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Identidade

Dourados de todas as culturas e povos

26 Dez 2019 - 16h33Por Hakeito Almeida
A professora e diretora do Casulo Graciela Chamorro - Crédito: DivulgaçãoA professora e diretora do Casulo Graciela Chamorro - Crédito: Divulgação

Dourados vem acolhendo ao longo dos anos, ativistas culturais de vários países, principalmente da América Latina, proporcionando inestimável contribuição na realização de projetos solo ou trabalhos em grupo trazendo para a cidade o legado absorvido na origem de cada um.

Natural de Concepción, no Paraguai, a professora e presidente do Espaço de Cultura e Arte -  Casulo, Graciela Chamorro, aponta singularidades entre as expressões culturais do seu país de origem e Dourados.  “Não há só uma Cultura, mas várias, em virtude dos meios de comunicação de massa. Grande parte do antigo Sul de Mato Grosso do Sul, foi povoada por paraguaios ervateiros, vaqueiros, peões, comerciantes. Os descendentes se identificam como paraguaios, alguns falam guarani e espanhol e cultivam os costumes culinários, musicais e religiosos dos seus avós, que também são praticados por brasileiros sem ascendência paraguaia. De quem é a polca, a guarânia e o chamamé? Dos argentinos? paraguaios? brasileiros? europeus? De todos”, questiona Graciela.

Ela ressalta que o preconceito histórico contra os povos indígena, atinge a difusão da arte.  “No Paraguai como em Mato Grosso do Sul, as culturas dos índios são desqualificadas como expressões culturais menores restritas aos indígenas.  A presença de afrodescendentes em Dourados, embora menor em relação à média no Brasil, é muito maior em relação ao Paraguai, onde a escravização de indígenas foi muito superior à de africanos. Isto se reflete também nas expressões culturais. O Paraguai não produz samba nem capoeira”, exemplifica.

Como ministrante de oficinas de cânticos indígenas, Graciela defende o estudo da língua kaiowá e a guarani, falado no Paraguai. “No meu trabalho, reencontro-me, reflito sobre mim mesma e sobre as possibilidades destas línguas dizerem o que o Português e outras línguas românicas não sabem dizer. Me identifico com as crianças indígenas que sofrem bullying por não falarem "bem" o Português, pois, como muitas delas também fui alfabetizada numa língua que não sabia falar, o espanhol. Ao cantar as músicas indígenas, e mesmo as não indígenas, nos apropriamos sempre do que outras pessoas ou comunidades criaram, transpomos esses cantos para outros ambientes. Com isto, continuamos a criação aproveitando suas possibilidades rítmicas, melódicas e harmônicas e nos enredamos numa rede de solidariedade que a arte é capaz de tecer. A cada novo encontro, novas palavras, novos exemplos de uso, o horizonte poético se estende e o respeito pelos seus e suas falantes se agiganta”, argumenta.  

Graciela Chamorro morou até os 18 anos no Paraguai. Veio ao Brasil para estudar. Formada em Música e Teologia, chegou em 1983 a Dourados. Ministrou aulas no Seminário Batista Ana Wollerman, Academia Vila Lobos, na Unigran, no Centro Cultural Guaraoby, nas escolas da rede municipal através da então Fundação Cultural e de Esportes de Dourados (Funced). A sua incursão pela música indígena e a língua kaiowá ocorreu nas Aldeias de Dourados, Panambizinho e Caarapó, quando foi surpreendida pela riqueza de cânticos e rituais. Até o ano passado lecionou a disciplina História Indígena na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). No Casulo, Graciela dedica ao ensino da língua e da cultura kaiowá e guarani e acompanha desde 2015, o grupo Verajú, que leva ao palco os indígenas e suas músicas. Além de integrar um coletivo de produtores culturais que esmiúça a música terena, ela lidera um Laboratório de Voz. 

Pertencimento

Há cinco anos vivendo em Dourados, a venezuelana Rosana Daza pode transformar os seus sonhos em realidade. Tornou-se mestre em Letras pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), sendo que a sua dissertação foi a primeira a ser redigida em Espanhol, além de ser autora do livro de poemas “Mujer Inmigrante”, publicado pela Editora Arrebol Coletivo. “Tive uma intensa participação cultural na Venezuela quando morava lá desenvolvendo ações comunitárias. Sou apaixonada pelas palavras. Depois que passei a morar no Brasil, intensificou minha paixão pelas Letras e a Linguística. Sobretudo agora, que minhas filhas estão sendo alfabetizadas”, relata Rosana, que recorda com saudades da animação do seu povo nas festividades. “Os venezuelanos são alegres. O nosso baile típico é o joropo. Gostamos de dançar os ritmos da salsa e merengue”, completa.

As suas memórias da infância e juventude estão em “Mujer Inmigrante”. “A obra foi escrita em espanhol e assim minhas raízes estão não só presentes, estão protegidas e vivas em cada página. Todos meus sentimentos foram colocados à flor da pele e assim não perdi nenhum. É um livro que dá voz à mulher latino-americana, principalmente às adversidades que todas passam quando saem de sua pátria, reescrevendo-se em um outro lugar, seguindo firmes como mãe e esposa”, comenta.

 Na opinião de Rosana, a crise política do governo de Nicólas Maduro impacta todos os setores. “Acredito que está afetando a gestão dele é a área da Economia. A crise afeta tudo e a Cultura não escapa disto. Tenho informações por amigos poetas da Venezuela, que não há papel para imprimir livros e a Internet tem uma conexão muito ruim. Os governos que não dão importância as suas diversidades culturais, não pensa realmente no país e muito menos no povo. É fundamental manter nas novas gerações a nossa identidade latina- sul americana em que crianças e jovens possam ter mais oportunidades e contato com as Artes”, arremata.

 

 

 

 

 

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