Com sete detentas em regime fechado, o presídio feminino semiaberto e aberto de Dourados celebrará o Dia das Mães de forma atípica neste ano. O motivo é a pandemia do novo coronavírus.
Das 92 internas, 85 que cumprem pena em regime aberto (32), semiaberto (51) e domiciliar (2) terão o Dia das Mães com os filhos. As outras, que ficam reclusas 24h, permanecerão longe da família no domingo (10/5).
Anos anteriores, fazia-se uma verdadeira festa para aproximar os familiares das detentas e a comunidade douradense, do ambiente de ressocialização. A ideia de cárcere não existe em Dourados. A presas vivem num alojamento único, instalado em uma residência cuja estrutura prisional é de acolhimento, formação de novas cidadãs e capacitação para o mercado de trabalho.
Quem sai do presídio tradicional para morar lá, diz que é como uma “bênção do céu”, fruto de bons comportamentos. Luzia Aparecida Ferreira é diretora da unidade e explica que ali estão mulheres cuja conduta foi avaliada por todas as instituições de direito e cidadania, como Defensoria Pública, Ministério Público e Justiça de Mato Grosso do Sul.
Ela contou à reportagem que a maioria das detentas estão ali por ligação com o tráfico de drogas, especialmente pelo transporte de entorpecentes. Essa prática é conhecida como “mulas do tráfico”, no submundo do crime.
Luzia ainda conta que a maioria esmagadora, cai na criminalidade por influência de homens, que demonstram afeto e preocupação com elas, para suprir necessidades financeiras, mas depois as abandonam. A desestruturação emocional, social e econômica surge como um verdadeiro labirinto, onde muitas se veem sem outra saída.
Esse é o caso de Maria Cristina Ramos, de 40 anos. Ela está presa há uma ano e dois meses por tráfico de drogas. Mãe de quatro filhos com idades entre 3 e 18 anos, Cris, como é chamada pelas colegas da unidade, diz sentir falta da família. Esse é o segundo dia das mães longe dos filhos, o que pra ela é uma tortura, mas sabe que devido a pandemia se faz necessário. Sobre o novo coronavírus, ela diz viver preocupada sobre como estão os filhos e familiares. As crianças vivem com uma tia. Para o futuro, a detenta espera cumprir a pena que lhe foi devida e sair de cabeça erguida, abrir um ateliê de artesanatos e recomeçar.
Outra mãe que ficará longe dos dois filhos é a Marineli* (nome fictício). Ela está presa há pouco mais de um ano por homicídio. Foi acusada após matar o companheiro em uma tentativa de defesa pessoal. “O instinto de sobrevivência me trouxe pra cá. Ou eu matava ele ou ele me matava”, conta.
Profissional da área da saúde, Marineli foi transferida recentemente para Dourados e garante ter saudade de casa, dos filhos. Ela é mãe de dois rapazes. Hoje cumpre a pena ansiosa para conquistar de volta a liberdade de viver com a fam´ília. Em meio a pandemia do novo coronavírus, o desejo dela era estar atuando na linha de frente para salvar vidas.
*Adotamos o nome fictício a pedido da entrevistada, que não gostaria de ser identificada por conhecidos.
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