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Paulo Freire e o não determinismo

24 Out 2015 - 07h00
Paulo Freire e o não determinismo -
Wilson Valentim Biasotto


A editora da UFGD já publicou 160 obras nessa sua curta existência e eu, um tanto lentamente vou tentando acompanhar as publicações inclusive catalogando-as em meu site (www.biasotto.com.br). No momento, com delicioso prazer, leio “Universidade e Educação Básica no Brasil: a atualidade do pensamento de Paulo Freire”, livro organizado pelo professor Paulo Gomes Lima, com sete artigos de professores sobre a obra freiriana.


Como é sabido, Paulo Freire foi um dos mais, senão o mais, importante educador do século 20 e continua atual e indispensável para todos os que acreditam numa educação transformadora.


Paulo Freire, assim como eu, era fumante. Ele refletiu sobre esse seu vício e dessa reflexão formulou uma teoria que conto-lhes a seguir. Primeiro devo dizer que fui um fumante inveterado e mal educado até os 40 anos de minha existência, andava com um pacote de cigarros no porta luvas do carro e mantinha outro no guarda-roupas em casa. Belo dia, vejo-me sem cigarros e como eles faziam parte de mim sai para comprar aquilo que julgava fonte de prazer. Na volta, enquanto tragava voluptuosamente, comecei a pensar sobre os males que o cigarro provocava.


Tínhamos, àquela época, Helena e eu, três filhos ainda crianças, e o cigarro poderia me levar à morte bem cedo, sem ao menos ajudar minha mulher a cria-los. E, além disso, o meu fôlego já não era suficientemente forte para ajudar meus companheiros nas peladas de futebol. Subitamente atirei pela janela do carro o toco de cigarro e decidi nunca mais fumar. Sofri, mas já se vão quase 28 anos de boa saúde.


Minha ação foi de ordem prática. Paulo Freire, refletiu sobre o ato de fumar e teorizou sobre o assunto que se presta também para levar-nos a pensar sobre quaisquer outros projetos de nossas vidas.


A professora Marina Vinha, em artigo “Pedagogia da indignação de Paulo Freire”, no livro supracitado, evidenciou que, para abandonar o vício, Freire primeiro reconheceu a sua fragilidade sobre tabagismo para depois reagir. Em resumo, ela explicita que o tabagismo diante da vontade enfraquecida e de uma resistência frágil, faz com que a pessoa não lute contra a opressão.


A autora conclui que Paulo Freire, a partir dessa vivência, sentencia que “jamais temos que nos entregar à falsidade ideológica da frase: ‘a realidade é assim mesmo, não adianta lutar”. Tanto nas injustiças sociais quanto na briga pessoal com as drogas, não importa qual delas, ao aceitar que ‘nada se pode fazer’ solapamos e fragilizamos o ânimo necessário para vencê-las”.


É isso. Com essa reflexão sobre um fato corriqueiro, diante da grandiosidade da obra de Paulo Freire, podemos avançar para outros exemplos. Governantes de ânimo fraco não conseguem constituir uma equipe forte. Diante de crises, curvam-se, procuram em terceiros a culpa, sem esboçarem o mínimo esforço para estudar a causa, a proveniência da crise e tentar meios de superá-la.


No âmbito do Legislativo Federal, muitos têm o ânimo fraco e deixam as coisas acontecerem e existe ânimos fortes, mas que defendem posições diferentes. Atualmente, por exemplo, estamos passando por uma crise do capital, veja o leitor, uma crise do capital, não de governança. Diante da crise, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), relator do projeto de Orçamento para 2016, deseja cortar 10 bilhões do Bolsa Família.


Ora, esse deputado tem ânimo forte, mas para proteger o capital de duas formas: não colocando o dedo na ferida, ou seja, não provocando uma auditoria da dívida, que somente favorece os renatistas e ao mesmo tempo exclui o Bolsa Família para gerar a pobreza e, por via de consequência, criar um exército de reserva para proporcionar mão de obra barata, favorecendo assim, mais uma vez, a elite econômica.


Ânimo forte têm também os deputados e senadores que se contrapõe a esse corte, pois sabem que o Bolsa Família tirou 36 milhões de brasileiros da faixa de pobreza. Dez bilhões pouco significado têm diante da dívida pública interna, que consome mais de 40% do Orçamento da União e favorece apenas e tão somente os rentistas. Nesse caso, o caminho seria provocar uma auditoria da dívida, um arrocho sobre os bilionários sonegadores e dar continuidade ao combate à corrupção, mas sem favorecimentos a esse ou aquele partido e acima de tudo com respeito à Constituição.


Membro da Academia Douradense de Letras. e-mail: [email protected]

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