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Editorial

Prejuízos Bilionários

13 Ago 2016 - 09h00
Prejuízos Bilionários -
Depois de anos comemorando lucro fácil com empréstimos para os pequenos empreendedores, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou ontem prejuízo líquido de R$ 2,174 bilhões no primeiro semestre deste ano, resultado muito diferente do apurado no mesmo período do ano passado quando a instituição criada para fomentar o desenvolvimento lucrou R$ 3,51 bilhões. O banco, que tem uma inadimplência pequena, de apenas 1,38% do total de contratos, atribui o resultado negativo às despesas com provisões da carteira de crédito e repasses e da carteira de participações societárias, que atingiram a marca de R$ 9,59 bilhões no primeiro semestre de 2016, exatos R$ 7,95 bilhões a mais que os gastos no mesmo período do ano passado. Apenas o rebaixamento na nota de crédito do Brasil pelas agências internacionais em virtude da crise econômica nacional, causou despesas de R$ 4,44 bilhões nas provisões para risco de crédito e nem poderia ser diferente já que em dezembro de 2015 a inadimplência no BNDES era de apenas 0,02%. O resultado seria ainda pior se as intermediações financeiras não tivessem garantido R$ 12,235 bilhões apenas no primeiro semestre, valor 25,2% maior que o apurado no mesmo período de 2015.


No fundo, parte dos prejuízos de R$ 2,174 bilhões do BNDES deve-se à forma como o banco vinha sendo operacionalizado no governo do Partido dos Trabalhadores, servindo mais de instrumento para atender aos interesses de grupos que da própria economia. Tanto que as empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato tinham trânsito livre no BNDES a ponto de, juntas, as Camargo Corrêa, Odebrecht, Queiroz Galvão, Mendes Junior, Galvão Engenharia, OAS, Engevix e Iesa terem recebido financiamentos de R$ 2,4 bilhões entre 2003 e junho de 2014, em 2.481 operações realizadas em financiamentos indiretos automáticos. A maior fatia do bolo ficou com a Camargo Corrêa, que recebeu R$ 502,5 milhões por meio de 857 operações, ou seja, média de R$ 586,3 mil por empréstimo. Já a Odebrecht recebeu R$ 449,4 milhões do BNDES em 412 empréstimos, numa média R$ 1,1 milhão por operação junto ao mais importante banco público de fomento do país. A Queiroz Galvão conseguiu empréstimos de R$ 401,2 milhões junto ao BNDES em 619 operações, numa média de R$ 648,2 mil por operação, enquanto a UTC contraiu financiamentos no valor de R$ 134,2 milhões, por meio de 410 operações, numa média de R$ 327,3 mil.


De maneira indireta e automática, a Mendes Junior levantou empréstimos de R$ 56,1 milhões em 89 operações junto ao BNDES, enquanto a Galvão Engenharia obteve R$ 39,8 milhões em 50 operações, OAS conseguiu R$ 18,1 milhões em 16 operações, a Engevix levantou R$ 9,6 milhões em 12 operações e a Iesa conseguiu seis financiamentos no valor total de R$ 971,5 mil. Ainda que não haja qualquer irregularidade em tomar dinheiro emprestado junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social, o que causa estranheza é a soma de R$ 2,4 bilhões durante o governo petista, mesmo porque as empresas comuns encontram dificuldades gigantescas para levantar qualquer financiamento no banco estatal, sobretudo por meio de operações indiretas não automáticas, onde é necessária aprovação prévia do BNDES para créditos com valor mínimo de R$ 20 milhões. A questão é: como pode um banco que passou ano contando vantagens de lucros bilionários, agora apresentar um balanço com prejuízo de mais de R$ 2 bilhões, justamente num período em que os demais bancos revelam balanços altamente lucrativos?


Já que está no vermelho, o BNDES poderia aproveitar para explicar à sociedade os critérios pelos quais autorizou mais de três mil empréstimos para obras em outros países desde que o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder, fazendo com que os repasses do Tesouro Federal à instituição de fomento saltasse de R$ 9,9 bilhões em 2003, quando estava em 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) para R$ 414 bilhões em 2015, ou seja, 8,4% do PIB. O mesmo país que sofre com todo tipo de deficiência na sua infraestrutura portuária, aeroviária e rodoviária financia portos, estradas e ferrovias em dezenas de países ao redor do mundo. A Odebrecht é uma das principais construtoras beneficiadas com financiamento para obras no exterior, como mais de R$ 2 bilhões para construir o Porto de Mariel, em Cuba; R$ 750 milhões para construir a usina hidrelétrica de San Francisco, no Equador; R$ 270 milhões e quase R$ 1 bilhão para obras da usina hidroelétrica de Chaglla, no Peru, entre tantos outros.

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