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Dourados tem 40 bocas de pó em aldeias

09 Jun 2011 - 09h00
Dourados tem 40 bocas de pó em aldeias -


DOURADOS - As aldeias de Dourados estão tomadas por cocaína e seus derivados. O PROGRESSO e o site Douradosagora apuraram durante dois meses que a Reserva tem pelo menos 40 bocas de pó espalhadas pelas aldeias Jaguapiru e Bororó. A informação é confirmada pelo Observatório de Direitos Indígenas e lideranças.

A comunidade toda sabe onde ficam estes locais de revenda de entorpecentes e vive amedrontada. Famílias, que já sofrem com a miséria, perdem tudo o que conseguiram através dos programas sociais, por causa da dívida das drogas, que só aumentam. As crianças, adolescentes e jovens são usados por traficantes como distribuidores. Disk entrega e outras formas de venda de drogas é fácil de se manter numa terra sem leis.

Os indígenas se sentem abandonados porque onde não há policiamento o “terreno” é livre para bandidos, que já fazem da Reserva o seu refúgio. É comum ver nas estradas da aldeia pessoas viciadas, alimentando o vício com todo o tipo de crime, principalmente no trabalho para traficantes índios e não-indios, que atuam na Reserva.

O PROGRESSO e o Douradosagora falaram com mães, lideranças e representantes da comunidade. Devido ao alto risco das ameaças que sofrem nas aldeias pediram para não terem o nome revelado.

Falta segurança efetiva, que há mais de dois anos não acontece nas aldeias. Por causa disso é comum o entra e sai de carros que chegam de toda a parte com pessoas em atitudes suspeitas, no início da noite. A partir das 18h o vai e vem destes veículos é constante.

De acordo com o coordenador regional do Observatório de Direitos Indígenas em Dourados, advogado Wilson de Mattos, a entidade denunciou ao Judiciário a problemática em que vivem as famílias.

Segundo ele, a característica da aldeia de Dourados é diferente do que acontece em Amambaí, por exemplo, onde os índios são usados apenas como “mulas”, denominação para quem faz o transporte da droga. Em Dourados, existe a denúncia de que a droga vem de laboratórios de fabricação no Paraguai. Existem entrepostos em Ponta Porã, que fazem a distribuição para Dourados.

A droga chega através da entrega dos revendedores ou da busca via bicicleta que indígenas fazem. O trabalho “formiguinha” seria da seguinte forma: um grupo chegaria de Ponta Porã e em determinado ponto da BR ou de estradas vicinais entrega a droga para outro grupo. O crack ou a cocaína pura chegam na reserva em pequenas quantidades. São distribuídas e vendidas aos usuários.

O dinheiro fácil, com venda rentável e sem fiscalização, virou uma forma de “fazer a vida” na aldeia. Segundo lideranças, até mesmo as crianças são usadas pelos traficantes. “Elas pegam a droga em pontos escondidos na reserva com sinalização em fita vermelha e já sabem para quem entregar”, comentou uma liderança, observando que alguns dos traficantes nem índios seriam, e sim refugiados vindos do Paraguai, especialmente para manter o comércio. Outros, abastecem a reserva com carros adulterados e com placas frias; veículos que são objeto do crime, vendidos com a finalidade de facilitar o transporte do tráfico na Reserva.


Os traficantes instalados na reserva tomam tudo o que os viciados têm. “Famílias inteiras tiveram que deixar as casas onde moravam para pagar a conta do tráfico. Eles vão deixando você comprar para depois, quando sua dívida estiver alta, eles se apropriarem dos bens do devedor”, explica um líder que não quis se identificar. Segundo ele, mais de 18 casas que seriam de um programa do governo estadual para as famílias indígenas já estariam na posse de dois principais traficantes da aldeia. “Eles expulsam o viciado da casa e alugam para outro”, explica, observando que para manter o vício, até mesmo a cesta básica é moeda de troca por drogas. “Quando não resta mais nada para trocar os índios começam a roubar, e matar por causa da droga”, diz.

De acordo com Wilson de Matos, o tráfico nas aldeias é resultado do abandono do Estado. Para ele, como os indígenas vivem em condições de miséria, sem uma política que resolva o problema, o que resta para eles é o caminho do tráfico, que é cada vez mais presente na aldeia por falta de repressão.

“O índio sempre teve suas ervas para uso medicinal e para rezas. O não índio é que o influenciou a atos maléficos em troca de dinheiro. Não é da cultura indígena esta atitude, e se ele fosse amparado com os direitos que tem não precisaria quebrar as regras de sua cultura. O mais velho sempre foi respeitado na aldeia, mas a interferência das drogas fazem com que os mais jovens se esqueçam disso”, lembra.

Segundo Wilson de Matos, hoje Dourados tem 43 indígenas presos por tráfico de drogas. Ele disse que os tipos de entorpecentes apreendidos são vários, mas a maioria derivada da cocaína. O Observatório já moveu várias ações, denunciando que este tipo de prisão é ilegal. “O índio na prisão aprende tudo o que é de ruim que o não índio pode influenciar. Além de serem vítimas do tráfico, a lei 6001 de 1973, no artigo 56, é clara quando diz que as penas devem ser diminuídas, se possível cumpridas em semi liberdade em locais próximos a entidades representantes da comunidade”, alega.


Wilson diz que os caminhos para tirar o índio desta condição é o amparo da União, junto com uma política de segurança permanente nas aldeias e mecanismos para que o índio possa se desenvolver e sobreviver no local onde mora. “O índio está sufocado. São quase 14 mil deles sem terra e espaço para plantar. É preciso qualificar os profissionais indígenas para que eles trabalhem para se sustentar. É isto que eles querem e precisam. O mercado de trabalho hoje ainda é fechado para a comunidade que apesar de terem diploma, não conseguem ser aceitos na área urbana por preconceito”, alega, observando que é possível conviver e conhecer a cultura do não índio sem influencias.

O PROGRESSO e o site Douradosagora também apuraram que por conta das drogas, a violência tomou conta da reserva e os casos de prostituição aumentam dia a dia. Alguns deles com o uso de adolescentes. Em outras situações os pais são obrigados a deixar as filhas trabalharem para pessoas que promovem a prostituição, por medo das ameaças. As denúncias que chegaram até a redação dão conta de que as adolescentes são retiradas das casas dos pais para pontos de “shows” nas aldeias.

Wilson disse que por conta dos transtornos causados pela entrada da droga na reserva, moveu uma ação na Justiça e conseguiu uma liminar para a segurança imediata na reserva, mas União e Fundação Nacional do Índio conseguiram derrubar a medida inicial assegurando que medidas seriam tomadas. Recentemente O PROGRESSO e site Douradosagora apuraram que a Polícia Federal de Brasília pretende realizar uma mega operação na reserva de Dourados nos próximos dias. (Valéria Araújo)

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