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Debate de lusófonos na ONU News realça desafios pós 25 de abril

Secretário-geral António Guterres defende que do ponto de vista histórico, levante "deveria ter ocorrido décadas mais cedo"

24 Abr 2024 - 20h45Por ONU News
No debate sobre a Revolução dos Cravos, veio à tona a questão da convergência dos países de língua portuguesa - Crédito: ONU/Mark Garten No debate sobre a Revolução dos Cravos, veio à tona a questão da convergência dos países de língua portuguesa - Crédito: ONU/Mark Garten

Para marcar os 50 anos da “Revolução dos Cravos”, a ONU News realizou um debate de alto nível com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e os representantes permanentes nas Nações Unidas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor-Leste. 

A discussão trouxe reflexões sobre a importância daquele momento histórico, quando antigas colônias portuguesas se mobilizavam pela liberdade e o país europeu transitava do autoritarismo para a democracia. 

Estar do lado certo da história

Tendo vivenciado os eventos da conhecida como a “Revolução dos Cravos” em Portugal, Guterres declarou que “estar do lado da liberdade contra a opressão” é estar do lado certo da história.

“É claro que estamos do lado certo da história libertando um país da ditadura e estamos do lado certo da história reestabelecendo justiça nas relações internacionais, depois de um passado colonial que é inaceitável”.

Para o líder da ONU, “a verdade é que não teria havido o 25 de Abril sem o que foi a luta dos movimentos de libertação africanos”. Segundo ele, “as duas coisas estão interligadas e é por isso que não há uma relação de causa e efeito”.

Nesse sentido, o chefe das Nações Unidas afirmou que se alguma coisa pode ser criticada no 25 de abril, é que, “do ponto de vista histórico, deveria ter ocorrido décadas mais cedo”. 

Interlocutores legítimos 

Em resposta à primeira pergunta do debate, o representante de Angola, Francisco José da Cruz, afirmou que a “Revolução dos Cravos” teve uma grande importância para os angolanos por ter criado a dinâmica que levou à independência do país. 

“Ficou mais claro o desejo de Portugal de avançar neste processo quando o secretário-geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim, visitou Portugal em agosto e Portugal deixou claro que este seria o caminho a seguir e que os movimentos de libertação seriam os interlocutores legítimos neste processo que levaria à independência”.

Respondendo a mesma pergunta, o embaixador brasileiro, Sérgio Danese, disse que o 25 de abril teve dois impactos principais no Brasil, que à época vivia um regime militar. O primeiro foi o de mostrar que “havia uma esperança” para um caminho de redemocratização. O segundo foi na diplomacia.

Participaram no debate embaixadores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor-LesteParticiparam no debate embaixadores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor-Leste - Foto: ONU/Mark Garten

 

“Nós tínhamos uma contradição muito forte na nossa política externa. Nós reconhecíamos a independência de todas as ex-colônias francesas, britânicas, holandesas, mas nos mantínhamos presos ao colonialismo português e o 25 de Abril e as suas imediatas consequências nos libertaram prontamente desse jugo. E nós fomos o primeiro país a reconhecer Angola. E depois fomos dos primeiros a reconhecer cada uma das ex-colônias portuguesa.

Cooperação bilateral

Respondendo sobre o que ajudou a moldar novas relações entre as nações do bloco lusófono, a embaixadora de Cabo Verde, Tânia Romualdo, destacou a relação entre os povos como a base para o vínculo entre os Estados que surgiram naquele momento.

“Essa revolução permitiu não começar, mas continuar essa profunda amizade que unia os povos. Portugal às ex-colônias, o Brasil, enfim. Havia ali uma união, uma amizade muito forte que antecedeu a própria revolução, que contribuiu para a revolução e que ajudou para que o processo da descolonização, após o 25 de Abril, acelerasse a cooperação bilateral”.

No debate sobre a Revolução dos Cravos, veio à tona a questão da convergência dos países de língua portuguesa, não obstante a diversidade durante a construção democrática e de novas nações.

 Bloco lusófono

O embaixador Pedro Comissário, de Moçambique, destacou como o bloco lusófono se distingue por vínculos de proximidade e solidariedade junto das Nações Unidas. O país é o único do bloco lusófono atualmente representado como membro não permanente do Conselho de Segurança. 

“A Cplp é um modelo totalmente diferente  do modelo da Commonwealth ou da Francofonia. É um modelo de Estados soberanos, mas ligados por um vínculo de profunda fraternidade. O 25 de abril deu-nos essa base, esse impulso para que hoje tenhamos este afeto que une os nossos países.”

Guterres classifica as relações de cooperação que hoje existem entre os países lusófonos como um Guterres classifica as relações de cooperação que hoje existem entre os países lusófonos como um “símbolo de paz” - Foto: ONU/Mark Garten

 

Nessa questão, a embaixadora de Portugal, Ana Paula Zacarias, mencionou esforços em curso na frente diplomática para se fazer ouvir a voz comum, em português, nas Nações Unidas. Ela enfatizou que algumas posições comuns já se escutam na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança. 

“E fazê-la ouvir significa trabalhar em conjunto. Trabalhar em conjunto nas áreas que já foram identificadas. Sobretudo, temos muito a fazer na coordenação política, na coordenação das questões de segurança e defesa, que são neste momento um aspecto fundamental. E tudo o que tem a ver com a luta contra as alterações climáticas.”

Cenário político e de desenvolvimento

O representante de Timor-Leste, Dionisio Babo Soares, falou de um reforço em nível interno e externo para impulsionar a futura atuação em bloco em um mundo marcado por complexidades no cenário político e de desenvolvimento.

“Para Timor-Leste, a Cplp é um ponto de entrada ao mundo.  Os países-membros são os que estão localizados em diferentes partes do mundo. O esforço para a reintrodução da Língua Portuguesa em Timor-Leste está sendo mais intensivo. Trabalhamos juntamente com Portugal nesse sentido e estamos empenhados a avançar com esse programa que é ter o português como língua oficial das Nações Unidas, mas para além disso há também trabalhamos em várias áreas.”

Olhando para o futuro, Guterres classifica as relações de cooperação que hoje existe entre os países lusófonos como um “símbolo de paz” que deve inspirar o mundo. 

“Uma mensagem de grande esperança de que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que está em todos os continentes e onde há hoje um profundo sentido de fraternidade que infelizmente falta no mundo, onde vemos divisões profundas, guerras e conflitos por toda a parte. Que esta comunidade, que é um símbolo de paz, possa ter um papel decisivo em restabelecer a confiança que está perdida, infelizmente, no nosso mundo e em restabelecer as condições que nos possam permitir não apenas mais paz, mas ao mesmo tempo um desenvolvimento mais justo”.

A íntegra do debate inclui intervenções completas do secretário-geral da ONU, António Guterres, e dos embaixadores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor-Leste.

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