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Falência da Varig no Brasil deixa valiosos ensinamentos aos negócios

Falhas na gestão de crise, governança frágil e péssima tomada de decisões estão entre as principais falhas da cia aérea

09 Abr 2024 - 13h00Por Daiana Barasa
Falência da Varig no Brasil deixa valiosos ensinamentos aos negócios -

Empresas que tinham potencial para continuar gigantes no mercado, mas que por inúmeras razões deixaram de existir, sempre têm muito a ensinar sobre os desafios e as melhores práticas de gestão em um ambiente dinâmico e competitivo, como é o caso da companhia aérea brasileira, Varig.

 

Com ampla experiência no cenário corporativo, desempenhando papéis de conselheiro consultivo e consultor à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, Carlos Moreira tem dedicado sua trajetória a auxiliar empresas, especialmente as familiares, e aborda sobre o case de falência da Varig e seus aprendizados aos gestores.

 

Fatos que levaram ao declínio e falência da Varig

 

Idealizada pelo imigrante alemão, Otto Ernst Meyer-Labastille, a Varig foi fundada em 1927 como “Sociedade Anônima Empresa de Viação Aérea Rio-Grandense”, sendo a primeira empresa de transporte aéreo no Brasil e com crescente visibilidade internacional.

 

Meyer-Labastille firmou parceria com a companhia aérea alemã, Condor Syndikat (hoje Lufthansa), que foi a responsável por fornecer uma aeronave e a equipe de profissionais para operá-la em troca de 21% da empresa aérea brasileira.

 

Os primeiros sinais de declínio da Varig começaram na década de 1980, impulsionado significativamente pela crise na economia brasileira e fatores como elevada depreciação do cruzeiro, hiperinflação e com a inconstância na política.

 

Além disso, as políticas implementadas no período da pós-ditadura militar deram prioridade ao congelamento das tarifas aéreas, que já estavam defasadas, resultando em descontrole na gestão das companhias aéreas.

 

A Varig destacou-se como a única companhia aérea brasileira a ter exclusividade na operação de rotas internacionais de longo alcance. Essa liderança perdurou por dezoito anos e chegou ao fim em 1991, durante o governo de Fernando Collor de Mello.

 

As demais empresas brasileiras, Vasp e a Transbrasil também passaram a operar rotas internacionais, sendo assim, as quatro empresas norte-americanas (American Airlines, United Airlines, Continental e Delta, passaram a operar voos para o Brasil).

 

A abertura do mercado para empresas brasileiras no mandato de Collor sem a devida pesquisa e estruturação gerou um nível de concorrência desigual. Enquanto no Brasil havia duzentos aviões, as empresas estrangeiras operavam com dois mil.

 

Afundando-se cada vez mais em dívidas, a Varig enfrentava altos custos operacionais e gastos desenfreados. Em junho de 2005, a companhia entrou com um pedido de recuperação judicial, marcando o primeiro grande caso sob a nova lei de recuperação judicial, implementada um ano antes para substituir a antiga lei de concordata, com o objetivo de evitar a falência das empresas brasileiras.

 

Apesar dos treze meses seguintes tentando recuperar o negócio, a empresa foi vendida em julho de 2006, gerando a demissão de 5,5 mil profissionais. A Varig nova (sob nova direção) foi vendida à empresa Volo Brasil que por desentendimentos entre os sócios, acabou sendo vendida à empresa Gol.

 

Foi o fim da história de uma empresa que tinha tudo para continuar expandido e, acredite, qualquer empresa corre o risco de enfrentar o mesmo caminho. Quais os erros que levaram à falência da Varig? Será que era possível que a empresa se recuperasse mesmo diante de tantos problemas econômicos, falhas de governança e de gestão?

 

Quais lições do que não deve ser feito podem ser tiradas do caso da companhia aérea Varig?

 

Muitos fatores contribuíram para a falência da empresa Varig, vamos a eles:

 

Ausência de uma Governança Corporativa sólida

 

Sem dúvidas, a principal razão que levou à falência da Varig foi a ausência de práticas de governança corporativa. O autogerenciamento da empresa demonstrava a ausência de padrão de profissionalismo, colocando em boa parte de sua trajetória, os empregos e privilégios vivenciados por um pequeno grupo de funcionários acima da sustentabilidade empresarial.

 

A definição do conselho de administração da empresa foi realizada pelos funcionários, o que tirava do conselho o caráter independente como norteador das decisões do negócio, afinal, como conselheiros escolhidos pelos próprios profissionais poderiam, por exemplo, sugerir a mudança como é o caso da redução de custos por meio de cortes na folha de pagamento ou propor eliminação de privilégios?

 

Alguns dos principais pilares da governança corporativa como é o caso da transparência, prestação de contas e responsabilidade corporativa foram ignorados para que os privilégios de um pequeno grupo fossem mantidos à custa de prejuízos aos acionistas, fornecedores, funcionários, clientes e demais públicos.

 

Ausência de Gestão Financeira sólida

 

A falência da Varig também evidenciou a necessidade de uma gestão financeira sólida e sustentável. Falta de controle das despesas, de investimentos, do endividamento e a má distribuição do lucro (como no caso dos benefícios a um grupo seleto de funcionários) marcaram a trajetória de declínio da companhia.

 

A ausência de planejamento estratégico na administração dos recursos financeiros da empresa, sem dúvidas, contribuiu para culminar para o fim da era Varig no Brasil.

 

Problemas de adaptação às mudanças no mercado

 

A falta de adaptação da Varig às constantes mudanças no mercado da aviação também foi um fator determinante para o conturbado desfecho de sua história no mercado.

 

A empresa teve dificuldades em responder de forma ágil e eficaz às transformações no seu cenário de atuação como o surgimento de concorrência acirrada. Houve incapacidade de antecipação às mudanças, o que resultou na perda de participação de mercado e, consequentemente, na redução significativa de receitas.

 

A Varig também falhou quando ignorou a necessidade da inovação e de diversificação de serviços para melhor atender às novas demandas dos passageiros como, por exemplo, a oferta de tarifas mais acessíveis e a melhoria da experiência do cliente.

 

Buscar continuamente por novas estratégias de gestão é uma necessidade que não pode jamais ser ignorada pelas empresas.

 

Falhas na gestão de custos e eficiência operacional

 

A falta de controle eficaz dos custos e a ausência de melhorias na eficiência operacional levaram a uma redução nas margens de lucro e ao declínio gradual da saúde financeira da empresa. Isso ressalta a importância crucial de uma gestão meticulosa dos custos e dos processos operacionais em todas as organizações, especialmente em setores altamente competitivos e desafiadores, como o da aviação.

 

A lição aprendida com a queda da Varig enfatiza a necessidade de monitorar de perto os custos, identificar áreas de ineficiência e implementar medidas corretivas para assegurar a sustentabilidade e o sucesso em longo prazo da empresa.

 

Se antecipe e resolva os problemas antes que se agravem

 

Um ponto de reflexão importante no caso da falência da Varig foi o comportamento da gestão da empresa diante das dificuldades. A empresa assumiu postura “conformista” ao longo de sua trajetória, fazendo poucos movimentos em prol de sua recuperação.

 

Realizar mudanças na Varig naquele momento demandava uma postura firme, principalmente ligada ao corte de privilégios de um grupo reduzido de funcionários. Era fundamental profissionalizar a gestão e ter um conselho externo, de fato independente para nortear as principais decisões da empresa.

 

A Varig colapsou por falta de postura diante das dificuldades e quando de fato reuniu forças para tentar reverter a falência da empresa, já era tarde demais. Uma empresa que foi literalmente do céu ao chão, principalmente por permitir que os problemas fossem arrastados ao longo dos anos.

 

Fica o aprendizado da importância da profissionalização da gestão, governança sólida, conselho independente e principalmente, não ter medo de enfrentar os próprios erros.

 

Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.

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