Pesquisa publicada pelo Núcleo de Estudos de População "Elza Berquó" (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) revela a centralidade de Dourados em relação à população indígena do Mato Grosso do Sul, absorvendo um contingente de mais de 38 mil pessoas residentes em municípios vizinhos e que se deslocam para atendimento de alta complexidade.
Intitulado como “Deslocamentos da População Indígena para acesso aos serviços de Saúde: Insumos para ações emergenciais de enfrentamento à Covid-19”, o estudo apontou que depois de Dourados o polo mais próximo onde existe atendimento de alta complexidade é a capital do estado, Campo Grande situada a cerca de 4 horas de viagem ao norte. “A capacidade de Campo Grande é de 106 leitos de UTI; Dourados possui 46 leitos de UTI e a população indígena que é dependente de Dourados é de 38 mil pessoas. Campo Grande atende toda a região ao norte da capital, que tem a população indígena estimada em cerca de 30 mil pessoas”, diz trecho do estudo.
Conforme ainda o estudo, em Dourados a população indígena dependente oriunda de outros municípios é maior do que aquela que de sai de Dourados para ser atendida na cidade de Campo Grande. “Com isso o polo de Dourados estará com a capacidade lotada e fará pressão para o atendimento na capital também. Já Amambai, que possuiu 21% da população dependente de Dourados, com uma localização mais cerca das terras e agrupamentos indígenas poderia atender essa população e ainda as terras e os agrupamentos indígenas do noroeste do Paraná, fronteira com essa região do Mato Grosso do Sul”.
Resultados
Os resultados do estudo mostram ainda que a população indígena em todo o Brasil se desloca para 143 destinos diferentes para acesso aos serviços de saúde, dos quais 41 não possuem leitos de UTIs disponíveis.
Os dados mostram que Manaus é o principal polo de atração do país, sendo referência para uma população de 194.885 pessoas provenientes de terras e agrupamentos indígenas de diversos municípios do estado do Amazonas, o que representa 19% de toda a população indígena.
Em seguida estão Boa Vista, capital de Roraima, o Recife, que é polo de atração de grande parte da população indígena do Nordeste, e Tabatinga, que funciona como polo regional, submetida a Manaus.
Os dados também foram analisados no sentido de avaliar os municípios com maior contingente de população residente em terras e agrupamentos indígenas. São Gabriel da Cachoeira/AM é o município com mais expressiva população (44.208), seguido do município de Águas Belas/PE6, Jacareacanga/PA, Tabatinga/AM e São Paulo de Olivença/AM. Dos 10 municípios com maior população indígena, 5 estão no estado do Amazonas. Os dados dos 30 municípios com maior contingente populacional em terras e agrupamentos indígenas estão na tabela 2. Nenhum deles possui UTI.
Sobre
O estudo foi realizado pelos pesquisadores: Marta Azevedo (demógrafa e antropóloga, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó/Nepo da UNICAMP. E-mail: [email protected]), Fernando Damasco (geógrafo, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (UFF), professor colaborador da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE). E-mail: [email protected] ) e Marta Antunes ( doutora em Antropologia Social (PPGAS/MN/UFRJ). E-mail: [email protected])