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Opinião

Cristina Mussury: Joga fora! A banalização da maternidade

03 Mai 2011 - 09h02
Cristina Mussury: Joga fora!  A banalização da maternidade -


#Joga fora! A banalização da maternidade

######Cristina Mussury*

O segundo domingo de maio é carregado de simbologia. O primeiro Dia das Mães brasileiro foi promovido pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre, no dia 12 de maio de 1918. Em 1932, o presidente Getúlio Vargas oficializou a data. Como é o próxima dia comemorativo, o comércio, as escolas, a publicidade já começam a abordar o assunto. O que no passado era carregado de metáforas apaixonantes, com a expressão do sentimento mais profundo do verdadeiro amor, hoje se apresenta de forma fria e cruel nos noticiários nacionais.

Grandes nomes já usaram a maternidade como inspiração. Recitaram, cantaram ou narraram essa relação forte, íntima, profunda e com sentimentos tão contraditórios como a relação mãe/filho.

Talvez na expressão contraditório esteja a justificativa para as barbáries que foram apresentadas nos primeiros meses desse ano. A maternidade que era algo tão sublime, perfeito e encantador se torna banal e brutal, repetidamente, nos mais diversos locais, bebês são jogados fora. Vejamos alguns casos divulgados: Recém nascido foi abandonado dentro de um saco plástico e encontrado por um pedreiro, jogado pela mãe em 19/02 no córrego da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.

Um feto de aproximadamente sete meses foi encontrado na tarde de 10/03 às margens da rodovia Guaicurus em Dourados/MS, próximo ao Hospital Universitário. A Polícia Civil do Mato Grosso do Sul identificou na terça-feira 12/04 a mãe de um recém-nascido abandonado no terminal rodoviário de Campo Grande. Agentes da Polícia Militar encontraram na manhã de 13/04 um bebê de duas semanas abandonado entre caixas de papelão no Ipiranga, sudeste de São Paulo. Um bebê foi jogado em uma caçamba de lixo em 18/04 na Praia Grande, litoral de São Paulo, pela própria mãe. Recém-nascido abandonado na última terça-feira 26/04 na lixeira do banheiro de um hospital em Jundiaí/SP. Em 27/04 no bairro do Tucuruvi, na Zona Norte de São Paulo outra criança foi deixada dentro de uma sacola no quintal de uma casa.

A expressão \'jogar fora\' tem uma relação histórica com o lixo. Este \'fora\' tinha o significado de fora de casa; nas ruas, em área pública. Isto porque na Europa, durante a Idade Média e parte da Idade Moderna o lixo era jogado fora \'de casa\', nas ruas, de forma indiscriminada e junto jogadas as fezes e urinas. Na época não havia coleta ordenada deste lixo, que então era revirado por todos os tipos de animais que vagavam pelas ruas.

Só jogamos fora o que desprezamos, sem valor, aquilo que não tem mais serventia, descartável, sujo, tudo aquilo que nos causa problema. Para uma mãe jogar um filho fora deve ter nele uma grande infelicidade.

Segundo especialistas, existe explicação para este tipo de comportamento por conta da pressão psicológica que as pessoas têm, como o desemprego, a vida nos grandes centros, a imaturidade, falta de apoio religioso, ausência de estrutura famliar e o desprezo a vida, a morte se tornando rotineira, se vulgarizando nos noticiários.

Mas infelizmente, apesar dos fatos demonstrarem que o abandono está se tornando banal, na verdade é a vida que está perdendo o sentido, estamos falando do desrespeito a vidas humanas. Inconcebível tratarmos bebês como algo descartável, a vida tem um sentido muito maior do que o simples existir.

A maternidade, seja ela desejada ou não, deve ser respeitada e os pais devem ter a consciência que ela pode ser evitada, então nada justifica o comportamento de desprezo, abandono e até o assassinato de um recém-nascido.
A procriação e o nascimento são coisas imortais num ser mortal. Platão.

A autora é servidora pública municipal,Professora, bacharel em Comunicação Social habilitada em Relações Públicas e pós-graduada
em Gestão de Recursos Humanos.


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