Cacique Renato afirma que invasões no entorno da aldeia não tem apoio de lideranças da Reserva. - Crédito: Foto: Hedio Fazan
O cacique guarani Renato Machado, uma das maiores lideranças da Reserva IndÃgena de Dourados, disse ontem em entrevista exclusiva ao O PROGRESSO, que as invasões de 14 áreas urbanas à s margens da Perimetral Norte, não representam a vontade das lideranças das Aldeias Bororó e Jaguapirú. "Ali tem professores de Amambai, diretora de escola, professores e servidores de universidade e até funcionário público que estão querendo apenas um terreno", denuncia Renato. "Minha preocupação é que essas invasões acabem provocando discriminação da sociedade douradense com os povos indÃgenas, mesmo porque convivemos pacificamente com a população e nunca invadimos terra de ninguém", completa Renato.Segundo ele, as invasões de sÃtios e pequenos lotes à s margens da Perimetral Norte não partiram da comunidade. "Pessoas de outras aldeias e funcionários de ONGs inventaram para algumas famÃlias que aquela terra era indÃgena e invadiram o local", denuncia o cacique. Ele ressalta que essas pessoas chegaram a procurar as lideranças das aldeias Jaguapirú e Bororó em busca de apoio para as ocupações, mas nenhum cacique quis se envolver com essas invasões. "A gente quer terra para produzir e a área que eles estão invadindo não serve nem para plantar mandioca", observa Renato Machado.
O cacique pondera ainda que os grupos que organizaram a invasão dos terrenos e das chácaras estão brigando por poder. "Eles não estão preocupados em ampliar as áreas produtivas da nossa Reserva IndÃgena, mas apenas em arrumar um lote para erguer suas casas", ressalta. "Deixei claro para eles que a falta de terra não será solucionada com invasão desses sÃtios, mas preferiram seguir mesmo assim com as ocupações de terrenos e sÃtios", explica. "Se você prestar atenção verá que os Ãndios que estão nessas áreas chegam de carro e têm estrutura para montar os barracos, mas não têm qualquer vocação para cultivar a terra porque são empregados em escolas, órgãos públicos e em ONGs", completa.
Renato Machado defende que a ampliação da Reserva IndÃgena de Dourados seja fruto de uma negociação entre o governo federal e os proprietários das áreas rurais existentes no entorno das aldeias. "O governo precisa saber quem está disposto a vender suas propriedades, comprar e assentar as famÃlias por critérios de integrantes e da vocação produtiva", sugere. "Também não adianta dar terra por dar, porque muita gente vendeu o que tinha na Reserva IndÃgena e agora reclama que não tem onde morar", alerta.
Ainda segundo Renato Machado, lideranças de outras ocupações na região de Dourados estão se infiltrando na Reserva IndÃgena para fumentar a ocupação dessas pequenas propriedades vizinhas à s aldeias. "Basta as autoridades identificarem cada uma delas para saber quem é da Reserva IndÃgena e quem veio de fora", sugere. "Por exemplo, professores indÃgenas são contratados de aldeias de outras cidades e quando chegam aqui passam a orientar essas ações", completa. "Fui chamado para participar desses atos, mas, mesmo passando por sessões de hemodiálise semanalmente e na fila para transplante de rim, prefiro cultivar a terra que tenho na aldeia e viver do que produzo", finaliza Renato Machado.