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Cláudio Felisoni de Angelo

O que se pode mirar no horizonte

13 Jul 2016 - 06h00
O que se pode mirar no horizonte -
Diz o dito popular que "não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe". Nada mais verdadeiro. A teoria dos ciclos econômicos, explorada magnificamente pela escola austríaca, entre outras, ensina que o crescimento baseado em condições artificiais, como, por exemplo, o aumento da oferta de crédito, sem condições efetivas de sustentação, gera um aumento da produção que não pode ser amparada no decorrer do tempo. E, abusando um pouco da sabedoria popular, uma situação similar a esta pode ser definida como um "voo de galinha".


O mercado de consumo, a comercialização de bens e serviços e o varejo sofreram expansão vigorosa nos últimos anos. De meados de 2004 até o final de 2013, as vendas do comércio quase dobraram em termos reais. É verdade que um ambiente internacional favorável, com certos solavancos pelo caminho, e uma situação macroeconômica interna igualmente propícia explicam os ventos soprados contra as velas acolhedoras das empresas varejistas. E o resultado não podia ser outro.


Os ventos, entretanto, têm um movimento caótico. Suas mudanças são incontroláveis. Mas, as velas, felizmente, estas sim, são razoavelmente controláveis. A textura do imbricado tecido que dá forma à economia deve se ajustar a esses movimentos. A vela, porém, só para em pé graças ao mastro. É ele quem as sustenta e permite que se abram e, assim, impulsionem a embarcação de modo perene e seguro. Sem ele, o mastro, firmemente posicionado, o barco rodopia com os panos desfraldados sem nenhuma direção. No contexto varejista, os mastros são os investimentos, que, por sua vez, dão a direção a seguir. No Brasil, a participação dos investimentos no Produto Interno Bruto (PIB) não só é baixa, como também, a partir do segundo trimestre de 2013, é decrescente. Os indicadores de competitividade internacional não deixam dúvida da desvantagem brasileira a esse respeito.


É neste cenário que, hoje, duas perguntas são feitas e insistentemente repetidas por muitos: quando o barco vai parar de rodopiar? Quantas pessoas indagam sobre como a mudança do Governo Federal poderá ajudar neste processo? Ambas, obviamente, não são nada simples até mesmo porque tudo depende do ambiente dentro do próprio barco. Espaço surpreendido pelas ondas imprevisíveis e avassaladoras da operação Lava Jato.
Recentemente, o capitão e seus timoneiros comemoraram a aprovação do fantástico déficit orçamentário de R$ 170,5 bilhões. Pode-se comparar esta notícia com aquela situação do indivíduo colocado diante de suas dores. Isso foi feito e isso é bom, mas a própria aceitação das causas das dores não foi uma tarefa fácil. Pode-se imaginar agora como será para administrar os medicamentos (visivelmente) amargos. A verdade é que a nova queda de braços ainda não começou.


Por outro lado, não se pode esquecer que a redução das despesas públicas não será substituída facilmente pelas forças do setor privado, fragilizado em larga medida por sua inadequação competitiva. Em que pese a redução esperada das taxas de juros, com o arrefecimento das pressões inflacionárias, o custo do dinheiro continuará muito alto. Por essas razões, ainda que os embarcados se entendam – e o que por certo exigirá tempo e a superação de grandes incertezas – a retomada do produto e do emprego será lenta, muito lenta. Os tempos de vacas gordas ficaram para trás. E, neste contexto, pode-se dizer que o reaquecimento das vendas no mercado interno acontecerá, mas sem antes salientar que não há nenhuma ilha paradisíaca ainda à vista.


É presidente do IBEVAR e professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e-mail: www.ibevar.org.br

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