Manobras e negociações estranhas à prática polÃtica sempre existiram e certamente continuarão existindo, mas no Brasil a deturpação vem num crescendo preocupante até chegar a episódios mais recentes que produziram dois dos maiores escândalos, popularmente conhecidos como ‘mensalão’ e ‘petrolão’. Este último afetou a governabilidade nacional, dado o número e a posição dos envolvidos.
A presidente Dilma Roussef se viu extremamente fragilizada em vista de crises econômicas, problemas sociais e polÃticos que a deixaram sem condições de governar, de exercer plenamente o seu mandato. AÃ, afloraram no meio polÃtico e partidário de sustentação do governo manobras mesquinhas, traições e delações que potencializaram as dificuldades, agravadas com o processo de impeachment em andamento.
O PMDB, partido da base aliada e presidido pelo vice-presidente Michel Temer, iniciou estratégico afastamento, talvez antevendo a possibilidade de assumir o governo em caso de afastamento de Dilma, o que efetivamente aconteceu. O primeiro passo foi o lançamento de um programa nacional denominado Ponte para o Futuro, uma peça com viés oposicionista, sugerindo que o governo não tinha condições de apresentar propostas ao paÃs. PP, PSD e outros menores permaneceram pendurados nas tetas do governo até poucos dias antes da votação do impeachment, que ajudaram a referendar, e já negociavam cargos no futuro governo de Temer.
A Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, acabou por revelar casos estarrecedores envolvendo parlamentares, gestores públicos e integrantes do governo mancomunados com empreiteiras de obras e empresas que mantinham contratos com o governo e com a estatal. Nesse processo foram aceitas as deleções de diretores da Petrobras, de empresas investigadas e polÃticos, o que ampliou o número de denunciados, indiciados e até condenados.
Entre as delações a que mais expôs o lado espúrio dos polÃticos foi a de DelcÃdio do Amaral. Ex-diretor de estatais, ex-ministro e então senador e lÃder do governo foi preso por corrupção e promoveu ‘entregação’ geral. Seria de se imaginar que se sabia de todos os atos delatados e tivesse bom caráter teria denunciado à época dos acontecimentos, porém, só o fez na hora de salvar a própria pele.
Caso de traição explÃcita foi protagonizado por Sérgio Machado, ex-senador e ex-diretor da Braspetro. Propositalmente e com interesse escuso não teve o menor pudor em gravar conversas com polÃticos que o apoiaram na obtenção e manutenção de cargos, principalmente na presidência da empresa. Insidioso, levou os interlocutores e falarem o que não deviam e para completar a rasteira manobra, entregou as gravações para a mÃdia publicar e repercutir.
Em resumo, são esses os polÃticos que desvirtuam a essência da polÃtica e se valem dos cargos públicos para proveito próprio. São esses que reforçam o argumento de que o paÃs está precisando de importantes reformas, porém, a mais urgente e necessária é a reforma moral e ética. Não é fácil promovê-la porque depende do caráter dos polÃticos e os que aà estão já provaram que dificilmente se emendarão, pois como se diz, não há ex-corrupto...
Acredito que somente se chegará à depuração polÃtica com a renovação, com novas ideias, novos atores não contaminados. A busca desses envolve trazê-los à participação no cenário polÃtico. Todavia, sabe-se que a maioria dos cidadãos, especialmente a juventude, não participa porque tem essa visão negativa da polÃtica disseminada pelos maus polÃticos que precisam ser banidos através das urnas, a via democrática. Isto leva a outra constatação: a reforma moral e ética, tão necessária e urgente, depende também de quem vota...
Concluo com a frase de Ulysses Guimarães, lÃder polÃtico por excelência, dita há mais de vinte anos: "República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam".
Empresário, médico e professor. Foi Ministro da Saúde e Deputado Federal. e-mail: [email protected]