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Baile no Rancho

09 Nov 2010 - 17h19
  Baile no Rancho -

Esta crônica (ou artigo) já foi publicado há muito tempo e consta de nosso livro História Fatos e Coisas Douradenses, mas pelo fato de ler o artigo do Isaac de Barros Duarte sobre a vida nos ervais, estou reeditando com uma pequena revisão. A geração atual não faz idéia do trabalho heróico e sem descanso daquela gente. Nós vivemos isso.

Nos velhos tempos dava-se o nome de rancho apenas aos de elaboração de erva-mate. Não tinha o significado que muitos hoje dão, copiando o linguajar western, do Texas e do México. Não. Rancho era \"ervateiro\". Assim como rodeio não era desse tipo texano de hoje. Era reunião de gado e cavalhada para \"aparte\", marcação e \"beneficiamento\" (castração). Nessa reunião acontecia também a doma dos animais \"no ponto\", em torno de 3 anos de era.

Pois bem, havia as festas nos ranchos. Coisa muito rara, pois o erval funcionava o ano inteiro sem domingos nem feriados, numa luta tremenda que só os paraguaios e alguns índios agüentavam. Folga só existia na sexta-feira santa e no dia 8 de dezembro.

Quando acontecia uma coisa rara dessas, o principal da festa era o baile. No rancho não havia mulher. Nessas ocasiões é que as mulheres iam para a festa. O \"habilitado\" (administrador ligado à Empresa Matte Laranjeira) comparecia à festa acompanhado de convidados e entre estes, as esposas, irmãs, amigas. Enfim mulheres.

O rancho era constituído de várias construções de pau-a-pique e cobertas de sapé ou pindó. Mas a única parte para a qual havia o cuidado de nivelar o terreno, era o \"molino\" ou \"cancha\" para triturar as folhas secas. Todos os outros compartimentos eram em terreno inclinado já que o rancho era sempre junto a um rio ou córrego.

O \"salão\" de baile era, portanto uma peça, um depósito, previamente desocupada na ocasião, para esse fim. Muito inclinado necessitava-se de grande esforço para ir e vir e, principalmente, dançando.

Lembramos de um baile no rancho Guayayvy (Guajuvira), de Don Andersen. Ficava ali cerca de duas ou três léguas depois do rio Dourados, caminho de Caarapó. Tenho a impressão de era onde hoje é Nova América. O \"salão\" era num plano inclinado bem acentuado. As músicas da época eram rancheras, polcas paraguaias e chamamés correntinos. Eram de ritmo forte, bem puxado e, naquela inclinação de mais ou menos 5%, a gente tinha que na subida \"engatar uma primeira\" e levar a \"dama\" no peito até o ponto mais alto. Aí dava a volta e como que \"puxava o freio de mão\", segurando a dama para evitar que fosse sozinha ladeira abaixo. Era um exercício para academia nenhuma botar defeito.

Para completar a falta de conforto, o piso era chão bruto nem bem destocado e largava uma poeira danada. Além disso, era a iluminação a querosene que expele aquela fuligem que impregna as narinas. No final da noite todo mundo estava com \"tijolos negros\" nas narinas. Mas que coisa gostosa eram aquelas festas!....

Quando o baile estava bem animado, havia as \"salvas\": todo mundo dava \"tiro para o ar\" (rancho coberto de capim ou pindó, não fica furado). E durante o dia e a noite, pois que o baile começava de dia, havia comes e bebes. Tudo muito simples, onde predominava mandioca, chipa e carne. Nessas ocasiões havia \"vista grossa\" para a lei seca e os convidados levavam Vermouth, conhaque, guaripola (cachaça), etc. Mesmo assim, a disciplina era mantida pelo fato de que todo mundo estava armado e com isso há a contenção pelo respeito próprio do equilíbrio bélico. A alegria tomava conta de todos. Ocasionalmente aparecia alguém com um vidro de perfume (Royal Briar, Royal Ciclam, Claveles de Mirúrgia) e derramava na cabeça de todos.

Quando falamos de coisas do passado, muitos taxam de saudosismo, mas se pensarmos bem, o que é o tempo? É um composto de passado, presente e futuro. O Passado é tudo o que já se viveu; o presente, bem... vê que já passou...Presente é fração de segundo. O futuro ninguém sabe e...como vamos falar dele ? Portanto só se pode falar do passado que é a única parte do tempo que de fato existe em nossa vida. Não é saudosismo. É a constatação de fatos reais. Portanto falemos do passado que lembrar revive e quem revive revigora mantendo a jovialidade até o fim.

######  Médico – escreve às 4ªas feiras n’O Progresso

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