
\"A árvore da vida\" não é exatamente um filme abstrato ou hermético, mas isso não significa que não deixe inúmeras portas em aberto para que cada um tire suas próprias conclusões - daí os questionamentos, naturalmente compreensíveis, sobre qual seria o \"objetivo\" do diretor com a obra.
O filme narra, basicamente, duas histórias em paralelo. A mais prosaica trata da criação de uma família americana dos anos 50 numa cidadezinha típica do período. A mãe, interpretada por Jessica Chastain, esforça-se para educar os três filhos meninos com valores de amor e religião. O pai (Pitt), linha-dura e agressivo, tenta impor os seus através de disciplina e opressão.
Vivido por Sean Penn - que também não veio ao encontro dos jornalistas por estar envolvido em projetos sociais no Haiti -, é o filho mais velho dos O\'Brien quem puxa a linha narrativa dessa história, de träs para frente, do momento da notícia da morte prematura de um dos irmãos voltando até o nascimento e a infância das crianças.
Refletindo, possivalmente, as próprias dúvidas religiosas da mãe, que sofre para entender \"por que o Deus que dá é o mesmo Deus que tira\" a vida de seu filho, o cineasta reajusta seu foco para o macro e encadeia longas - e belíssimas - sequências sobre a criação do universo, da formação geológica ao surgimento da vida na Terra.
Acompanhadas de uma trilha operística grandiloquente, as cenas lembram Stanley Kubrick e sua \"Odisseia no espaço\" mas remetem também e principalmente ao fascínio de Malick por filmar a natureza em sua breve e concisa filmografia - depois de sua estreia na década de 70 com \"Terra de ninguém\" e \"Cinzas no paraíso\", ele ficou 20 anos sem lançar nenhum filme antes de voltar com \"Além da linha vermelha\", em 1998, e \"Mundo novo\", em 2005.
\"A árvore da vida\" - que irá chega ao Brasil em 24 de junho - estava previsto para estrear em Cannes no ano passado, mas não ficou pronto no prazo. Com isso, aliado aos inúmeros mitos sobre o diretor, setores da imprensa especializada se questionavam se o filme, de fato, algum dia veria a luz do dia. Nem Brad Pitt ficou imune. \"É um salto de fé, mas você sabe que está em boas mãos. Com Terry, não é tão assustador.\"
Segundo o ator, Malick ofereceu apenas \"três ou quatro páginas\" de roteiro para que ele e Jessica criassem suas cenas da maneira mais natural possível. Para isso, recriou um quarteirão inteiro ao estilo anos 50 em uma cidadezinha nos EUA e incentivou o elenco a explorar livremente o espaço.
\"Precisei abandonar qualquer ideia preconcebida. Era tudo captura de acidentes. Um dia estávamos filmando uma cena e ele ouviu um pica-pau por perto. Na hora, virou a câmera e começou a filmar o pica-pau\", lembrou Jessica Chastain. \"É uma grande lição sobre como se livrar de qualquer tipo de controle sobre o que você espera que será o resultado. Tem outra cena em que uma borboleta pousa na minha mão - você não tem como planejar um momento desses. Não acontece porque está no roteiro mas porque ele cria um set onde deixa qualquer coisa acontecer\", defende a atriz.
Mais experiente Pitt admite, contudo, que trabalhar com Malick transformou sua maneira de ver e fazer cinema. \"Mudou tudo o que venho fazendo desde então. Eu percebi que os melhores momentos surgem de felizes acidentes. Tenho gostado mais de trabalhar com não-atores, tentando fugir do roteiro e ver no que dá\", disse.
Questionado sobre se a opção de se manter afastado dos projetos mais comerciais é resultado de uma aversão adquirida a blockbusters, o astro brincou que não recusaria um convite para fazer \"Missão impossível\". \"Eu estarei lá! Não sou tão sofisticado assim. O fato é que nos últimos dez anos comecei a pensar nos meus dez filmes favoritos e nessa lista não tem nenhuma superprodução, são só filmes que vão mais a fundo... Ou então coisas muito engraçadas, adoro comédia!\", frisou.
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