A cada atividade realizada pelo Projeto “A arte do Brincar”, com recursos da Lei Paulo Gustavo, como educadores que somos, temos consciência e acompanhamos as transformações que ocorrem no mundo globalizado, em especial na educação. Acompanhamos o crescimento dos movimentos e projetos que englobam a luta por uma educação de qualidade e direitos, combatendo toda forma de racismo, discriminação, preconceito e exclusão. Não podemos negar ou ignorar a complexidade, a relevância da pluralidade cultural que margeia a educação, que não se resume apenas ao saber ler e escrever.
Para tanto, nas atividades desenvolvidas para esse intuito, cuidamos para que não sejam excludentes e sabemos que devem ser cada vez mais relevantes, valorizando a pluralidade e a diversidade que atravessa os espaços pelos quais caminhamos, as comunidades que nos recebem, pois as mesmas não podem ser pensadas fora do conceito educacional e de identidade, forjadas pela ideia de reconhecer as diferenças, de fortalecer os elementos em comum que não se restringe apenas aos espaços de uso comum.
Temos atenção redobrada para que a criança, que o adolescente se sinta parte de um grupo e com ele possa trocar ideias, entender como as diferenças são construídas, o que os difere, o que os aproxima, e associamos a isso as brincadeiras, os jogos, o riso solto e muita gostosura.
As experiências que vivenciamos, estão também situadas nas experiências sociais, estão presentes na ressignificação do brincar, do aprender, na memória coletiva, nas relações estabelecidas e na aprendizagem sem tensões. Para nós educadores e integrantes do projeto, a memória coletiva que hoje construímos trará significado para as lembranças, para aquilo que se consideramos importante relembrar.
Quando visitamos a Comunidade indígena NUPORÃ, pela primeira vez, isso lá em meados de maio, levando o projeto, tivemos muitas surpresas. Fomos convidados a falar com os pais e mães das crianças e adolescentes que ali estavam, sobre a importância de frequentar a escola. Conhecemos o histórico da comunidade e junto das crianças, identificamos dificuldades pelas quais a comunidade passa, devido à falta de acesso as escolas, dificuldade em garantir vagas, efetivar matrículas e com o transporte.
Na atividade realizada em maio, envolvendo jogos, identificamos um excelente jogador de xadrez, uma garota imbatível no jogo da memória, um garoto de 7 anos ávido por aprender a jogar dominó, além de muitos outros que se destacaram na dama e demais jogos que exigiam concentração e atenção. Juntamente com as crianças que se mostraram interessados em aprender, despertamos o interesse das mães que ali estavam em aprender também.
Nessa segunda visita em 28/09/2024, nos propomos a trabalhar o cognitivo envolvendo a matemática, envolvendo conceitos de simetria (nos desenhos) e de sequências (na confecção de colares e pulseiras), e para isso, utilizamos de desenhos e grafismos, tanto corporal quanto na pintura em tela. Para tal intuito, tivemos o auxílio da Aline de Souza e do Nailson Gonçalves, que junto conosco foram até a comunidade NUPORÃ para realizar a atividade com as crianças e adolescentes. O resultado não poderia ser melhor. Enquanto Nailson trabalhou com os pequenos o grafismo corporal, Aline trabalhou com as telas. Paralelo a isso trabalhamos com as meninas e meninos a confecção de artesanato, como colares e pulseiras, utilizando sementes e linhas, conversando sobre as a importância do artesanato e de buscar os referenciais da cultura e das tradições indígenas. E com isso despertamos o interesse das mães que lá estavam e ouvimos muitos relatos de como era a vida junto de seus familiares antepassados, antes de chegar até a retomada. Para fechar a atividade, enquanto estávamos com as crianças, os adolescentes e as mulheres que ali se encontravam, Sandra preparava uma deliciosa galinhada, que foi servida e muito apreciada por todos, depois foram distribuídos saquinhos de doces para as crianças.
Reconhecemos que isso tudo só é possível em função dos recursos recebidos, via projeto aprovado, que proporciona chagarmos as comunidades e trabalhar o desenvolvimento cognitivo e a sociabilidade. São pequenos passos que nos orientam e nos mantém firmes no propósito da luta por uma educação inclusiva, de qualidade e que respeite a diversidade.
Certamente aqui lembramos aqui de Paulo Freire que nos ensina a conceber o acolhimento a partir do reconhecimento da criança, do adolescente, do ser humano em sua totalidade como sujeito de direito e importância de seu reconhecimento como agente participante na construção do seu percurso de formação. Assim, enquanto educadores defendemos que é importante respeitar a singularidade das crianças e adolescentes e acolher as famílias em suas diversas culturas, respeitando a diversidade étnico-racial, valorizando suas histórias e trajetórias, o que dá sentido para a educação como um todo, e não apenas do saber ler e escrever.