A história é farta em demonstrar que o radicalismo político e social, seja ele de esquerda ou de direita, não interessa à humanidade. Mais prejudica do que ajuda.
O extremismo é uma forma de se visualizar parcialmente o objeto de conhecimento. É como se o mundo não fosse constituído de múltiplas facetas. É ignorar por completo a perspectiva pluralista das coisas, em especial do homem e de suas ideias.
O jargão "nós e eles", muito utilizado na campanha da reeleição de Dilma, que se autoidentifica de esquerda, também pode ser usado, com o mesmo viés, pela direita radical. A verdade é privilégio do "nós". Quem conhece e pode diagnosticar o desejo da humanidade e inclusive oferecer-lhe a solução justa e adequada somos "Nós". "Eles", ao contrário, são do mal, só querem a desgraça dos outros. Esse discurso é muito usado pela esquerda radical e nos últimos tempos também foi incorporado à cultura do radicalismo de direita.
Foi justamente o radicalismo nazista que levou Hitler ao cometimento de bárbaros crimes contra a humanidade (genocídio), conhecido por Holocausto e que vitimou cerca de seis milhões de judeus, o que maculou negativamente a história da primeira metade do século 20.
O debate, inclusive ideológico, é salutar, porque é dos confrontos de ideias que surgem conclusões que podem ajudar a compreender melhor o mundo e torná-lo melhor em prol da sociedade como um todo. Não se nega que também se podem aproveitar iniciativas positivas pontuais de qualquer desses extremos, desde que não as radicalizem. A discussão polarizada, entretanto, em nada contribui em face das ideias preconcebidas. Ora, quem se dispõe a dialogar, não pode se intitular o dono da verdade.
O radical, seja de que lado for, em face da sua prepotência e arrogância, intitula-se o dono da verdade, como se fosse o único capaz de apresentar soluções, esquecendo-se do ensinamento de que "ninguém é dono de todo saber" (Humberto Queiroz). Ainda mais fazendo-se vistas grossas ao ensinamento do filósofo quando diz: "Não quero que pense como eu, só quero que pense".
A corrupção, tema que vem cotidianamente ocupando espaço na imprensa e que, entre nós, se acentuou a partir do "Mensalão", operação "Lava Jato", "Custo Brasil", "Boca Livre", entre outras, acabou embaraçando a conceituação de "nós e eles". Anteriormente "eles" é que eram corruptos. A ética e exemplo de políticos republicanos era "propriedade exclusiva do "nós".
Esse contexto todo comprova que as virtudes e os defeitos são uma "septicemia" que se estende a todos. Aquelas para o bem e estas para o mau.
É uma pena que o bom senso não prevaleça.
Procurador de Justiça aposentado. Advogado. Mestre em Direito Penal pela UNESP. Professor universitário. e-mail: [email protected]