Músico e pesquisador Rodrigo Teixeira proferiu palestra sobre o tema durante a realização do 3° Seminário Internacional de Integração e Desenvolvimento Regional. - Crédito: Foto: Divulgação
Uma pesquisa desenvolvida pelo músico e compositor Rodrigo Teixeira, revela que a forte presença dos músicos paraguaios se apresentando em território sul-mato-grossense foi reduzida a tal ponto que, hoje, eles estão praticamente “desaparecidos”.O trabalho de pesquisa, apresentado como tema de dissertação de mestrado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), foi desenvolvido recentemente em Campo Grande. Uma das finalidades foi identificar e traçar o perfil dos músicos paraguaios que adotaram a Capital sul-mato-grossense para “ganhar a vida”.
“Nas décadas de 1960, 70 e início dos anos 80, registrou-se um fluxo considerável dos músicos paraguaios em direção a Campo Grande. Eram profissionais de cidades fronteiriças como Pedro Juan Caballero e Bella Vista Norte, e também de várias cidades do interior do Paraguai, bem como da capital do país vizinho, Asunción. Eles vieram para Mato Grosso do Sul com o objetivo de ganhar dinheiro e conquistar a fama. Durante vários anos isso foi possível”, revela Rodrigo.
Muitos músicos fizeram bons contratos: “havia aqueles que tinham até carteira assinada ou contratos para tocar por longas temporadas em determinados lugares como casas noturnas e restaurantes. Na Capital, havia duas churrascarias famosas nas décadas passadas, a Vitórios e a Cabana Gaucha, que possuíam artistas exclusivos e clientes fiéis que adoravam a música tradicional paraguaia”, disse Rodrigo.
O músico e pesquisador proferiu palestra sobre o tema durante a realização do 3° Seminário Internacional de Integração e Desenvolvimento Regional, realizado na semana passada pela unidade da Universidade de Mato Grosso do Sul (Uems) de Ponta Porã, em parceria com a Unioeste de Toledo, Paraná.
“Não há mais lugar para a música tradicional paraguaia. Os músicos perderam espaço, apresentam-se com menor frequência, por conta da concorrência com outros gêneros como o sertanejo universitário, entre outros. Antes formavam duos, trios, quartetos e quintetos. Hoje se apresentam sozinhos em eventos particulares. Nos anos 70 tinha mais de 20 harpistas em Campo Grande. Hoje foi possível identificar apenas três. O total de músicos paraguaios não chega a 20 e a maioria com mais de 50 anos de idade. Os mais novos sequer usam a camisa de aopo’i, indumentária clássica da música tradicional paraguaia”, observou o pesquisador para uma plateia formada por professores e alunos dos cursos de graduação e pós-graduação oferecidos pela Uems e Unioeste, parceiras na realização do seminário.
Identidade
A situação apontada pelo estudo elaborado por Rodrigo Teixeira é preocupante, pois os compositores mais conhecidos de Mato Grosso do Sul sofrem forte influência da música paraguaia. “É uma música que está impregnada na composição dos nossos consagrados compositores como Almir Sater, Paulo Simões, Geraldo Espindola entre outros. Clássicos como “Trem do Pantanal” e “Sonhos Guaranis”, são guaranias”, enfatizou.
O palestrante encerrou a apresentação afirmando que a situação social dos músicos paraguaios é preocupante na medida em que, antes, alguns até compraram imóveis com os cachês recebidos pelas apresentações em festas, temporadas em fazendas. Hoje, têm até que se descaracterizar, cantando outros gêneros e se vestindo diferente, para sobreviver”.
Uma das saídas apontadas por ele para que não se perca a rica tradição da música paraguaia é interromper a transformação muitas vezes imposta pela mídia. “A educação se torna o principal instrumento para que as novas gerações tenham contato e passem a gostar e respeitar os gêneros musicais de qualidade. Porém os projetos neste sentido estão dispersos em todo o Estado. O que existe são iniciativas nas localidades sem o efetivo apoio do poder público, responsável pelas políticas de valorização das manifestações culturais”, finalizou Rodrigo Teixeira, que após encerrar sua fala, apresentou algumas canções de seu mais novo trabalho, “Hermano Irmãos”, que reúne também consagrados nomes da música sul-mato-grossense como Marcio de Camillo e Jerry Espíndola.