Ossos do Tiarajudens eccentricus mostram dente-de-sabre e dentes no interior da boca - Crédito: Foto: Cortesia Juan Carlos Cisneros
Um animal que viveu há mais de 260 milhões de anos teria sido o primeiro terápsido - ancestral dos mamÃferos - a possuir dentes-de-sabre, além de dentes parecidos com os da capirava, mas localizados no céu da boca (palato). O fóssil da nova espécie (Tiarajudens eccentricus) foi descoberto por uma equipe de pesquisadores na região de Tiaraju, no Rio Grande do Sul.A novidade é tema da edição desta semana da revista \"Science\", da Associação Americana para Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), umas das principais publicações cientÃficas do mundo.
O professor Juan Carlos Cisneros, da Universidade Federal do Piauà (UFPI) e um dos autores do estudo, explicou em entrevista ao G1 que este animal possui caracterÃsticas únicas entre os que viveram na Era Paleozoica (entre 550 milhões a 250 milhões de anos atrás).
\"Não se conhece nenhum outro animal com esse tipo de dente que seja herbÃvoro neste perÃodo\", afirma o paleontólogo. \"CarnÃvoros com dentes-de-sabre até existiam, mas nenhum herbÃvoro. Pelo menos não nessa época tão distante.\"
Segundo os pesquisadores, a espécie descoberta no Rio Grande do Sul possuia o tamanho de uma anta e tinha dentes muito parecidos com os de uma capivara, porém localizados no céu da boca.
\"A forma como esse animal triturava alimentos é muito diferente do que temos hoje. Ele mascava com o céu da boca, não tinha dentes nas margens, como nós e outros animais temos\", explica o especialista.
Somente outras duas espécies de répteis conseguiam processar alimentos como o Tiarajudens eccentricus na época em que ele teria vivido - entre 265 milhões a 260 milhões de anos atrás.
\"Isso é uma novidade evolutiva. Provavelmente esse animal tinha uma capacidade de mastigar muito boa\", diz o professor.
#####Procura pelo animal
Para descobrir a ossada, a equipe de Juan Carlos Cisneros vasculhou a região de Tiaraju, próxima à cidade de São Gabriel, em busca de rochas com idade parecida com a do Tiarajudens eccentricus.
\"Nada aconteceu por acaso, nós estávamos pesquisando em uma área onde ossos como esses seriam próvaveis de aparecer\", diz Juan Carlos. A prospecção começou em 2008.
Após detectarem os restos conservados do terápsido em março de 2009, um trabalho de limpeza cuidadosa e colagem dos fragmentos de ossos foi feito. \"Assim que o esqueleto vai sendo montado, é possÃvel enxergar melhor as caracterÃsticas da anatomia do animal. Aos poucos, dá para saber com que tipo de terápsido estamos lidando\", afirma o cientista. \"Todo esse trabalho nunca se faz em menos de um ano.\"
A pesquisa divulgada na publicação americana trata somente dos dentes do animal, mas Cisneros afirma que estudos posteriores com membros anteriores e inferiores já iniciaram.
(g1)