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Qual o papel da arte na educação infantil?

Intervenção excessiva dos professores na busca pelo esteticamente correto limita imaginação e criatividade das crianças

13 Set 2020 - 12h33Por Rosana Carla Gonçalves Gomes Cintra*
Qual o papel da arte na educação infantil? - Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação

Intervenção excessiva dos professores na busca pelo esteticamente correto limita imaginação e criatividade das crianças. Educador deve ser interlocutor do processo de criação.

Ao pensarmos sobre a presença da arte na educação infantil, logo vem à nossa mente práticas comuns como oferecer folhas sulfites brancas para desenhar ou com uma imagem previamente impressa para pintar, fornecer massinha colorida para modelagem e tintas de várias cores e texturas. Além disso, é comum que a gente desenvolva atividades com sucatas em geral e disponibilize revistas para recorte, colagem e rasgaduras. Estou errada? Muitas vezes essas atividades são utilizadas como prêmio pelo bom comportamento dos alunos ou para ocupar o restante do tempo da aula. Sem fazer juízo de valor, mas a arte não tem esses objetivos.

Também observamos na educação infantil a marcante presença da contação de histórias que, em alguns casos, é muito semelhante à leitura formal e desinteressante de um texto qualquer, desprovido de magia e encantamento. As danças e encenações teatrais, no geral, ficam restritas às datas comemorativas que, por sua vez, nem sempre trazem significado para a criança. Há tantas outras práticas desconectadas com o universo dos alunos, o fazer pelo fazer... Estaria a arte presente nessas práticas?

Buscar respostas a essas questões pode ser o início de uma conversa sobre os sentidos da arte na educação infantil. Segundo Ostento (2010), o educador é “essa pessoa chave para mediar os caminhos da criança no mundo simbólico da cultura, da arte. E nesse caminhar, na experiência compartilhada, ele vai aprendendo a reparar em seu ser poético. Seguindo de mãos dadas com as crianças e comprometido com o resgate de seu próprio eu-criador, o professor amplia sua possibilidade de compreendê-las, de reconhecer seus ‘despropósitos’ e apoiar suas buscas e escolhas. Converte-se, então, em parceiro privilegiado de novas e infinitas aventuras poéticas!”.

Qual seria então, o papel do professor ao trabalhar as várias linguagens da Arte na educação infantil?

Acredito que o papel do professor mediador é a de organizar o ambiente, promover situações problema, propostas e provocações estabelecendo correlação com a faixa etária das crianças. Essa postura docente é fundamental para criar um ambiente propício à criatividade e à expressão. A partir do momento que o educador entender que as crianças vivenciam e produzem cultura, que são seres ativos e sujeito de direitos, a prática docente tende a ser transformada e entendida como suporte, ponte, elo para novos saberes.

Criar e deixar criar

Holm (2007) afirma que “quando se trabalha com a primeira infância, arte não é algo que ocorra isoladamente. Ela engloba: controle corporal, coordenação, equilíbrio, motricidade, sentir, ver, ouvir, pensar, falar e ter segurança. E ter confiança para que a criança possa se movimentar e experimentar. E que ela retorne ao adulto, tenha contato e crie junto. O importante é ter um adulto por perto, coparticipando e não controlando.”.

Trabalhar com a arte na educação infantil é abraçar o mundo com o corpo todo! Para que isso ocorra, precisamos dar o direito da criança se expressar do jeito dela, com a estética que lhe é peculiar e de todas as formas possíveis. Quanto mais elementos artísticos o educador apresentar para as crianças, mais rica será a linguagem e a expressividade delas. Dançar, pintar, cantar e dramatizar, dentre outras formas de expressão humana, são linguagens. Portanto pensamento e cognição.

Criar e deixar criar talvez sejam caminhos ainda não percorridos por muitos, mas necessários e urgentes quando falamos de educação infantil e arte. Encontramos em muitas instituições de educação infantil um grande equívoco, que é a reprodução sistemática e estereotipada, a intervenção excessiva dos professores na busca pelo esteticamente correto, não respeitando a concepção estética da criança. Tais práticas reforçam e alicerçam a necessidade premente de ressignificar a prática docente.

A criança é um campo fértil para a criatividade e a imaginação e nós, muitas vezes sem intenção, subestimamos sua capacidade e impedimos o seu desenvolvimento estético cada vez que interferimos demasiadamente e direcionamos sua expressão artístico-criativa, sufocando as possibilidades de novos saberes. A mente humana é naturalmente investida de curiosidade, basta deixar a criação acontecer, sem modelos estereotipados, seja na dança, nas artes visuais, no teatro ou na música. Porém, sem esquecer-se do papel fundamental do professor, que deve ser o interlocutor, promotor e organizador do processo de criação. Papel que para desempenhar é necessário sair da zona de conforto, das atividades prontas e acabadas, da reprodução sistematizada e estéril, desprovida de intencionalidade e objetivos pedagógicos.

Para garantir oportunidades para a expressão viva da criança, precisamos considerar que “expressar não é responder a uma solicitação de alguém, mas mobilizar os sentidos em torno de algo significativo, dando outra forma ao percebido e vivido” (CUNHA, 1999), o que também é diferente de simplesmente “deixar fazer”, acreditando na chamada “livre expressão”. Para mobilizar os sentidos, é essencial o enriquecimento de experiências, promovendo encontros com diferentes linguagens, alimentando a imaginação para que meninos e meninas possam aventurar-se a ir além do habitual, à procura da própria voz e da sua poesia. (OSTETTO, 2010).

*Pedagoga, Pós-doutorado em Psicologia da Educação pela Universidade de Lisboa, Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Mestre em Educação, professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Faculdade de Educação, onde lidera o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Especial e Múltiplas Linguagens (GEPEMULT).

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