A Academia Brasileira de Ciências (ABC) lançou recomendações para o avanço da inteligência artificial (IA) no Brasil. O documento traçou uma análise da situação atual, comparações entre o Brasil e os outros países e como avançar no uso consciente dessa ferramenta. O Grupo de Trabalho contou com 15 estudiosos das mais variadas áreas e foi coordenado por Virgilio Almeida, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Fabio Cozman, professor do Departamento de Engenharia Mecatrônica da Escola Politécnica e diretor do Centro de Inteligência Artificial USP, discorre sobre os assuntos reunidos no relatório.
O que é inteligência artificial
Segundo a definição do professor, a inteligência artificial é uma “área que se preocupa em reproduzir, em computadores, aqueles comportamentos que nós, seres humanos, identificamos como inteligentes”. Uma parte da IA, de acordo com Cozman, tenta entender o que é “inteligência” e como isso pode ser reproduzido no computador. Outra área tenta utilizar essa tecnologia para aplicar nos mais diversos campos do conhecimento.
Essa ferramenta busca auxiliar o ser humano de forma benéfica e pode ser útil em inúmeros setores, como na agricultura – através da coleta e processamento de dados –, na área da saúde – através de um suporte ao médico na hora de tomada de decisões – e na indústria 4.0 – em que a automação auxilia na tomada de decisões.
Fabio Cozman – Foto: IEA/USP
Defasagens no Brasil
Cozman aponta que o Brasil não está completamente perdido ou atrasado quanto aos usos e aplicações da inteligência artificial e ocupa uma posição interessante no ranking mundial. “O Brasil está, mais ou menos, entre o 15° e o 20° lugar em produção de resultados acadêmicos”, exemplifica.
Nas primeiras posições estão os Estados Unidos, China e Índia – com elevados volumes de produção. Em seguida está um grupo que apresenta maior renda, como países europeus, a Austrália e o Japão. O terceiro grupo, do qual o Brasil faz parte, reúne países como a Turquia e o Irã.
Quando comparado a anos anteriores, o professor comenta que o Brasil caiu algumas posições no ranking. Porém, o crescimento da área de inteligência artificial no mundo é considerável nos últimos tempos – nos Estados Unidos, em dez anos, o número de doutorandos que estuda essa área triplicou. Para Cozman, o Brasil precisa se preocupar em investir mais nesse setor, considerando que outros países estão fazendo isso.
A preocupação principal apontada pelo professor é com o ser humano – e sua interação com a ferramenta. Uma das discussões levantadas pelo relatório é a formação eficiente de pessoas para operar as novas tecnologias. Outro aspecto importante, apontado por Cozman, é como a inteligência artificial afeta as pessoas. “A sociedade precisa se preparar para educar melhor os que não conhecem e retreinar os que precisam”, comenta.
Adaptação da tecnologia
O professor explica que as tecnologias utilizadas nessa área têm sido desenvolvidas quase internacionalmente, e a maioria dos países utiliza as mesmas ferramentas básicas. Por isso, Cozman explica que é importante que os Estados tenham capacitação na área para adaptar os modelos, já que cada país possui suas particularidades sociais e culturais.
Existem alguns programas ótimos com a linguagem, por exemplo, mas que não são feitos no Brasil – e, consequentemente, não possuem ferramentas que têm sotaques do País, ou que se preocupam com dialetos indígenas. “É preciso um esforço para que essas ferramentas sejam adaptadas, mesmo que sejam usadas no contexto internacional, para a realidade e cultura do país”, explica o professor.
Riscos da IA
Como toda tecnologia, a inteligência artificial também apresenta riscos éticos e sociais. Como explica Cozman, ainda não se sabe se essas ferramentas podem avançar em dados privados e tomar decisões sem avisar ninguém, ou até oferecer análises médicas independentes e imprecisas. Outro problema relacionado a essa área é a automatização excessiva, que pode afetar vários perfis de trabalhadores.
O relatório, segundo o professor, mapeou os problemas apresentados, quais decisões são tomadas em outros países a respeito desse tema e o que pode ser adotado como medida para melhorar e evitar esse cenário. Para o professor, os indivíduos precisam ter uma visão positiva a respeito dessa tecnologia, que está disponível para auxiliá-los, no âmbito pessoal e profissional, a tomar melhores decisões. “A sociedade precisa se preparar para usar essa ferramenta como uma revolução positiva”, aponta.