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Educação

40% dos alunos da rede pública tiveram dificuldades de aprendizagem na pandemia

Os mais afetados foram os alunos em processo de alfabetização

29 Ago 2021 - 12h00Por Gracindo Ramos
Risco de evasão escolar é maior entre moradores de áreas rurais, negros e estudantes da região nordeste - Crédito: Agência BrasilRisco de evasão escolar é maior entre moradores de áreas rurais, negros e estudantes da região nordeste - Crédito: Agência Brasil

Uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada em junho deste ano, mostrou que aproximadamente 40% dos estudantes do ensino fundamental e médio não tiveram percepção de progresso na aprendizagem durante um ano de ensino remoto na pandemia. A pesquisa foi encomendada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Fundação Lemann e Itaú Social e entrevistou responsáveis por crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos da rede pública de ensino de todas as regiões do Brasil.

A mudança na dinâmica das aulas pode ter tido efeitos negativos para a alfabetização. Para 51% dos pais e responsáveis com estudantes da 1ª a 3ª série do ensino fundamental, os pequenos não saíram do mesmo estágio de aprendizado. 29% respondeu que nada de novo foi aprendido e 22% disse que houve perda na aprendizagem. Do total, 88% entende que esses alunos estão em fase de alfabetização. Essa defasagem de aprendizagem pode ter relação com a dificuldade dos estudantes em manter a rotina com aulas em casa, já que 69% diz que apresenta esse problema. O número é maior (74%) entre alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental na região Nordeste.

O levantamento mostra que 96% dos alunos confirmam que receberam atividades escolares em 2021. Mas a percepção sobre a queda no desempenho mostra que, em 2020, 86% dos familiares acreditavam que o desempenho escolar dos estudantes antes da pandemia era bom ou ótimo. Esse mesmo percentual caiu para 59% neste ano. Para os alunos que não estão em processo de alfabetização, o baixo desempenho escolar é a principal preocupação.

A falta de contato entre professor e aluno é um dos principais fatores que impactaram o desempenho escolar durante o desafio do ensino na pandemia. Uma professora de Dourados que atua no ensino fundamental da rede pública municipal e estadual relatou ao O PROGRESSO que, por conta da pandemia, no ano passado teve contato presencial com alunos por aproximadamente um mês em uma rede e não teve contato nenhum com muitos dos alunos da outra rede onde leciona. 

“Eles sentiram muita falta dos amigos e da escola. Isso pesou um pouco para alguns. Outros não conseguem ajuda da família para estudar porque ou os pais trabalham muito e não têm tempo ou porque os familiares tem dificuldades em auxiliar pela falta de estudo”, conta a docente. Sobre uma aluna em processo de alfabetização ela relata que: - “Consegui, aos poucos, alfabetizá-la. Não é fácil, porque, por mais que a gente fizesse essa interação, fica uma lacuna muito grande. Porque nada melhor do que ser presencial. Mas, infelizmente, nós tivemos que nos reinventar, fazendo uma coisa diferenciada para os pais poderem interagir com eles, para eles não perderem o interesse”.

A mãe de uma aluna do 1º ano do ensino fundamental acredita que o ensino durante a pandemia “atrasou bastante o desenvolvimento dela”. Sobre os efeitos da pandemia na alfabetização ela diz que “o impacto foi muito grande. Ela estava desenvolvendo bastante, estava aprendendo coisas muito rápido. Pai e mãe não é professor. Em casa, a gente não tem o mesmo suporte que na escola. Eu tentei suprir o máximo de ensinamentos que eu consegui passar para ela. Inclusive, o material que veio da escola para ela é bem trabalhado”. Outra professora da rede pública ouvida afirmou que “o aprendizado aconteceu. Não foi como nós gostaríamos e como é presencial na escola, mas esteve fluindo”. 

Risco de abandonar a escola
Com a pandemia, as desigualdades sociais foram aprofundadas, e na educação não foi diferente. O levantamento revela que mais da metade (57%) dos estudantes brancos aprenderam coisas novas. Esse número entre negros é de 41%. E, enquanto no Nordeste 28% dos entrevistados apontou que o aluno esqueceu o que já sabia, no Sul esse número é bem inferior (17%). 

A pesquisa aponta que quase metade dos estudantes negros (43%) correram risco de abandonar a escola. Esse número é menor entre alunos brancos (35%). O risco de evasão atinge cerca de metade dos alunos de famílias com renda de apenas um salário mínimo. Já para famílias com renda de dois a cinco salários, o percentual é de 31%. A evasão escolar ameaça também, principalmente, estudantes de áreas rurais (51%), ante 39% dos alunos de áreas urbanas. Levada em conta a região, a desigualdade também aparece, sendo 50% no Nordeste e 31% na região Sul.

Um professor de educação física da rede estadual analisou que “os poucos alunos que se se evadiram da escola, do ensino médio, não conseguiriam conciliar estudo e trabalho. Os pais perderam o emprego e tiveram que sustentar a casa com o trabalho deles. Então ficaram sobrecarregados e desistiram da escola. Porém foram bem poucos. São casos isolados, até porque a gente sempre tentou buscar e conciliar, ponderar com esses que trabalham atividades diferenciadas para que não desistissem da escola. Tivemos pouca evasão”.

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