prepara para a vida e onde cada vez mais facilmente dissolvem-se as famílias. O alcoolismo, as drogas e a libertinagem são apenas mais uma face desta falta de rumos, um refúgio fugaz para um vazio interior difícil de preencher e que tem como resultado perverso a depressão e o suicídio, que atingem índices cada vez mais alarmantes. Que esperar que eles façam?


O mundo hoje carece de líderes e de bons exemplos e, não por acaso, está envolto em contradições. Enquanto evoca-se a figura do capeta, reclama-se da violência, das guerras, da injustiça e da miséria. Quer-se proteger o meio ambiente, mas sem abrir mão do conforto, do consumismo e do prazer. Preocupa-se com a criminalidade, mas fecha-se os olhos para o abuso do álcool e o consumo de drogas. Reclama-se dos estupros e da pedofilia, mas não da pornografia e da apologia que se faz do sexo, em todas as suas variantes. E os que defendem os direitos humanos muitas vezes são os mesmos que fazem campanha pelo aborto.


E queremos que Deus nos proteja, mas nos esquecemos de seus mandamentos.


François Hollande, presidente da França, expressou sua revolta contra o atentado que vitimou aqueles jovens que “só queriam se divertir, exercer sua liberdade...”. Mas... beijar a língua do diabo, adorar satã... que raios de diversão é essa? E a liberdade? Assim como os demais direitos, ela deve ser exercida com responsabilidade, e não em tom de deboche ou para encobrir nossa falta de juízo (aprendi isso na escola – no meu tempo ela ajudava a formar nosso caráter).


E vejam só, invocaram satã... e ele talvez tenha vindo, na forma de um bando de terroristas fanáticos e alucinados... o mal surge onde há terreno fértil para isso.


Ao menos desta vez, ninguém pode acusar Deus de ter sido negligente!

Médico. e-mail: [email protected]

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