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Davi Roballo

Novos costumes suplantando velhos hábitos

25 Fev 2016 - 10h06
Novos costumes suplantando velhos hábitos -
Davi Roballo

Atualmente sinto-me atrasado, deslocado ante os novos costumes ou descostumes, já que tive uma educação centrada no respeito e hierarquia familiar. Lembro-me o que representavam e representam as imagens de meus avós, pais, tios e irmãos mais velhos, imagens de autoridades com um misto de algo sagrado, que provocavam e ainda provocam um determinado fascínio e respeito.


A questão do pedir benção aos parentes atualmente é algo démodé, porque o afastamento gradativo das questões afetivas tirou a mística que ocorria em pedir benção aos pais, ou seja, aquela sensação de estar protegido, de ser amado. Algo que nos parecia fundamental na vida, pois sem essa benção o mundo parecia mais vazio, algo parecia estar faltando, por isso antes de irmos para a escola pedíamos a benção, a mística de proteção pelo caminho, e ao chegarmos, para reforçar a certeza de sermos amados. Para dormir, a benção servia como segurança contra os pesadelos e ao acordar, para termos certeza de pertencermos à família.


Atualmente o convívio com os integrantes familiares, como pais, avós, tios e primos, não é mais tão presente na vida de uma criança como fora em tempos idos. Isso se deve a um maior preenchimento de nosso tempo aplicado ao trabalho, como também às mudanças residenciais por partes da família em busca de novos horizontes inseridos geralmente em questões profissionais, estabelecendo-se em outras cidades, reduzindo assim a integração familiar, pressionados pela distância.


Estamos tão errados correndo contra o tempo em busca de uma estabilização financeira para velhice, que não estamos nos conscientizando de que a questão econômica não vale nada ante a solidão e ao abandono. Há muito, sábios e escritores nos alertam que o maior investimento que podemos realizar em vida, e principalmente no auge dela, é nos laços afetivos, na integração dos vínculos familiares, como faziam mais seriamente nossos antepassados até há pouco tempo.


Na história humana, em tempo algum projetamos tanto nossas frustrações nos próprios filhos, como estamos projetando atualmente, isto é, forçando-os a realizarem-se naquilo que fraquejamos levados pela pressão do mercado, que por sua vez é um tentáculo do sistema de consumo, que desconsidera o que temos de humanidade e nos joga num rol de incertezas insaciáveis.


O sacrifício de nosso tempo por sua vez nos faz confundir o conceito primordial de liberdade ao não impor limites aos filhos. Isso ocorre porque encontramo-nos mergulhados, tomados por um amor próprio descabido e fora de um nível de equilíbrio. Estamos esquecendo o essencial da constituição da família que é, segundo a sabedoria popular, amar os entes como eles são e não como desejamos que sejam.


O desafio para não sucumbirmos ante os apelos desse mundo competitivo, e não afundarmos em seu lodo que constitui esse caos social em que estamos vivenciando, está, creio, em percebermos que o bem mais precioso está diante de nossos olhos, sob o mesmo teto, e não nos convites colocados estrategicamente a cada esquina para desviar nossa atenção daquilo que nos é fundamental. E isso tudo começa dentro de casa no culto aos valores e na autoridade constituída e não na autoridade desvirtuada.


Jornalista, especialista em Comunicação e Marketing / Especialista em Jornalismo Político. e-mail: [email protected]

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