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Wilson Valentim Biasotto

Esses médicos... ( I )

13 Ago 2016 - 11h00
Esses médicos... ( I ) -
Enojado com o golpe que está levando o Brasil ao retrocesso e com a prática do jornalismo marrom, deixo hoje de falar sobre política e dispenso minha atenção aos médicos, pelos quais nutro sentimentos antagônicos. Começo com uma estonteante surpresa. Estava eu em um grande shopping perguntando à vendedora se ela poderia me indicar alguma vitamina que me ajudasse a resistir à radio e à quimioterapia. Respondeu-me que precisaria de orientação médica. Vupt: um jovem médico me recomenda determinada vitamina. Atônito com a sensibilidade e cortesia do jovem, trocamos algumas palavras e somente fiquei sabendo que trabalhava em um hospital de Londrina. Hipócrates, o pai da medicina Ocidental, deve ter reconhecido nesse médico um filho: "A vida que professar será para benefício dos doentes (...) nunca para prejuízo deles ou com malévolos propósitos".


Será que esse médico endurecerá o seu coração em virtude das vicissitudes de sua profissão? Ou nossas universidades estão humanizando a prática médica, por terem aprendido que o paciente muitas vezes precisa de um sorriso, um bom dia, uma conversa preliminar (anamnese)? Tendo sido atendido por seis ou sete egressos da UFGD, percebo com satisfação que o atendimento dispensado é atencioso e seguro.
Verdade que o currículo do curso de Medicina da UFGD, elaborado pela professora Dirce Ney, pelos médicos Takeschi, Leidiniz, Denise Nimirovisk e eu, previa a formação do médico generalista, o clínico geral, muito útil especialmente para as equipes de "médicos de família". Mas houve mudanças, até certo ponto compreensíveis, pois o mundo atual exige especializações em todas as áreas, tamanho é o capital científico e tecnológico de que dispomos.


Constrangedor é quando o paciente se depara com o médico que sequer levanta a cabeça para um cumprimento. Desconhece que o doente que o espera ansioso, somente por entrar em sua sala sente-se melhor, por sentir-se seguro.


Verdade que há médicos que pouco falam ou sorriem mas curam. No final dos anos de 1980, desenganado em Dourados, busquei socorro para minha saúde em três grandes centros médicos do interior paulista e quando volto, desesperançado, sou curado pelos préstimos do Dr. Ricardo Zocolaro.


Em 1974 criamos no CEUD (atual UFGD) o Teatro Universitário de Dourados. Em 1975 assistia a uma apresentação, o casal de médicos Dalila e Rodolfo Rupp. Durante o debate o Dr. Rodolfo criticou negativamente a trilha sonora. Convidado a colaborar, tivemos desde então em nossa equipe um ser dedicado em selecionar de sua imensa discoteca as trilhas sonoras para as nossas peças teatrais. Discreto, às vezes absolutamente anônimo, preciso constar o que poucos sabem: o Dr. Rodolfo Rupp foi importante para a criação do curso de medicina e pela passagem da Santa Casa, pertencente à SODOBEN, para a UFGD, quando o presidente era Ricardo Demaman.


Existem dezenas de tipos de professores, precisaríamos fazer uma pesquisa sobre tipos de médicos, tipos, não especialidades. Dia desses elogiei o Dr. Frederico Somaia, que cuida de meu coração há mais de trinta anos, dizendo-lhe que ao longo de sua carreira, havia percebido nele louvável transformação: de pouca conversa quando começou, passou a dialogar mais e sorrir para os seus pacientes, respeitando diferenças políticas e ideológicas. Ele, assim como tantos outros médicos que ministram aulas na Medicina da UGFD, não somente contribuem com o aprendizado de seus alunos, mas aprendem ensinando.


Em compensação dias desses um médico postou gozações sobre um seu paciente, que falava errado a língua portuguesa. Menos mal que a Dr. Julia Rocha defendeu o direito de seus pacientes falarem errado. Não era culpa deles, mas da falta de oportunidades em suas vidas, disse ela. Verdade, resta saber quem está mais incorreto: o paciente que fala errado ou o médico que fala termos técnicos rebuscados que o paciente não entende?


Existem disputas internas dentro da categoria médica, mas quando se unem em torno de um projeto, são fortes. Lembro-me de que quando tínhamos criado o curso de Medicina, e não dispúnhamos de professores, 65 médicos douradenses apresentaram-se no anfiteatro do CEUD (UFGD) para cooperarem e, muitos deles, chegaram até a frequentar um curso de Didática oferecido pela professora Adir Casaro Nascimento (continua na edição de Sábado próximo).



Membro da Academia Douradense de Letras. e-mail: [email protected]

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