Os Mosteiros das Filhas de Santa Clara tem como uma de suas características originais fundacionais, estarem estabelecidos nos tecidos urbanos, estarem no meio das cidades como um oásis de contemplação, como uma lâmpada acesa no caos desses nossos tempos.
"Ficava Clara, esta luz fechada no segredo do claustro, mas emitia raios brilhantes para fora. Recolhia-se no estreito convento, e se espalhava pelo amplo mundo. Pois Clara se escondia, mas sua vida se manifestava; Clara se calava, mas sua fama clamava; trancava-se na cela e era conhecida pelas cidades afora."
Os nossos claustros são portas espirituais abertas para o mundo; diariamente, constantemente elevamos ao Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor preces e súplicas pela humanidade ferida. A nossa maternidade espiritual abraça todas as nações, e pela ação do Espírito Santo, como nossa mãe Santa Clara, nutrimos um amor ardente por toda humanidade . Na contemplação do Cristo Crucificado como santa Clara: "Era-lhe familiar o pranto pela paixão do Senhor: ou hauria das sagradas chagas a amargura da mirra, ou sorvia os mais doces gozos. Embriagavam-na veementemente as lágrimas de Cristo sofredor, e a memória reproduzia freqüentemente aquele que o amor lhe gravara fundo no coração, " nos unirmos às dores de nossos irmãos e irmãs, dores que, unidas às de Cristo são redentoras, dores que ecooam diariamente em nossos corações, em nossos Mosteiros. Nesses tempos de medo, de purificação, em que somos assolados por uma pandemia, sabemos que esta é a hora de estarmos mais do que nunca na linha de frente da batalha com a força da nossa oração: "Clara estava tão alheia ao que é mundano que ocupava sua alma continuamente em santas orações e divinos louvores. Tinha cravado na Luz o dardo ardentíssimo do desejo interior e, transcendendo a esfera das realidades terrestres, abria mais amplamente o seio de sua alma para as chuvas da graça."
Através da Liturgia das Horas, da Via Sacra, do Santo terço, da adoração Eucarística, das horas santas, dos sacrifícios e penitências, dos trabalhos e fadigas queremos consolar nossos irmãos que enfrentam sua última batalha nas solidões das UTIS, queremos ser a força, o ânimo de nossos médicos, enfermeiros, de todos os agentes de saúde que incansavelmente estão a doar a própria vida. Queremos ser os Cirineus de nossos irmãos Sacerdotes que têm ouvido as inspirações criativas do Espírito Santo como verdadeiros pastores de seus rebanhos. Nos alimentamos também do exemplo de tantos padres que estão dando a sua vida como verdadeiros mártires do amor. Queremos levar a esperança às famílias, jovens, crianças e anciãos que nesses dias se tornaram nossos "colegas" de reclusão, nós por escolha e vocação, vós por necessidade, rezamos para que o amor que nos envolve em nossos claustros, a serenidade e paz com que enfrentamos as tribulações, a alegria da cruz seja derramada sobre vós, sobre suas casas, sobre todas as Igrejas domésticas em todos os recantos dessa terra.
Nós, vossas Irmãs Clarissas do Mosteiro Santa Maria dos Anjos em Dourados/MS permanecemos aqui como sentinelas, de pé diante da cruz, a exemplo de Maria Santíssima, na certeza que nosso Deus, Pai de todas as misericórdias, Deus da vida, vem enxugar nossas lágrimas, consolar os corações. Em um momento de extrema necessidade em que São Damião e a cidade de Assis estavam sendo ameaçados de uma violenta invasão, Santa Clara empunhando uma caixinha revestida de marfim com o Corpo do Senhor, sua única defesa e seu único bem, suplicou: "Meu Senhor, será que quereis entregar inermes nas mãos dos pagãos as vossas servas, que criei no vosso amor? Guardai Senhor, vos rogo, estas vossas servas a quem não posso defender neste transe." Logo em seus ouvidos, soou uma voz de menininho: “Eu sempre vos defenderei”. E Clara disse : “Meu Senhor, protegei também, se vos apraz, a cidade que nos sustenta por vosso amor”. E Cristo: “Suportará padecimentos, mas será defendida por minha força”.
A todos, as nossas incansáveis orações com a proteção de Santa Clara, na certeza de que o nossos Deus atende as preces de seus filhos e nos dará muito mais do que ousamos pedir. Continuemos unidos em oração