Um golpe muito conhecido é realizado a partir de links enviados ao consumidor - Crédito: FreepikComo toda tecnologia, a inteligência artificial pode servir para o bem ou para o mal. Atualmente, a IA vem sendo muito utilizada no comércio eletrônico, especialmente pelos bancos, para detectar procedimentos que mostram tentativas de fraudes. Vale lembrar que os próprios fraudadores também se valem da inteligência artificial para, a partir da captação de parte dos dados dos clientes, buscarem identificar por tentativa e erro os dados faltantes. Guilherme Guimarães Feliciano, professor associado do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social da Faculdade de Direito da USP, lembra que hoje em dia é muito comum utilizarem a inteligência artificial para, a partir de imagens de uma celebridade, realizar vendas enganosas.
“Um exemplo muito recente envolve as chamadas deep fakes […] por exemplo, a partir de determinada rede social, se divulga uma peça na qual uma determinada celebridade, um atleta ou um artista convidam o consumidor a conhecer determinada loja e ali adquirir produtos, serviços etc.; no entanto, na verdade, essa celebridade nunca gravou essas imagens, elas estão sendo produzidas com inteligência artificial e estão anunciando uma loja igualmente fake. Uma loja que foi maliciosamente estruturada na rede apenas para captação dos dados dos clientes.”
Guilherme Guimarães Feliciano – Foto: Arquivo Pessoal
Visando a evitar fraudes na compra de um produto ou de um serviço pela internet, a recomendação é utilizar sites conhecidos e que tenham lojas físicas. “Muito cuidado com sites que aparecem de repente, com marcas pouco conhecidas e com propostas que sejam inusuais. Muitas vezes, o chamado negócio da China, expressão utilizada para identificar excelentes negócios, na verdade escondem apenas golpes. São apenas ensejos para a prática do estelionato, essas fraudes no comércio eletrônico. São estelionatos pela via eletrônica.”
O professor explica que um golpe muito conhecido é realizado a partir de links enviados ao consumidor, por meio dos quais este é instado a resolver um problema em uma determinada página e ali esclarecer uma compra que não foi feita ou realizar uma compra que é oferecida a um “excelente” valor . A rigor, o site não existe e as lojas virtuais e páginas falsas são muito comuns e podem causar danos, uma vez que captam os dados dos consumidores e permitem seu uso para o cometimento de outras fraudes. Essas lojas ficam no ar tempo suficiente para causar muito prejuízo e, quando são descobertas, são desativadas.
Páginas falsas
Uma situação muito pior e, segundo o professor, muito mais fácil de fazer são as páginas falsas. “Então, na verdade, não existe nem a loja virtual. É apenas a página falsa que emula, por exemplo, a página do banco. Uma outra cautela que o consumidor deve ter é desconfiar daqueles produtos, serviços que sejam oferecidos a um preço pequeno demais, irreal, um valor que não corresponde ao que geralmente se encontra no mercado, pelo contrário, está muito abaixo disso.”
Para garantir a segurança e evitar fraudes, o melhor é realizar atividades bancárias ou compras diretamente no estabelecimento. Uma das fraudes mais comuns realizadas é a da compra confirmada. “A pessoa recebe um telefonema, uma mensagem por SMS, WhatsApp ou e-mail, informando a realização de uma compra de 8 mil e tantos reais, que foi confirmada, e o débito se dará na fatura do próximo mês. Se, por acaso, você não efetuou essa compra, click aqui no link, se for uma mensagem. Geralmente, o link poderá levar a uma página falsa, ou então, por telefone, o indivíduo dirá que não efetuou a compra, e aí o estelionatário fará uma transferência de ligação para um outro estelionatário, que vai colher as informações pessoais que o consumidor, ingenuamente, estará transmitindo, imaginando que, com isso, vai sanar o problema. Essa fraude tem funcionado muito e, portanto, tem aumentado, relata Feliciano.”
Outras fraudes comuns, citadas em pesquisas, são a do falso anúncio – em que se divulga um produto a um preço muito bom em um link e site falso apenas para capturar os dados ou para obter o valor cobrado, mas o produto nunca é entregue – e a do roubo de dados do cartão, que ocorre quando o estelionatário consegue, de alguma maneira, às vezes até mesmo física, todos os dados nele contidos.
O consumidor lesado pode atuar das mais diversas formas, conforme o tipo de fraude, mas o primeiro passo é fazer um Boletim de Ocorrência. Tendo isso documentado, pode procurar a empresa; se ela se recusar a solucionar o problema, deve-se recorrer ao Procon e, em último caso, às vias judiciais.
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