O mercado de consumo, a comercialização de bens e serviços e o varejo sofreram expansão vigorosa nos últimos anos. De meados de 2004 até o final de 2013, as vendas do comércio quase dobraram em termos reais. É verdade que um ambiente internacional favorável, com certos solavancos pelo caminho, e uma situação macroeconômica interna igualmente propÃcia explicam os ventos soprados contra as velas acolhedoras das empresas varejistas. E o resultado não podia ser outro.
Os ventos, entretanto, têm um movimento caótico. Suas mudanças são incontroláveis. Mas, as velas, felizmente, estas sim, são razoavelmente controláveis. A textura do imbricado tecido que dá forma à economia deve se ajustar a esses movimentos. A vela, porém, só para em pé graças ao mastro. É ele quem as sustenta e permite que se abram e, assim, impulsionem a embarcação de modo perene e seguro. Sem ele, o mastro, firmemente posicionado, o barco rodopia com os panos desfraldados sem nenhuma direção. No contexto varejista, os mastros são os investimentos, que, por sua vez, dão a direção a seguir. No Brasil, a participação dos investimentos no Produto Interno Bruto (PIB) não só é baixa, como também, a partir do segundo trimestre de 2013, é decrescente. Os indicadores de competitividade internacional não deixam dúvida da desvantagem brasileira a esse respeito.
É neste cenário que, hoje, duas perguntas são feitas e insistentemente repetidas por muitos: quando o barco vai parar de rodopiar? Quantas pessoas indagam sobre como a mudança do Governo Federal poderá ajudar neste processo? Ambas, obviamente, não são nada simples até mesmo porque tudo depende do ambiente dentro do próprio barco. Espaço surpreendido pelas ondas imprevisÃveis e avassaladoras da operação Lava Jato.
Recentemente, o capitão e seus timoneiros comemoraram a aprovação do fantástico déficit orçamentário de R$ 170,5 bilhões. Pode-se comparar esta notÃcia com aquela situação do indivÃduo colocado diante de suas dores. Isso foi feito e isso é bom, mas a própria aceitação das causas das dores não foi uma tarefa fácil. Pode-se imaginar agora como será para administrar os medicamentos (visivelmente) amargos. A verdade é que a nova queda de braços ainda não começou.
Por outro lado, não se pode esquecer que a redução das despesas públicas não será substituÃda facilmente pelas forças do setor privado, fragilizado em larga medida por sua inadequação competitiva. Em que pese a redução esperada das taxas de juros, com o arrefecimento das pressões inflacionárias, o custo do dinheiro continuará muito alto. Por essas razões, ainda que os embarcados se entendam – e o que por certo exigirá tempo e a superação de grandes incertezas – a retomada do produto e do emprego será lenta, muito lenta. Os tempos de vacas gordas ficaram para trás. E, neste contexto, pode-se dizer que o reaquecimento das vendas no mercado interno acontecerá, mas sem antes salientar que não há nenhuma ilha paradisÃaca ainda à vista.
É presidente do IBEVAR e professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e-mail: www.ibevar.org.br