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Cultura

Artista vence racismo com a arte

“Peles Pretas” está em cartaz no Edem Beer em Dourados

22 Set 2020 - 13h35Por Rozembergue Marques, especial para O PROGRESSO
Artista vence racismo com a arte - Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação

A artista plástica Kathia Pereira Paelo de Souza, mais conhecida como Kaká Paelo, reside em Dourados há 12 anos e tem mostrado ser possível vencer o racismo e o preconceito através da arte. Ela iniciou sua carreira artística em 2002 e alguns anos depois se distanciou do meio artístico devido à rotina exaustiva que infelizmente ainda caracteriza a rotina da mulher no Brasil: a tripla e às vezes quadrupla jornada de trabalho.

Após anos sem ter contato com a arte, em meio à pandemia a artista se redescobriu e se reinventou. Aos 40 anos e apesar de suas limitações visuais (possui apenas 20% da visão) e das constantes críticas as suas obras ela vem se destacando cada vez mais com o seu trabalho, que vai além da pintura. Kaká tem habilidades artísticas também no artesanato, com pinturas em vasos cerâmicos, mosaico picassiet, arte em madeira e outros trabalhos feitos com matérias recicláveis e obedecendo os princípios da sustentabilidade. É também cantora afinadíssima.        

Sobre as críticas quanto à escolha da temática negra nas pinturas, Kaká considera as mais abjetas possíveis se levarmos em conta a miscigenação que deu origem à população brasileira e muito bem tratada no livro “Casa grande & Senzala”, do escritor Gilberto Freyre. “Coisas do tipo para que você vai pintar pretos? ou quem vai comprar isso? e por aí adiante”, lamenta.

Alheia e altiva e como uma espécie de resposta a essas críticas, a artista montou a exposição “Peles Pretas”. A exposição, explica, “foi inspirada em mulheres que lutam contra o sistema machista preconceituoso e racista no qual estão inseridas”. Ainda sobre a inspiração e pintores que tem como referência, Kaká responde com uma sinceridade que chega a espantar: “Até por ser autodidata eu não tenho um pintor ou pintora como referência. Minha referência é minha história de vida. Bisneta de escravos, filha de uma mulher negra, mãe solteira, que criou quatro filhos sozinha”, diz, deixando claro a intenção da sua obra: quebrar o estigma associado a beleza e os padrões socialmente impostos, como visões estereotipadas, além do racismo velado que ainda permeia as relações sociais no país. A exposição “Peles Pretas” está em cartaz no Éden Beer, espaço multicultural em Dourados que reúne universitários, músicos e artistas de todas as vertentes.

Além de idealizar, criar as obras e montar a exposição “Peles Pretas”, nos próximos dias Kaká Paelo vai dar outro passo no sentido de mostrar ser possível o convívio entre as diferenças, notadamente étnicas ou de raça. A artista vai participar de uma Live que está sendo organizada por um grupo de indígenas. A ideia inicial do grupo era incluir na Live, destinada a arrecadar alimentos e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de prevenção à Covid-19 para distribuição na Reserva, apenas música, como o RAP e o gospel, cantadas pelos próprios indígenas. Depois de saberem do engajamento de Kaká na luta contra o preconceito, decidiram convidá-la para participar da Live pintado ao vivo uma obra e expondo as já confeccionadas.

“Me senti muito honrada com o convite. Sempre observei que os indígenas daqui e de todos os lugares também sofrem preconceito, assim como os negros. Poder colaborar coma minha arte para mostrar que é possível um mundo de iguais, de respeito às diferenças, é muito gratificante”, afirmou Kaká ao comentar o convite. A Live vai contar também com apresentação do jornalista e músico Rozembergue Marques (viola instrumental). “Acho que será muito legal unir o branco, o índio e o negro em uma manifestação contra o preconceito diferente, que é através da arte”, disse, por sua vez, o músico.

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