
Áudios gravados pela jornalista Vanessa Ricarte antes de ser assassinada pelo ex-noivo Caio Nascimento, na última quarta-feira (12), em Campo Grande, contradizem o discurso das delegadas da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) sobre o atendimento que ela tentou receber horas antes do crime.
Nos registros, Vanessa relata descaso e erros graves no atendimento prestado na Casa da Mulher Brasileira. A jornalista buscou ajuda para obter proteção contra o ex-companheiro, que já possuía um longo histórico de violência doméstica. No entanto, assim como em muitos casos de feminicídio em Mato Grosso do Sul, a assistência não chegou a tempo.
Pouco antes de ser morta, Vanessa confidenciou a uma amiga que esperava retornar para casa com escolta policial para retirar Caio do imóvel. A proteção, no entanto, não foi concedida. Sozinha, ela foi brutalmente assassinada com três facadas pelo agressor.
O caso levanta questionamentos sobre a efetividade do sistema de proteção às mulheres vítimas de violência e reforça a urgência de melhorias nos protocolos de atendimento para evitar novas tragédias.
Leia o que disse Vanessa nos áudios:
Não aconteceu nada, porque assim, eu fui falar com a delegada, fui tentar explicar toda a situação e do jeito que ela me tratou também, bem prolixo, sabe? Bem fria, seca e ela toda hora me cortava assim, eu queria entender, quem que é essa pessoa? Vê o histórico da pessoa e falou para mim que não podia passar o histórico dele, mas que eu já sabia, porque ele mesmo tinha falado de agressões.Aí eu falei: "Não, que eu queria entender a natureza dessas agressões". Porque ele falou para mim que foi porque a mulher ameaçou a filha dele, enfim. Aí ela falou: "Não, você aí, você não vai falar, eu não vou, não posso te passar isso aí, é sigiloso, sigilo". Sim, parece que tudo protege o cara, né, o agressor. E aí ainda não foi nem mandado, tem que ter um mandado, né, judicial.
Então, hoje, por exemplo, não tem como ele assinar essa medida protetiva e passou aqui o telefone da oficial de justiça, né? Passou a senha do processo para eu ficar consultando. E do boletim de ocorrência, ela falou que não adianta acrescentar, porque não vai mudar muita coisa, porque já foi para o judiciário.
E ele tá aí me perguntando, se eu falo com você, seu pai conversa comigo, você não conversa nada. Eu falei, mas eu preciso voltar para a minha casa, preciso tomar banho, faz dois dias que eu não tomo banho, troco de roupa. Aí ela 'então vai para a sua casa, você já avisou ele, manda uma mensagem falando para deixar a casa'. Então assim, eles não entendem né, a dimensão do negócio. Porque ele já tinha falado para mim que só saía de casa com a polícia. Mas de qualquer forma, eu vou ter que ir lá na casa e vou falar com ele isso aí.Se ele falar que ele não vai sair, aí eu vou ter que acionar a polícia. Aí meus pais estão vindo, já vão brigar comigo, tudo porque [vão] falar que eu fui precipitada, que esse cara depois vai me matar e tal, não tem o que fazer, porque ele só vai preso se tiver flagrante. Por isso que ele não foi preso no caso da Leca, né? Ele fugiu do local do crime. Ele não tinha flagrante, não sei como que esse cara não foi preso depois.
E, eu tô aqui, pensando, raciocinando o que a gente pode fazer. E se for preciso, sei lá, aciona a doutora Cantes para ela acionar o MP, que é através do marido dela. Sei lá. É uma coisa desse sentido, é uma via que eu tenho, né?
E é isso, assim, eu tô bem, bem impactada com o atendimento da Casa da Mulher Brasileira, sabe? Eu que tenho toda a instrução, escolaridade, fui tratada dessa maneira, imagina uma pessoa, uma mulher vulnerável lá, pobrezinha, vamos dizer assim, chegar lá toda vulnerável sem ter uma rede de apoio nenhuma. Chegar lá, essas que são mortas, né?Essas que vão para estatística do feminicídio. E é isso. Eu tô esgotada mentalmente falando. Perdida, sabe? Tô decepcionada. Aí eu tô me sentindo culpada, porque eu fui registrar o BO hoje de madrugada. Sabe, não briga comigo.
É uma coisa assim que eu fiquei chateada com meu pai falando: "Não, esse cara pode pegar depois, você não sabe o que vai dar e tal, não sei o quê". Então, eu fazendo ou não fazendo pelo que você disse, né? Eu não fazendo ou fazendo o boletim de ocorrência, ele pode me agredir de qualquer maneira, né?
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