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Aldeias de Dourados formam campeões mundiais

18 Dez 2015 - 11h45Por Do Progresso
Indígenas de Dourados, Rocleiton Ribeiro Flores e Lia Oliveira de Souza, encontraram no esporte o caminho de vencer na vida. - Crédito: Foto: Marcos RibeiroIndígenas de Dourados, Rocleiton Ribeiro Flores e Lia Oliveira de Souza, encontraram no esporte o caminho de vencer na vida. - Crédito: Foto: Marcos Ribeiro
Valéria Araújo


Na Reserva Indígena de Dourados, o esporte é a alavanca para a ascensão de campeões tanto no desporto, quanto na vida. São meninos e meninas que voltaram a sonhar e a terem orgulho de suas origens e tradições. Tanto é a predominância do esporte, que as aldeias de Dourados têm a primeira Vila Olímpica Indígena do País, que é uma das principais conquistas dos desportistas da Reserva.



É o caso do mister indígena Rocleiton Ribeiro Flores, de 21 anos. Ele se classificou como vice-campeão em arremesso de lança nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, sediado em Palmas, no Tocantins, no mês passado. O título mundial inédito na reserva de Dourados foi conquistado já na primeira participação dele no campeonato. A disputa ocorreu com 20 etnias brasileiras e mais 22 de outros países.



O arremesso de 45 metros e 2 centímetros, recorde em Mato Grosso do Sul, foi apenas 43 centímetros a menos do que o campeão mundial, que é da tribo Pataxó, da Bahia. “Com esses resultados que obtive, sei que da próxima vez poderei alcançar um resultado melhor, podendo chegar ao topo do pódium”, constata.


O jovem guarani que quando criança treinava na terra, dividindo espaço com a lavoura que os pais plantavam, diz que o esporte está no sangue. “Eu sigo o exemplo do meu irmão, grande atleta do arremesso de lança, que sempre me incentivou, assim como muitas crianças aqui da Reserva. Ele tinha prazer em ensinar as modalidades indígenas e de manter nossa tradição. Ele morreu aos 37 anos, vítima de um tumor na cabeça, mas deixou seus exemplos de guerreiro. Assim como ele, quero passar tudo o que sei para nossos pequenos”, revela.


Além do incentivo familiar, Rocleiton destaca a Vila Olímpica Indígena. “Por onde eu passo nos campeonatos fora da cidade, me perguntam sobre a estrutura. Dizem que gostariam de ter em suas tribos. Eu me orgulho muito da minha aldeia, a Jaguapirú, ser referência no Brasil e no mundo, de incentivo ao esporte. Está cumprindo o papel pelo qual foi criada que é o de tirar do alcoolismo e das drogas, centenas de adolescentes, que encontraram o esporte um caminho melhor para seguir”, enfatiza.


A atleta Lia Oliveira de Souza é outro exemplo de superação. Ela disse que foi através do esporte que começou a sonhar com um destino melhor. Lia, junto com seu time de futebol suíço, ficou em 3º lugar nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. “Eu comecei aos 10 anos, treinando num campinho totalmente desestruturado, perto da minha casa. Naquela época, jogava com meus primos porque não havia interesse por parte das meninas. Hoje, vemos que com a Vila Olímpica e o incentivo nas escolas a procura de esportistas do sexo feminino aumentou consideravelmente. Tanto que montamos um time na Reserva”, acrescenta.


Segundo ela, o esporte muda a vida dos atletas. “Antes, a gente se sentia abandonado aqui, sem uma perspectiva de vida. Hoje, eu quero vencer os jogos e levar a minha história e da minha etnia para o mundo. Quero vencer no esporte, mas na vida também, já que quero concluir um curso superior e dar uma vida melhor para meus familiares”, destaca.


O treinador Valderi Aquino disse que, assim como Rocleiton e Lia, o esporte vem transformando a vida de centenas de crianças. “A cada vitória, nossos guerreiros do esporte dão exemplo aos demais. É uma verdadeira guerra do bem contra o alcoolismo e drogas. Ainda bem que, nessa, estamos vencendo”, lembra.

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