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Entrevista

Metade dos adultos com diabetes não sabe que tem a doença, diz médica

Em Dourados a médica endocrinologista e metabologista Luciana Secchi, esclarece que a doença tem grande potencial de complicações caso mal tratada e mal controlada

21 Nov 2019 - 07h00Por Valeria Araújo
A médica endocrinologista e metabologista Luciana Secchi - Crédito: divulgaçãoA médica endocrinologista e metabologista Luciana Secchi - Crédito: divulgação

Com 12.5 milhões de pessoas com diabetes, o Brasil é o quinto entre os 10 países com mais pessoas sem diagnóstico, segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). A previsão é que 20.3 milhões de pessoas tenham a doença até 2045 no País. O tema ganha destaque com o Novembro Diabetes Azul, da SBD, que em todo o País realiza campanhas que levam informação sobre a doença.

Em Dourados a médica endocrinologista e metabologista Luciana Secchi, membro da diretoria da Regional Mato Grosso do Sul da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), esclarece que a doença tem grande potencial de complicações caso mal tratada e mal controlada, porém se bem controlada desde o início permite vida normal, de qualidade e expectativa de vida plena.  A médica explica que, por ser a doença geralmente silenciosa, o diagnóstico precoce é muito importante para se evitar que ela evolua por muito tempo sem tratamento e resulte em complicações.

Quais os tipos de Diabetes e as características dele?

Existem vários tipos de diabetes, mas os mais comuns são mesmo o diabetes tipo 2 (grande maioria dos casos) e o diabetes tipo 1. Outro tipo muito importante é o diabetes gestacional, que pode complicar um grande número de gestações no mundo todo.

A Federação Internacional de Diabetes (IDF) definiu em 2019 o tema “Diabetes: proteja sua família" para a campanha do Dia Mundial do Diabetes. Por quê?

O Dia Mundial do Diabetes foi criado em 1991 pela IDF em conjunto com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em resposta às preocupações sobre os crescentes números de diagnósticos no mundo. A data tornou-se oficial pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2007, e o dia 14 de novembro foi escolhido para marcar a oportunidade de mobilização mundial redor desse tema. O tema deste ano foi escolhido porque o diabetes é uma condição de saúde que exige modificações no estilo de vida para o tratamento, além de medicamentos e insulina, quando é o caso. Essas adequações no estilo de vida são muito mais viáveis e eficazes quando adotadas e apoiadas por toda a família. Além disso, quase toda família tem pelo menos algum membro portador de diabetes, e o apoio dos familiares ao tratamento é fundamental. Os hábitos familiares também são importantes na prevenção de novos casos de diabetes, combatendo hábitos como o sedentarismo ou hábitos alimentares que levem à obesidade, o que aumenta muito o risco de alguém se tornar portador de diabetes. Um outro motivo para a escolha desse tema é deixar claro para a população que diabetes é uma doença que pode ocorrer em qualquer fase da vida: nos avós, nos pais, nos adolescentes, nas crianças, ou seja, em qualquer pessoa da família.

Que porcentagem dos pacientes com diabetes tem bom controle da doença no Brasil e porque os números costumam ser baixos?

No Brasil não há estatísticas confiáveis e recentes de controle do diabetes, principalmente para os casos de diabetes tipo 2, que é o mais prevalente. Sabemos que no Brasil há mais de 12 milhões de pessoas com diabetes. Calcula-se que a metade dos pacientes que são portadores da doença não são diagnosticados, ou seja, não sabem que têm a doença. Não sabendo, não recebem tratamento adequado e não conseguem ter bom controle da doença. Quando diagnosticada, o controle da doença exige dos pacientes certas mudanças no estilo de vida, que podem não ser fáceis para várias pessoas, além de medicamentos, alguns de alto custo, e monitoramento das glicemias. A complexidade de todos esses fatores, aliada à falta de acesso dos pacientes brasileiros a vários recursos em saúde, contribui para as dificuldades do controle da doença.

Qual o perfil de quem tem a doença?

As pessoas que correm mais risco de desenvolver diabetes tipo 2, o mais comum deles, são as pessoas com excesso de peso, sedentárias (que não executam atividades físicas), com alto nível de estresses. Aquelas que têm muitos casos de diabetes na família também estão sujeitas a um risco maior da doença.

Porque a doença tem aumentado no público infantil?

Ainda não se conhecem exatamente os fatores que estão levando ao diagnóstico de um número maior de crianças com diabetes tipo 1, inclusive em idades mais precoces. Há também um aumento na incidência de diabetes tipo 2 relacionado aos mesmos fatores de risco que afetam os adultos (obesidade e sedentarismo).

O que as famílias devem fazer para afastar esse perigo de casa, lembrando do tema da campanha “Diabetes: proteja sua família”?

As crianças devem receber alimentação adequada, variada, preferencialmente com o menor número possível de produtos industrializados, pobre em frituras, sem excesso de sal, açúcar e gorduras. Atividade física e o estímulo a jogos ao ar livre pelo menos 2 horas por dia e a limitação do tempo de uso de aparelhos eletrônicos também é muito importante.

Quais as características do diabetes?

Geralmente o diabetes é uma doença silenciosa, isto é, causa sintomas apenas quando já está um tanto avançada. Quando existem complicações da doença, às vezes irreversíveis, os sintomas são bastante evidentes. Quando os valores de glicemia já estão bastante altos o paciente pode apresentar perda de peso inexplicável, cansaço, dificuldades visuais, excesso de sede e aumento do número de vezes em que vai urinar no dia.

Quais as principais complicações da doença?

Os pacientes que mantiverem controle adequado da doença desde o dia que nós tico não terão nenhuma complicação do diabetes. Diabetes bem controlado não trará nenhuma consequência o prejuízo. As complicações do diabetes mal controlado por muito tempo são muito importantes, sendo as principais a retinopatia diabética, que pode levar a cegueira, a neuropatia diabética, que pode levar a amputações, e a nefropatia diabética, que pode levar a insuficiência renal e à necessidade de hemodiálise. Também existe nesses casos risco elevado de doenças cardíacas e cardiovasculares, como o infarto.

Por que o diagnóstico precoce é tão importante? Como se faz o diagnóstico?

Sendo a doença geralmente silenciosa, o diagnóstico precoce é muito importante para se evitar que ela evolua por muito tempo sem tratamento e resulte em complicações. Sabendo ser portador da doença, o paciente tem a chance de buscar tratamento e controle adequados para não ficar sujeito o risco de complicações.O diagnóstico do diabetes é feito através de uma dosagem de glicose no sangue. Quando há sintomas uma única dosagem alterada pode bastar para o diagnóstico. Quando não há sintomas pode ser necessário repetir a coleta de sangue para se ter certeza. O valor da glicose no sangue colhido de uma veia periférica que se considera normal e sempre menor do que 100 mg/dl. Qualquer valor acima de 99 mg/dl é considerado anormal, em qualquer idade, e a pessoa deve ser avaliada por um médico para determinar o significado dessa alteração: pode ser um caso de diabetes, pré-diabetes ou uma alteração por outras causas, a serem avaliadas pelo médico.

Como é feito o tratamento? Qual a duração?

O tratamento do diabetes envolve mudanças de estilo de vida, adequações na dieta e abolição do sedentarismo. Além disso, o papel dos medicamentos é muito importante e deve ser bem indicado, constituindo um tratamento bem estruturado. A insulina faz parte do tratamento de um grande número de diabéticos tipo 2, em geral junto com os medicamentos, e de todos os pacientes com diabetes tipo 1. O tratamento costuma ser necessário por toda a vida da pessoa e precisa ser adequado de tempos em tempos a cada fase da vida.

Como prevenir o diabetes?

O diabetes tipo 2 e o diabetes gestacional são preveníveis através de manutenção do peso saudável, atividades físicas regulares, dieta adequada e controle do estresses. O diabetes tipo 1 até o momento não é uma doença que se possa prevenir.

 

 

 

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