Foto: Fellipe Bryan Sampaio - Elivelton Macêdo não se sente compreendido por ninguém -
IG“Ninguém no mundo me entende”. A afirmação de Elivelton Pêgo de Macêdo, de 14 anos, poderia ser facilmente interpretada como uma crise normal da idade. Mas o estudante da 8ª série do ensino fundamental não é um adolescente qualquer. As palavras de Elivelton refletem a realidade de quem faz parte de uma minoria ainda estereotipada ou até invisível para os brasileiros.
Elivelton é um dos 5.600 estudantes do País identificados como superdotados. Está longe de qualquer estereótipo de gênio: não usa óculos, não estuda o tempo todo, não pensa em ser cientista e muito menos vive isolado. Elivelton é falante, adora escrever, desenhar, atuar. Mas fazer parte de uma parcela tão pequena da população significa, muitas vezes, sentir-se só mesmo com muita gente ao redor.
A habilidade de raciocínio e a capacidade de aprendizagem acima da média se tornaram fontes de incompreensão. Elivelton era confundido com uma pessoa desinteressada. Como gosta de coisas distintas e aprende rápido, logo se entedia. Problema para professores e para a família, já que ele precisa de desafios constantes para se manter focado. Há dois anos, porém, ele garante que a vida melhorou.
Elivelton mora no Varjão, comunidade de baixa renda do Distrito Federal. No início de 2008, uma professora de português percebeu que o menino quieto possuía uma criatividade fora do comum. Encaminhou o adolescente ao serviço que atende crianças com altas habilidades no Distrito Federal, que existe há 34 anos. Livre para estudar o que o interessa e animado com a convivência com jovens como ele, se sente mais feliz.
Nas salas de recursos do Distrito Federal (como são chamados os ambientes que atendem os superdotados), os estudantes se encontram com professores treinados em identificar os talentos, as habilidades e as necessidades de cada um. Quem é encaminhado para uma das salas passa por avaliação. Eles ficam em observação na sala durante alguns dias e também são analisados por psicólogos, a fim de diagnosticar a superdotação.
“Logo em um dos primeiros encontros, entreguei um desafio de matemática para o Elivelton que professores da área levaram uma hora e meia para resolver. Enquanto voltava à mesa para pegar um papel na gaveta, ele disse que havia terminado. Não acreditei. Foram segundos. E estava certo”, conta Leila Branco, professora responsável pela sala de recursos que ele frequenta.
Os encontros com os jovens que são identificados com altas habilidades – que podem tanto ser intelectuais quanto artísticas, por exemplo – acontecem uma ou mais vezes por semana, sempre no horário contrário ao das aulas regulares. Os professores se tornam tutores dos estudantes, os auxiliam a desenvolver projetos e estudar o que mais gostam. Em todos os Estados, há núcleos nas secretarias estaduais de educação que oferecem atendimento aos superdotados.
Talentos perdidos
Os superdotados representam apenas 0,01% de todos os alunos matriculados na educação básica, segundo o Censo Escolar 2009. O número, dizem os especialistas, é subestimado. A falta de informação e sensibilidade para identificar as habilidades demonstradas pelas crianças e adolescentes faz com que muitos talentos continuem escondidos por aí. Pior, podem ser prejudicados pela falta de atendimento adequado.
Andrea Azevedo, psicóloga do Atendimento Educacional Especializado, afirma que o diagnóstico não é complicado. Mas é preciso ter sensibilidade para identificá-los corretamente. “Três características precisam andar juntas para que alguém seja identificado como superdotado: habilidade acima da média, alta criatividade e grande envolvimento com as tarefas”, diz.