Dourados – MS sábado, 05 de outubro de 2024
33º
Direitos humanos

Indígenas são baleados em confronto com a PM em Mato Grosso do Sul

Eles estão internados em um hospital da cidade de Antônio João

13 Set 2024 - 20h30Por Alex Rodrigues, Agência Brasil - Brasília
Retomada Guarani e Kaiowá da TI Nhanderu Marangatu é alvo de ataque policial e deixa três feridos - Crédito: comunidade TI Nhanderu MarangatuRetomada Guarani e Kaiowá da TI Nhanderu Marangatu é alvo de ataque policial e deixa três feridos - Crédito: comunidade TI Nhanderu Marangatu

Policiais militares e indígenas guarani e kaiowá se enfrentaram na área rural da cidade de Antônio João (MS), a cerca de 300 quilômetros da capital sul-mato-grossense, Campo Grande, na tarde dessa quinta-feira (12). Ao menos três indígenas, sendo dois homens e uma mulher, foram atendidos no Hospital Municipal Dr. José Altair de Oliveira, que oferece atendimento de média complexidade. A Agência Brasil entrou em contato com a direção da unidade, mas não obteve informações atualizadas sobre o estado de saúde das vítimas.

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o confronto ocorreu depois que um grupo de indígenas ocupou parte de uma fazenda sobreposta a uma área que os guarani-kaiowá reivindicam como um território tradicional, ou seja, que pertenceu a seus antepassados.

A área, conhecida como Ñande Ru Marangatu (ou Nhanderu Marangatu), foi homologada como terra indígena em março de 2005, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No total, a área destinada ao usufruto guarani-kaiowá mede cerca de 9,3 mil hectares, dos quais cerca de 1,3 mil estão ocupados pela Fazenda Barra. Cada hectare corresponde, aproximadamente, a área de um campo de futebol oficial.

Desde o início do processo de verificação do direito originário indígena, fazendeiros que ocupam a mesma área – em alguns casos, há décadas – questionam o processo na Justiça. Mesmo com a homologação presidencial, a retirada dos não-indígenas de Ñande Ru Marangatu está paralisada. Em alguns casos, grupos indígenas e os não-indígenas que afirmam tem adquirido as terras de boa-fé dividem o espaço – caso da Fazenda Barra, parcialmente ocupada desde 1998.

Cansados de esperar por uma solução defintiva, comunidades indígenas resolveram “retomar” o território homologado. Segudo o Cimi, a Fazenda Barra era a última das nove propriedades de não-indígenas sobrepostas ao território destinado ao usufruto guarani-kaiowá ainda não integralmente retomada. Durante a ação, contudo, houve o confronto com policiais militares acionados.

“A comunidade foi atacada pela Polícia Militar”, assegurou o Cimi a partir do testemunho dos indígenas, que registraram, em vídeos, as vítimas baleadas sendo socorridas. De acordo com a secretaria estadual de Justiça e Segurança Pública, o policiamento na região foi reforçado, inclusive com o envio de equipes do Batalhão de Choque, que permanecerão no local por determinação judicial a fim de evitar novos conflitos.

Missão

O confronto coincidiu com a visita de representantes de organizações sociais e de órgãos públicos federais a regiões sul-mato-grossense palco de recentes confrontos entre produtores rurais e indígenas nas cidades de Douradina, Guaíra e Terra Roxa.

“Na tarde de ontem, um grupo de indígenas retornou à Fazenda Barra, sobreposta à Terra Indígena Nhanderu Marangatu, e foi atacado pela Polícia Militar”, afirmou, em nota, o conjunto das entidades sociais que integram a missão, destacando que os indígenas “resistem cercados na sede da fazenda”, e criticam uma decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3).

“Após o ataque violento da Polícia Militar, a Justiça Federal em Ponta Porã, em decisão controversa e apressada, publicada à noite, autorizou a atuação da polícia estadual em proteção à propriedade privada, legitimando a violência contra a comunidade indígena”, endossou o Cimi em sua página na internet.

Participam do grupo que visitou as áreas de conflitos membros da Comissão de Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns; do Cimi; do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST); da assembleia dos povos guarani e kaiowá Aty Guasu; Campanha Contra a Violência no Campo; Comissão Pastoral da Terra (CPT); Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental (Rais), grupos locais de apoio aos povos Avá-Guarani e Guarani-Kaiowá e pastorais sociais, além de representantes dos ministérios dos Povos Indígenas e dos Direitos Humanos e Cidadania, Funai, Defensoria Pública da União (DPU) e Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.

Deixe seu Comentário

Leia Também

Diretor de Políticas Penitenciárias da Senappen elogia segurança dinâmica da Polícia Penal de MS
Segurança

Diretor de Políticas Penitenciárias da Senappen elogia segurança dinâmica da Polícia Penal de MS

05/10/2024 11:00
Diretor de Políticas Penitenciárias da Senappen elogia segurança dinâmica da Polícia Penal de MS
Justiça Eleitoral de MS contará com o apoio das Forças Armadas neste domingo (6)
Eleições 2024

Justiça Eleitoral de MS contará com o apoio das Forças Armadas neste domingo (6)

05/10/2024 08:30
Justiça Eleitoral de MS contará com o apoio das Forças Armadas neste domingo (6)
PRF está proibida de fazer bloqueios durante eleições, diz Lewandowski
Segurança

PRF está proibida de fazer bloqueios durante eleições, diz Lewandowski

03/10/2024 18:15
PRF está proibida de fazer bloqueios durante eleições, diz Lewandowski
Sejusp intensifica segurança em todo o MS para o pleito de domingo
Operação Eleições

Sejusp intensifica segurança em todo o MS para o pleito de domingo

03/10/2024 18:00
Sejusp intensifica segurança em todo o MS para o pleito de domingo
Incêndio criminoso em floresta poderá ser considerado ato de terrorismo
Senado

Incêndio criminoso em floresta poderá ser considerado ato de terrorismo

02/10/2024 06:45
Incêndio criminoso em floresta poderá ser considerado ato de terrorismo
Últimas Notícias