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Emílio Schnoor, a quem se deve a Estrada de Ferro

08 Mai 2017 - 07h00
Em outubro de 1914, foi oficialmente inaugurada em Campo Grande a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil no antigo Mato Grosso - Em outubro de 1914, foi oficialmente inaugurada em Campo Grande a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil no antigo Mato Grosso -
"Maria Fumaça não canta mais para moças, flores, janelas e quintais". (Ponta de Areia, de Fernando Brant e Milton Nascimento).

A letra da música retrata muito bem numa cena cotidiana a importância que a velha locomotiva tinha nas cidades brasileiras do interior. Em Mato Grosso do Sul, a oportunidade de viajar no trem de passageiros perdeu-se no passado, mas o glamour de admirar as cidades e paisagens ladeando os trilhos ainda resiste no imaginário popular. Não obstante o encantamento coletivo vem a curiosidade. Quem trouxe a ferrovia para cá? Quem foi o responsável pela inclusão de Campo Grande, uma localidade entroncamento, no trajeto da via permanente? São perguntas que invariavelmente ficam sem respostas ou com acertos ao léu.

Há quase 103 anos, em outubro de 1914, foi oficialmente inaugurada em Campo Grande, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil no antigo Mato Grosso. Hoje, quando se discute na centenária Cidade Morena qual o destino dos trilhos que percorrem a área central, não podemos deixar que parte da história local seja esquecida. É necessário valorizar uma pessoa, resgatando o passado para o devido reconhecimento pela nossa comunidade. Trata-se de Emílio Schnoor, o engenheiro que deu a estrada de ferro a Campo Grande.

As povoações brasileiras nas zonas velhas surgiram em torno das "casas-grandes" das fazendas e dos engenhos, juntos das capelas ou nas fortificações coloniais. Nas regiões abertas ao progresso pela locomotiva, as primeiras casas apareceram ao lado das estações de trem. Os engenheiros ferroviários, chamados de "engenheiros da Estrada" pelos moradores dos pequenos vilarejos, passaram a ser urbanistas e projetaram muitas cidades novas, todas elas com traçado das ruas em esquadro e ordenamento.

Em 1911, surge um projeto urbanístico da nova cidade de Três Lagoas, a primeira localidade atingida em Mato Grosso pela E.F. Noroeste do Brasil, às margens do rio Paraná. Esse projeto, do eng. Machado de Melo, empreiteiro da obra, previa ruas com todos os requisitos de uma cidade moderna. A ferrovia foi um dos fatores que acelerou a criação do município de Três Lagoas em 1915, antes um distrito pertencente a Paranaíba.

Como seu contemporâneo, Machado de Melo, o eng. Emílio Schnoor foi um desbravador com suas ferrovias, tornando-as grandes linhas de penetração pelo interior, propiciando o nascimento de vilarejos e desenvolvimento de numerosas cidades. Embasado na eficiente prática profissional, tanto no Brasil quanto na Argentina, comentou que "construiu muitas centenas de quilômetros em regiões que nunca pisara pé humano, mas o terreno era de primeira ordem para a agricultura".

Retornando algum tempo depois, em visitas feitas em algumas obras realizadas, observou "em cada estação, uma cidade em plena formação e prosperidade, com bons edifícios, praças e ruas ajardinadas, hotéis, etc.". Ciente do efeito multiplicador que a ferrovia produzia, concluiu: "Isso devemos fazer. A isso corresponde nosso projeto pelas grandes vantagens que oferece, consideramos de imenso futuro". Apesar de não ter nascido nem morado em Campo Grande, sua rápida passagem e decisão foram fundamentais para o desenvolvimento da cidade.

Emílio tinha um sobrenome alemão de difícil pronúncia pelos moradores da região, que o chamavam de "Schnôr", foneticamente fechado. Historicamente, os sobrenomes germânicos, em sua maioria, estão associados aos artefatos e profissões. No caso de Schnoor, que tem significado de fio, barbante, corda, está diretamente ligado aos apetrechos utilizados pelos pescadores e marinheiros que povoaram parte da cidade de Bremen no século 13.

Schnoor, dirigindo o reconhecimento do novo traçado ferroviário, simpatizou-se com os moradores da localidade fundada por José Antônio Pereira. Gostou da amabilidade do povo e fez questão de presenteá-lo com uma das futuras estações. Esta foi a virada, o ponto de partida para o desenvolvimento de Campo Grande.

Afonso Pena escolheu o projeto de Schnoor

Émile Armand Henri Schnoor, o Emílio Schnoor, nasceu na localidade francesa de Châteauroux, região de Berry, em 29 de março de 1885 (há 132 anos). Filhos dos alemães Heinrich Schnoor e Ida Meymann, oriundo da milenar Bremen, cidade famosa pela fábula dos bichos cantores, incluiu-se entre os grandes vanguardeiros da engenharia ferroviária brasileira.

Perdeu sua mãe quando ainda tinha dez anos, e emigrou, com seu pai dentista e a irmã Ida, para o Brasil, onde teve uma juventude pobre e muito sacrificada. Sempre dedicado aos estudos, frequentou, simultaneamente, a Academia de Belas Artes (hoje Escola Nacional de Belas Artes), onde foi premiado inúmeras vezes pela sua perícia no desenho, e a Escola Central (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde recebeu o diploma de bacharel em Ciências Físicas e Matemática, precursora do curso de Engenharia. Perseverante, atuava à noite como praticante de desenho na Estrada de Ferro D. Pedro II, e cujo quadro técnico ingressou, aos 19 anos, quando do término do curso. Sua vida profissional iniciou em 1875, como engenheiro residente em difícil trecho da Mantiqueira.

Trabalhava na Estrada de Ferro Mogiana, quando, na esfera federal, retornou a necessidade de comunicação com Mato Grosso, por meio de ferrovias. Emitiu um estudo profundo, elaborado em abril de 1903, constando sua opinião no "Memorial", eu propunha o percurso férreo de Bauru a Corumbá. Seu projeto foi preterido pelo traçado do eng. Felipe Gonzaga de Campos, que direcionava o trabalho Bauru-Uberaba-Porto Tabuado-Baús-Coxim-Cuiabá

Quando assumiu a presidência da República, o dr. Afonso Pena, assessorado pelo seu Ministro da Viação, doutor. Miguel Calmon du Pin e Almeida, decidiu-se pelo traçado a Mato Grosso preconizado por Schnoor, nomeando este para efetuar estudos respectivos no território mato-grossense abandonando, definitivamente, os demais projetos, inclusive o que levava a ferrovia à Cuiabá.

Em 1907-1908, Schnoor fez o reconhecimento e os estudos completos da secção Itapura-Corumbá, da futura Estrada de Ferro Noroeste, segundo um traçado que já havia sido por ele recomendado em 1903. De 4 de agosto a 24 de dezembro de 1907, levantaram-se "962 quilômetros em terra firme e 720 quilômetros de rios, isso tudo em apenas 140 dias".

*É engenheiro e associado efetivo titular da cadeira nº 05 - cujo patrono é Emílio Schnoor - do IHGMS. O texto na íntegra consta do livro "Campo Grande: Personalidades Históricas" – Volume I 2ª.edição - editado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul e organizado por Arnaldo Rodrigues Meneccozi, titular da cadeira nº 30.

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