Essa reprovação na capital sul-mato-grossense, pelos dados que se extrai do aludido instituto de pesquisa, vem subindo em escala/progressão geométrica, de 21,87% em 2014 para 76,22% em 2015 e em março/16 supera os 80%. Não bastasse, apenas 8,5% aprovam o governo Dilma. A pesquisa não indica, mas é provável que esses menos de 9% de aprovação venham do seu próprio partido, do PC do B – seu aliado incondicional – e de alguns "gatos pingados" levados por questões meramente ideológicas.
O desembarque do PMDB, seguido pelo PP, PR e PSD, se concretizado, empurrado pela pressão das ruas, do governo Dilma, é o retrato do fim dessa gestão e está sendo definido como "efeito manada". E isso leva a previsão de que "sem o PMDB a queda de Dilma é quase certa" – Celso Rocha de Barros (Folha de S. Paulo, A5. 28.3.16).
Os argumentos dos integrantes dos partidos da base do governo que estão pulando fora do barco é o de que eles não têm vocação suicida e consequentemente não vão morrer abraçados com um governo que se esvaiu e não tem nenhuma perspectiva de salvação. Daà a razão de se afirmar que a última terça-feira (29.3) seria o "Dia D" do Planalto. O que se concretizou com a decisão por aclamação do Diretório Nacional de abandonar o barco.
De fato, o governo Dilma está falido e o pior disso tudo é que não há esperança ou perspectiva de recuperação. O barco está à deriva. O cenário é desolador. Mas a culpa é sempre dos outros: da oposição e da Operação Lava Jato. Imagine se de fato existisse uma oposição aguerrida nesse paÃs!
Próprio de se tentar escamotear a própria incompetência e encontrar culpados foi o discurso de Lula ao afirmar para as centrais sindicais (em ato pró-governo na Paulista no dia 18.3) e posteriormente repetido em entrevista para a imprensa estrangeira, que a culpa pela situação do paÃs se deve à ação irresponsável do juiz Sérgio Moro e da Operação Lava Jato, o que é uma completa inversão de valores. A propósito, não bastassem as vozes das ruas, o ministro Celso de Mello, do STF, em recente entrevista, destacou que aludida operação "tem por finalidade expurgar a corrupção que tomou conta do governo e de poderosÃssimas empresas brasileiras...". O vilão mudou de nome: Joaquim Barbosa passou o bastão a Sérgio Moro.
O que abalou a economia e a sociedade brasileira foi o cenário de incertezas em que vivemos. "Não há credibilidade nesse governo" (Alencar Buriti, presidente da Associação Comercial de São Paulo – Folha de S. Paulo, A3, 27.3).
O quadro é tão caótico que o abandono do barco não é só de partidos da base, mas também de prefeitos do PT, a exemplo do que ocorreu com Paulo Duarte, de Corumbá-MS, dos prefeitos de Niterói-RJ, Paraty-RJ e São Pedro da Aldeia - RJ. O que, com certeza, vai refletir nas próximas eleições municipais.
Esse cenário polÃtico veio se agravar mais ainda com o impeachment em curso na Câmara Federal, corroborado pelo novo pedido protocolado pela OAB nacional, na segunda-feira (28.3), que incluiu como fundamento, entre outros, a delação premiada do senador DelcÃdio do Amaral. Mas o governo insiste em taxá-lo de "golpe", não obstante a contestação abalizada dos ministros Celso de Mello, Dias Toffoli, LuÃs Barroso, entre outros, pois está previsto na Constituição Federal.
O paÃs, na sua esmagadora maioria, não suporta mais o quadro em que se encontra. A renúncia da presidente Dilma (e que ela insiste que não haverá) talvez fosse o caminho menos traumatizante para solucionar esse impasse que atormenta todos.
Com renúncia/impeachment, tudo indica que o titanic afundou. A preocupação é com o dia seguinte. O contexto vai exigir muita competência, equilÃbrio e sensatez para a condução do paÃs. De um lado porque terá que consertar o barco que está em frangalhos, e, de outro, como o próprio PT já sinalizou, porque enfrentará uma oposição ferrenha com protestos.
Procurador de Justiça aposentado. Advogado. Mestre em Direito Penal pela UNESP. Professor universitário. e-mail: [email protected]