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Isolamento pode agravar ansiedade e obsessão por limpeza em pessoas com TOC, alerta psicóloga

29 Jun 2020 - 14h02Por Valéria Araújo
Psicóloga Sani Farias - Crédito: DIVPsicóloga Sani Farias - Crédito: DIV

Uma das principais causas de incapacidade no mundo, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) pode ser percebido com maior intensidade durante a pandemia. Em Dourados, a psicóloga Sani da Silva Farias explica que o avanço de Covid-19, o perigo de contaminação e as recomendações de medidas de proteção como o isolamento social podem agravar sintomas como a ansiedade e desencadear obsessões e compulsões, que se não tratadas podem afetar a saúde mental do indivíduo, prejudicando suas atividades diárias e numa situação de agravamento da doença pode levar a tentativa de suicídio. Em entrevista ao O PROGRESSO a profissional explica sobre como identificar o transtorno e como realizar o tratamento. 
  
O PROGRESSO - As pessoas que possuem transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), podem ter seu sofrimento intensificado por conta do isolamento que está sendo exigido, e pode afetar negativamente sua condição.  Mas o que seria o TOC?


Sani Farias: O Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC), é um transtorno como o nome indica, se caracteriza pelos sintomas de obsessões e compulsões, sendo que as  obsessões são pensamentos ou impulsos que se repetem constantemente e não controlada, provocando ansiedade. Já as compulsões caracterizam-se por comportamento de repetições ou condutas mentais que buscam diminuir a ansiedade afastando as obsessões. Ou seja, as compulsões neste caso são com intuito de diminuir a ansiedade e o sofrimento que uma obsessão esteja causando e essas ações são conhecidas como ritualísticas são praticadas de forma sistemática e quando não se pratica o ritual obsessivo compulsivo a pessoa tem a sensação de que acontecerá alguma coisa terrível, uma tragédia

Quais as principais características do TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) e como identificá-lo?
 

R:Pode-se apontar como obsessões mais comuns, a preocupação com germes, sujeira; com perfeccionismo e simetria; com secreções corporais (como suor); temor de que algo muito ruim possa acontecer com alguém próximo ou com si mesmo. E as compulsões mais comuns são: lavar as mãos com frequência; arrumação e classificação sistemática; verificar as portas constantemente.
Para que seja diagnosticado/identificar como TOC, os sintomas devem se apresentar em um nível que interfira na vida da pessoa, seja na área social, trabalho, nas relações interpessoais, ou em seus estudos e que esses sintomas ocorram por mais de uma hora ao dia, causando sofrimento ao paciente prejudicando suas atividades diárias. 

Como esses sintomas afetam a vida do paciente? 

R: O sintoma principal do paciente com é a frequência de pensamentos obsessivos que levam a realização de um ritual para tentar diminuir a ansiedade, em casos mais graves pode acarretar em incapacidade para práticas de rotina, podendo levar o indivíduo a ficar preso em casa na tentativa de fugir das situações que causam temor, diminuindo assim a qualidade de vida de quem sofre de TOC, afetando principalmente  a sua saúde mental, podendo levar o indivíduo até mesmo a tentar o suicídio.

Pode haver um agravamento do TOC devido à situação atual?
R: Podemos indicar algumas situações que possam agravar os sintomas do TOC como o aumento das lavagens das mãos com mais frequência e por um tempo estipulado; todas as vezes que sai de casa ou tem contato com sujeira, isso pode facilmente se tornar um ritual e pode ocorrer pensamentos mais frequentes de contaminação devido a uma possível exposição. Dessa forma essa situação em que vivemos poderá de alguma forma desencadear recaídas em alguns pacientes por conta da sensação de falta de controle causadas pelas compulsões e obsessões afetando principalmente o estado psicológico dos indivíduos. 

Todas as pessoas que de alguma forma apresentem preocupação com limpeza e perfeccionismo sofrem de TOC? 
R: Não. É importante lembrar que, algumas manias relativas a organização e seleção de meios para executar ações e, ou funções é normal. Somente pode se considerar um transtorno obsessivo-compulsivo quando este se transforma em algo inflexível, ritualístico, tomando tempo e atrapalhando a capacidade de produção do indivíduo, causando angustia, sofrimento e levando ao atraso de compromissos ou a desistir destes constantemente. 


Existem tratamentos para o TOC? 
R: Sim, o TOC pode ser tratado. O tratamento do TOC auxilia no alívio do sofrimento, e na maioria dos casos pode eliminar os sintomas de forma parcial ou totalmente. O tratamento consiste em psicoterapia e em casos mais graves, o uso de medicamentos, sendo mais indicado quando associado a psicoterapia.

Como é o tratamento?
R: Os tratamentos mais indicados são por meio de Psicoterapia e com medicamentos, sobretudo quando o paciente sofre de outros problemas além do TOC, como a depressão e a ansiedade, o que ocorre com frequência. O tratamento Psicoterápico pode incluir terapias comportamentais como atividades de exposição e de abstenção da prática dos rituais como preventivo de resposta, ou mesmo a prática de atividades físicas como forma de controle dos sintomas. 

O que se deve fazer ao identificar os sintomas de TOC?
R: A recomendação ao identificar qualquer sintoma do TOC é que a pessoa procure um especialista, para que este possa dar um diagnóstico preciso e que indique o tratamento mais adequado para o caso.  


Quais os riscos de não se tratar de forma adequada esse transtorno?
R: A ausência ou mesmo o abandono do tratamento pode causar um agravamento dos sintomas podendo levar o indivíduo a incapacidade completa. A pessoa pode ter dificuldades em exercer funções simples e rotineiras como fazer compras, pode levar a redução da capacidade de produção no trabalho e nos estudos, além de prejudicar a convivência com outras pessoas, até mesmo com os familiares. 

Considerações
Devido ao isolamento social preventivo para o controle do Coronavírus, pode se ocasionar a intensificação da ansiedade em pacientes que sofrem com os sintomas do TOC. Algumas compulsões como o acumulo, a lavagem de mãos e o consumo de medicamentos podem vir a apresentar recaídas em pacientes que já apresentavam certo controle dos sintomas, e também pode haver um agravamento das compulsões, ao mesmo tempo que estes sintomas são normalizados devido as medidas preventivas indicadas por conta da pandemia. 


Alguns pacientes com TOC vem a ter uma clara percepção de sua condição e, no entanto, não buscam ajuda de um especialista por falta de compreensão do que seria um comportamento excessivo, principalmente quando tal comportamento, de certa forma, está sendo estimulado. Por esse motivo se torna cada vez mais relevante à conscientização das pessoas sobre esse problema e também sobre a importância de procurar ajuda profissional ao identificar os sintomas do TOC, para que seja diagnosticado e tratado de forma adequada assim melhorando a qualidade de vida das pessoas e os profissionais da área da saúde mental devem estar preparados para as demandas que vem surgindo com a nova condição social da atualidade. 

Serviço
A psicóloga Sani da Silva Farias (CRP 14/08287-2) atende no Projeto À Flor da Pele na Rua Guaratuba n ° 40 BNH III Plano. O telefone para contato é: (67) 98179-5767.

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