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Os animais, a floresta e a tragédia de uma guerra

07 Nov 2015 - 07h00
Samuel Medeiros. - Crédito: Foto: DivulgaçãoSamuel Medeiros. - Crédito: Foto: Divulgação
Quem já se familiarizou com os livros e os termos usados pelo Visconde de Taunay, o escritor militar que narrou em diversos livros a Guerra do Paraguai, também chamada da Tríplice Aliança, pode observar o quanto de detalhes ele nos oferece; obviamente, os relatórios oficiais giram em torno do movimento das tropas que se embrenharam nas matas da então Província de Mato Grosso em direção ao Oeste. Mas ele nos oferece detalhes prosaicos que se aliaram aos resultados trágicos do envolvimento brasileiro nessa Guerra longa e desorientada.

Um desses detalhes foi a coexistência da tropa com os animais das florestas e dos campos. É o que conta recente lançamento do escritor e ensaísta Sérgio Medeiros (A formiga-leão e outros animais na Guerra do Paraguai – Iluminuras, 2015). Medeiros, que já organizou as Memórias do Visconde de Taunay em oportuna edição de 2004, se baseia não só nessa obra, como no Viagens de Outrora. Tanto o autor como Taunay eram apaixonados pelos animais. Taunay possuía um burro de estimação, o Paissandu mais tarde capturado por um paraguaio em meio a um tiroteio. Ele dizia que o animal era sadio e resistente só não suportava o tiroteio, empacava. Taunay conta que o burro enfiava o focinho em sua tenda pela manhã para acordá-lo. Dessa relação afetuosa imortalizou o animal em sua obra.

Além do gado como base da alimentação das tropas, caçados nas florestas com auxílio dos índios, o que marca grande parte da obra é a ênfase à Formiga-leão, um inseto que quando adulto, se parece com uma libélula. A larva vive no chão, em escavações semelhantes a um cone invertido, e alimenta-se de outros insetos, principalmente formigas. Taunay, acocorado na beira do Rio Taquari permanecia longas horas a estudar o comportamento ordenado e firme das “tropas” de seus insetos; ao observar-lhes os movimentos calculados e certeiros, comparava-os a possíveis estratégias militares.

Aquele tipo de formiga fabricava a armadilha com o próprio casulo para suas presas como uma “máquina de guerra” e “enganava” outros possíveis predadores para que pudesse consumir calmamente sua caça. Isto revelou um aspecto de Taunay que foi sua paixão pela natureza revelando um genuíno interesse pelos animais, fossem eles pequenos ou grandes, uma larva ou uma serpente

Os soldados e a luta contra mutucas e piolhos

Os soldados brasileiros, sem ter nenhum inimigo com quem lutar, passavam o tempo se defendendo das temíveis mutucas, catando piolhos e se tentando afastar as muquiranas que sentavam praça em suas cabeleiras. Havia um mosquito por eles chamados de cervo, cujo feroz aguilhão penetrava as roupas mais compactas. Até os cavalos, exasperados com as mordidas rompiam cabrestos e sogas e, em disparada encontravam local onde os insetos não atingiam. Medeiros é assertivo: os insetos foram os principais inimigos daquela barafunda que se tornou a comitiva brasileira. Embora visto com humor por alguns, o exame desses insetos é como um bestiário (o lutador romano que enfrentava as feras) e alegórica ao embate – a relação entre homens e animais traz provocações sobre a guerra. O autor lembra que o encontro de Taunay com tais insetos evoca as “inversões perspectivas” estudadas pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e o personagem Irineo de o Jogo da amarelinha de Julio Cortázar que buscava uma identificação cruel com as formigas todas as vezes que esmigalhava larvas de gusanos e as lançava ao formigueiro.

(*) O autor da resenha do livro A formiga-leão e outros animais na Guerra do Paraguai é escritor e associado efetivo titular da cadeira n°6 do IHGMS.

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