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Doméstica forma a filha em pedagogia e está prestes a se tornar chef gourmet

02 Mar 2020 - 14h00Por Cristina Nunes - Especial para O PROGRESSO
Doméstica forma a filha em pedagogia e está prestes a se tornar chef  gourmet -

A rotina de trabalho doméstico de dona Josenilda Ramos dos Santos, de 49 anos, começou cedo. Ainda criança, aos 9 anos, ela passou a trabalhar fora de casa, fazendo limpezas em residências.  Apesar das dificuldades, é com essa profissão que ela conseguiu realizar muitos sonhos e agora está prestes a concluir o curso de tecnólogo em Gastronomia na Unigran (Centro Universitário da Grande Dourados).


Josenilda nasceu em Naviraí  mas já se considera uma douradense, pois mora no município há mais de 30 anos. “Me orgulho do meu trabalho, pois foi através dele que consegui conquistar a casa própria, ajudar no sustento e formação acadêmica da minha filha e hoje pago a minha faculdade”, relatou Josenilda.
Para que o sonho de se tornar uma tecnóloga em gastronomia se concretize, Josenilda batalha bastante, tornando-se um exemplo de superação e força de vontade. Todos os dias ela sai cedo de casa, percorre alguns quilômetros de bicicleta até a residência onde trabalha, no Jardim Europa. “Chego a tardezinha, tomo um banho e vou correndo para a faculdade, de bicicleta também, volto só depois das 22h”, afirmou a doméstica.  

 


Josenilda tem planos para quando terminar a faculdade. “Pretendo continuar me aperfeiçoando nos estudos e quero conhecer a Itália, que é uma referência mundial em gastronomia”, destacou.


A jovem Luana Ramos Batista, de 24 anos, filha de dona Josenilda relata que sente muito orgulho da mãe. “Ela sempre trabalhou de doméstica e fez de tudo por mim a vida toda. Depois que me casei e terminei a faculdade de pedagogia, ela iniciou a dela”.


“Tive uma filha na adolescência, desde o início ela sempre cuidou de mim e da minha filha, nunca me deixou parar de estudar, sempre se ‘virou nos 30’. Sendo assim eu devo, sem dispensar o auxílio do meu pai e do meu esposo, tudo a ela”, contou a jovem. 


Em entrevista ao PROGRESSO, a Presidente da Associação das Empregadas Domésticas de Dourados, Rosimar Rosa Vieira, foi enfática ao dizer que a classe merece respeito. “As domésticas podem sim viajar para praia, ter carro, é uma profissão digna. Infelizmente na minha época não éramos tratadas com dignidade na maioria dos lugares. Mas hoje podemos viver uma vida diferente”.

 

PEC das Domésticas: 7 anos de uma conquista

Em 2013 foi promulgada a Emenda Constitucional 72, mais conhecida como a PEC das Domésticas (PEC 66/2012). Em abril deste ano completa-se 7 anos dessa conquista. Os trabalhadores domésticos adquiririam uma jornada de trabalho de 8h por dia, totalizando 44 horas semanais, passando a ter direito à horas extra e aos demais direitos assegurados no regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Em entrevista ao PROGRESSO o advogado Wander Medeiros, Presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas e Previdenciários de Dourados e Itaporã destacou após se passar 7 anos da aprovação da PEC não houve desemprego em massa, conforme questionado na época.


“Não temos dados de diminuição de mercado para empregadas domésticas por causa da aprovação dos direitos, o que se vê é os empregadores se adequando a lei. Há sim um número alto de desempregados e muita informalidade, mas isso faz parte do cenário geral da economia fragilizada”, explicou Wander.

De acordo com o advogado após a aprovação não houve aumento de processos. “Caiu a demanda de ações do juizado da Justiça do Trabalho, isso como fruto da Reforma Trabalhista das mudanças trazidas pela Lei nº 13.467/17”, afirmou.

Apesar das conquistas, ainda há muita luta. “O grande desafio para a classe dos domésticos é a conscientização para a formalização. Atualmente quase não existem mais dúvidas jurídicas para o empregador, o assunto foi muito divulgado e eles estão cientes dos direitos. O patrão sabe bem o que tem que cumprir, o que ocorre são questões econômicas e históricas, muitos ainda não se conscientizaram e não dão o devido reconhecimento a classe”, destacou Medeiros.

 

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