Os casos de furtos de alimentos vêm chamando a atenção pelo aumento desse tipo de crime em supermercados, não só em Dourados mas também em todo o país. Diante da crise econômica e social, afetada pela pandemia do novo coronavírus, a disparada da inflação tem gerado altas constantes nos preços dos alimentos. Alguns gêneros alimentícios, como a carne bovina, não são mais tão acessíveis para a população de baixa renda.
Dourados registrou três casos de furtos de alimentos em apenas uma semana neste mês de maio. No dia 18 de maio, conforme a Guarda Municipal, um homem de 50 anos foi preso acusado furtar três peças de queijo muçarela em um supermercado no Bairro Jardim Água Boa. No dia 20 de maio, a Guarda Municipal voltou a prender outra pessoa por furto de alimentos. Desta vez um homem de 48 anos teria sido flagrado em um supermercado localizado no Jardim Clímax tentando levar peças de carne - 1 quilo de coxão mole, 1 quilo de fraldinha, salame Italiano, bacon, linguiça - e chocolate, de acordo com a ocorrência.
Já no dia seguinte, um jovem de 26 anos foi detido também por guardas municipais de Dourados pela tentativa de furtar linguiça de Maracaju e pacotes de sucos em outro supermercado, localizado na Vila São Francisco. O jovem também é acusado pela prática de outros três furtos no estabelecimento.
Alta de casos
No último dia 18 de maio, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul divulgou um alerta para os casos de furtos de alimentos. Uma análise feita na cidade de Campo Grande mostra que no período de um ano 32 assistidos passaram por audiência de custódia por furto de alimentos na capital.
O levantamento foi elaborado pelo Núcleo Criminal (Nucrim). Conforme o coordenador, Gustavo Henrique Pinheiro Silva, “de março de 2021 a março de 2022 foram realizadas cerca de 3 mil audiências de custódia no Fórum de Campo Grande [...] 32 são relacionados a furtos de alimentos”.
“Embora não seja possível afirmar que houve uma elevação do número de ocorrências relativas a furtos de alimentos em relação aos anos anteriores - em especial porque as estatísticas compreendem o período de 2021 e 2022 (portanto, já durante as consequências econômicas decorrentes da pandemia) - os números levantados chamam a atenção e podem ser indicativos de que a crise financeira se faz notar, também, sob o aspecto dos furtos famélicos”, destaca o coordenador.
Ainda segundo o defensor, os números ainda representam uma fração deste tipo de furto, já que as situações envolvendo a tentativa de furto de alimentos muitas vezes são resolvidas no próprio estabelecimento, por meio de equipes de segurança, que acabam forçando o pagamento e liberando o acusado.
“Os números acendem um alerta, principalmente, porque as audiências de custódia que tiveram como pano de fundo os furtos de gêneros alimentícios acabam por representar 1 % do universo de casos criminais submetidos ao crivo judicial”, pontua o coordenador em entrevista veiculada pelo portal da Defensoria MS. “Em apenas 4 deles as pessoas declararam estar empregadas, enquanto os demais se dividem em desempregados ou pessoas em situação de rua”, concluiu.
Mistura
Segundo o defensor, o furto de carne (em especial carne bovina) chama a atenção dentre os furtos de gêneros alimentícios registrados. “Foi o mais comum entre os produtos, sendo que dos 32 casos, ao menos 20 deles tinham a carne como objeto envolvido”, conforme a Defensoria. “Na maioria dos casos analisados, as carnes sequer eram tidas como cortes mais ‘nobres’, ou seja, em algumas ocorrências envolviam ‘pescoço de frango’, ‘coração bovino’, ‘charque’, ‘coxão duro’, entre outros”, detalhou o coordenador.