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Entenda por que os atletas brasileiros prestam continência no pódio olímpico

17 Ago 2016 - 09h40Por Do Progresso
O ginasta Arthur Zanetti presta continência cerimônia após receber a medalha de prata no solo - Crédito: Foto: Julio Cortez/APO ginasta Arthur Zanetti presta continência cerimônia após receber a medalha de prata no solo - Crédito: Foto: Julio Cortez/AP
O gesto passou a chamar a atenção nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no ano passado, quando os atletas das Forças Armadas conquistaram 67 das 141 medalhas do Brasil. Mas voltou à tona agora na Olimpíada do Rio. A continência de alguns atletas brasileiros no pódio durante o hasteamento da bandeira gera debate. Trata-se de uma questão política para gerar propaganda para Exército, Marinha e Aeronáutica ou é apenas um sinal de respeito à bandeira nacional previsto no regulamento das Forças Armadas? Entenda por que isso acontece:


O que é a continência?


A continência é o cumprimento militar e uma forma de manifestar respeito aos seus superiores, pares, subordinados e símbolos (bandeira nacional). A reverência militar deve ser feita em pé, com a movimentação da mão direita até a cabeça, com a palma da mão para baixo.


Por que os atletas brasileiros estão fazendo o gesto na Olimpíada?


Dos 465 atletas que disputam a Olimpíada Rio 2016, 145 são militares como mostrou o DNA do Time Brasil feito pelo GloboEsporte.com. Ou seja, 31,2% da delegação. E a maioria desse percentual é formada por atletas de peso. Das dez medalhas conquistadas até agora pelo Brasil, oito foram por atletas que fazem parte do Programa Atletas de Alto Rendimento (Para) do Ministério da Defesa. As judocas Rafaela Silva e Mayra Aguiar, são da Marinha; o atirador Felipe Wu, a nadadora Poliana Okimoto e o judoca Rafael Silva, são do Exército; e os ginastas Arthur Zanetti e Arthur Nory e o saltador Thiago Braz, são da Aeronáutica. Só o ginasta Diego Hypólito e o canoísta Isaquias Queiroz não fazem parte do projeto. Em Londres, cinco das 17 medalhas brasileiras foram conquistadas por "atletas militares".


Como tudo isso começou?


O projeto Programa Atletas de Alto Rendimento (Paar) foi criado pelo Ministério da Defesa em parceria com o Ministério do Esporte em 2008 com o objetivo de reforçar a delegação brasileira nos Jogos Militares, que foram disputados em 2011 no Rio de Janeiro. E cresceu depois da Olimpíada de Londres, em 2012. Atualmente, 670 militares fazem parte do Programa, sendo que 76 são militares de carreira e outros 594 temporários. Deles, 145 disputam a Olimpíada no Rio.


Qual é o valor gasto com o projeto?


Anualmente, o Ministério da Defesa investe aproximadamente R$ 15 milhões em salários para os atletas militares de alto rendimento. E outros R$ 3 milhões na compra de equipamentos, reformas de locais de treinos e na organização de competições esportivas. O Ministério garante que o programa não é temporário para explorar os holofotes da Olimpíada do Rio. E diz já ter pronto um planejamento pronto para o ciclo de 2020, pensando nos Jogos Mundiais Militares de 2019 e na Olimpíada de Tóquio.


Como os atletas tornam-se militares?


A convocação para integrar o Paar é feita mediante edital público, publicado em média duas vezes por ano, nas modalidades esportivas de interesse das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica). Posteriormente, a seleção é feita por prova de títulos (currículo esportivo / resultados / ranking nacional). Os atletas selecionados, inicialmente, frequentam um estágio básico e rápido. Em paralelo, podem continuar treinando e competindo conforme conveniência de suas modalidades.


O que os atletas ganham com isso?


Eles têm direito a soldos (renda mensal), 13º salário, locais para treinamento, recursos humanos nas comissões técnicas, participação nas competições do Conselho Internacional do Esporte Militar (CISM), além de apoio de saúde com atendimento médico, odontológico, fisioterápico, alimentação e alojamento. A renda fixa, que normalmente é o equivalente ao de 3º sargento temporário (R$ 3.200), se soma a outros possíveis planos do Governo como o Bolsa Atleta, o Bolsa Pódio e recursos de patrocinadores (muitos de empresas estatais). Isso ajuda a pagar os custos necessários de um atleta de alto nível. Além da ajuda financeira, os atletas podem utilizar a estrutura de treinamento das Forças Armadas, o que se torna importante para alguns atletas. Se para nomes como Arthur Zanetti isso faz pouca diferença, para outros como Íris Tang significa sair do quintal de casa e ter condições melhores para evoluir. No caso da Marinha é o Cefan; o Exército tem o Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEx) e o Complexo Esportivo de Deodoro; E a Aeronáutica conta com a Universidade da Força Aérea. Essas são as principais, mas, ao todo, são sete bases de apoio de treinamento. A parceria, que culminou na criação desses locais, começou em 2011.


Os atletas são obrigados pelas Forças Armadas a prestar continência no pódio?


Não. No Pan de Toronto houve uma orientação para isso. E todos faziam o gesto. Diante da repercussão, para a Olimpíada do Rio não houve nenhuma recomendação. Os atletas são livres para prestar ou não continência. Dos oito medalhistas das Forças Armadas, quatro prestaram continência: o atirador Felipe Wu, medalha de prata, o judoca Rafael Silva, bronze, e os ginastas Arthur Zanetti e Arthur Nory. As judocas Rafaela Silva, campeã olímpica, e Mayra Aguiar, bronze, e a nadadora Poliana Okimoto, bronze, não fizeram o gesto. Já Thiago Braz só vai receber a medalha de ouro no salto com vara nesta terça-feira durante uma cerimônia às 21h entre as provas de atletismo, no Engenhão.

O que o COB acha disso?


O Comitê Olímpico do Brasil vê com bons olhos o projeto do Ministério da Defesa já que é mais um apoio aos atletas brasileiros. O COB não considera um problema o fato dos atletas fazerem o gesto militar durante a cerimonia de premiação. E não deu qualquer orientação para inibir esse tipo de manifestação. No fundo é um acordo que agrada aos dois lados. As Forças Armadas ganham visibilidade. E o COB consegue que os atletas de ponta tenham mais recursos para se desenvolver.


Como o COI vê o gesto durante a cerimônia de pódio?


O Comitê Olímpico Internacional proíbe qualquer manifestação política ou militar durante as competições e cerimônias de pódio. Mas não considera a continência um problema, apesar de ser um conhecido gesto militar. Na dúvida, a judoca Rafaela Silva preferiu não fazer o gesto durante a cerimônia com medo de sofrer alguma punição e perder a medalha de ouro.

- É que tem regra que muda bastante. Antes no judô eu não podia nem fazer o sinal da cruz. Para não correr o risco de perder a minha medalha mantive a mão no lugar - disse a judoca em entrevista ao Estado de São Paulo no último dia 8.


Por meio do porta-voz Mark Adams, O COI se posicionou sobre os gestos dos brasileiros:

- Já aconteceu em Jogos anteriores, os gestos em si interpretamos como respeito à bandeira e ao hino, como pessoas que colocam a mão no coração - disse.


A lista de medalhistas das Forças Armadas pode aumentar?


Sim. Nossas três duplas do vôlei de praia que estão na semifinal e brigam por medalhas estão no programa: Talita e Larissa, Ágatha e Barbara Seixas e Alison e Bruno Schimidt. No mínimo há um bronze garantido no feminino. Além disso, outros nomes que têm chance de subir no pódio como o maratonista Marilson Gomes dos Santos; os velejadores Jorge Zarif, Kahena Kunze e Martine Grael; Iris Sing, do Taekwondo; Yane Marques, do Pentatlo Moderno; E Aline Silva, da luta olímpica, fazem parte do programa. Os esportes coletivos - como vôlei e futebol - não possuem atletas ligados às Forças Armadas.


Quais são as modalidades em que há atletas das Forças Armadas?


Das 42 modalidades olímpicas, as Forças Armadas estão presentes em 26: atletismo, basquete feminino, ginástica artística, hipismo adestramento, hóquei sobre a grama, natação, judô, levantamento de peso, tiro esportivo, tiro com arco, taekwondo, vôlei de praia, maratona aquática, lutas, ciclismo pista, ciclismo estrada, handebol, vela, esgrima, boxe, remo, saltos ornamentais, nado sincronizado, canoagem slalom, badminton, triatlo e pentatlo moderno.


Trata-se de uma invenção brasileira?


Não. A prática é antiga. E atualmente há programas parecidos em vários outros países como França, Itália, Rússia e China. Há atletas das mais diversas nacionalidades que também entram nas Forças Armadas para conseguir mais apoio.


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