Avaliar a sonolência diurna, a predisposição à apneia obstrutiva do sono e a qualidade de vida de professores universitários com dedicação exclusiva ao ensino público brasileiro: esse é o objetivo principal de uma pesquisa de doutorado, realizada no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia (PPGFt) da UFSCar. O projeto Respira também pretende avaliar aspectos psicossociais do trabalho do docente e estimar o seu nível de atividade física. O estudo é aberto a professores de universidades públicas brasileiras de qualquer região do país e a participação será pelo preenchimento de questionários eletrônicos.
O trabalho é realizado pela doutoranda Maria Isabel Triches, com orientação de Tatiana de Oliveira Sato e coorientação de Renata Gonçalves Mendes, ambas docentes do Departamento de Fisioterapia (DFisio) da UFSCar. "Este estudo justifica-se pela necessidade de compreender como está a saúde física e mental dos professores do Ensino Superior público do Brasil. O tempo prolongado na postura sentada, ou a falta da atividade física, e as altas demandas laborais, comuns em professores universitários, configuram um cenário de atividades laborais sedentárias e estressantes, que por sua vez, são consideradas de risco para a saúde física e mental dos trabalhadores, podendo gerar prejuízos na sua qualidade de vida dentro e fora do trabalho", relata Maria Isabel.
Ela também expõe que o sedentarismo, além de ser prejudicial à saúde dos docentes, pode contribuir para a obesidade, que se destaca entre os fatores predisponentes da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), uma condição de saúde alarmante pelo potencial de risco à vida. "Esse distúrbio causa paradas na respiração durante o sono e desencadeia a sonolência diurna excessiva, que induz a maioria das pessoas com apneia do sono a adotar um comportamento sedentário. Isso representa um dos muitos ciclos viciosos que envolvem distúrbios do sono, inatividade física e obesidade", explica a pesquisadora. Triches alerta que esse estilo de vida sedentário pode levar ao envelhecimento prematuro e contribuir para diabetes e quadros de doenças cardiovasculares.
De acordo com a pesquisadora, estudos recentes apontam que um em cada três professores apresentam sonolência diurna excessiva, a qual foi associada a menor qualidade de vida; além disso, observou-se prática de atividade física abaixo do nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e altas taxas de sobrepeso e obesidade nessa população. Contudo, pesquisas com uma amostra maior de docentes e não restritas ao público de uma única universidade foram recomendadas, o que fomenta a realização dessa pesquisa.
"As atividades dos docentes podem levar a uma rotina exaustiva de trabalho e indisposição, levando ao sedentarismo, estresse e problemas de saúde. Aliado a isso, a valorização do aprimoramento intelectual faz com que os docentes se dediquem cada vez mais às atividades acadêmicas em detrimento das atividades físicas", complementa Triches.
Pesquisa e participação
A manifestação clássica da SAOS é a sonolência diurna excessiva, que será avaliada também durante a pesquisa, mas outros sintomas podem indicar o problema, como sono não reparador/restaurador, baixa concentração, depressão e fadiga. No entanto, Triches cita que estudos anteriores realizados no Brasil indicam alta prevalência de SAOS entre a população adulta paulista. Aliado a isso, estudo recente estima que 85% dos casos de apneia obstrutiva do sono não são detectados. "Esses dados também despertaram o interesse do nosso estudo", conta a Maria Isabel.
A pesquisa realizará um acompanhamento com os docentes, que responderão questionários online a cada seis meses durante um ano, totalizando em três avaliações. Além da publicação dos resultados, a pesquisadora irá disponibilizar o resultado individual sobre a predisposição à apneia obstrutiva do sono aos participantes que o solicitarem e recomendará acompanhamento com profissional da saúde nos casos necessários.
Para desenvolver o estudo estão sendo convidados(as) docentes de instituições de Ensino Superior públicas de todo o Brasil, que tenham contrato de trabalho de 40 horas semanais com dedicação exclusiva. Os interessados devem preencher esse formulário eletrônico. Além do acesso ao formulário, outras informações sobre o estudo também podem ser acompanhadas no Instagram. Projeto de Pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (CAAE: 56582322.7.0000.5504).